Aviso aos navegantes

Este blog é apenas uma voz que clama no deserto deste mundo dolorosamente atribulado; há outros e em muitos países. Sua mensagem é simples, porém sutil. É uma espécie de flecha literária lançada ao acaso, mas é guiada por mãos superiores às nossas. À você cabe saber separar o joio do trigo...

31 de agosto de 2013

O que estamos buscando?


Já que ninguém se manifestou para subir, eu vou tentar compartilhar um pouquinho, das vivências aqui, das percepções, não é? do momento. Sei lá! O que vier! Uma das coisas que eu já tenho muito em mente é que a mensagem, a transmissão da percepção, do momento, não pode ser organizada. Se eu começar a organizar, se eu tentar me preocupar em expressar alguma coisa já é o próprio fortalecimento do eu, é o próprio fortalecimento do ego, que pode até sair muito bonito, mas não vai tocar de coração pra coração; pode soar bonito e tocar de intelecto pra intelecto. Mas, o que funciona mesmo é essa reverberação, essa coisa que vem sem ser organizada e que surge quando se dá espaço pra essa consciência que somos, se manifestar, sem se preocupar em ficar buscando na memória a coisa; a coisa flui naturalmente, não é? A coisa flui naturalmente. E a gente vem aí tentar trocar o porquê dessa sala, o porquê desses encontros, e o que a gente está conseguindo vivenciar e às vezes a gente entra um pouco no processo histórico dessa personagem de algumas décadas, e o que se está percebendo.

Achei esse tema muito interessante, nós extraímos ele de um livro, que não precisaria nem abrir o livro; era só ficar na capa desse livre do Krishnamurti, não é? “O que estamos buscando?”... O nome do livro é esse... é “O que estamos buscando?”, não é? Por que começamos a buscar alguma coisa, não é? Por que, não é?

Eu percebo que é assim: esse é um vício herdado, é um vício “transgeracional”, não é? Essa busca que você vai ser alguma coisa, ou que você vai encontrar a felicidade quando lá na frente você vir a ser alguma coisa ou vir a ter alguma coisa, não é? Todos aqui já devem ter perguntado para uma criança, como, quando criança, com certeza ouviram de algum adulto significativo, aquela pergunta: “o que você vai ser quando crescer?” não é?... “O que você vai ser?” Quer dizer: você não é! Você não é nada agora!... Só lá na frente, lá num futuro longínquo, não é? se você adotar umas letrinhas na frente do seu nome, com um quadrinho pendurado na parede, com uma estampilhazinha numa moldura, aí você vai ser alguma coisa, não é? Se você conseguir a casa da praia, a casa de campo, as viagens pela Europa e blá-blá-blá, blá-blá-blá, aí você vai ser alguma coisa, não é? E aí a gente sai partido atrás das coisas que esses adultos adulterados, com a sua educação, com a sua chamada educação adulterada, vão apontando, como fatores a serem conquistados e que prometem por felicidade; e que prometem pôr respeitabilidade; e que prometem por segurança. E aí lá vai aqui o garoto, cheio de medo, cheio de vergonha, cheio de sentimentos de inadequação, conseguidos aí dentro de um lar disfuncional, de muita repressão emocional, física, verbal, temendo o ambiente de alcoolismo e neurose; de ambientes escolares também profundamente neuróticos, onde não há a mínima expressão de uma educação psíquica, de uma educação amorosa, e eu saio correndo atrás dessas coisas que me colocaram como sendo válidas pra buscar, sem ter a mínima possibilidade de fazer qualquer questionamento quanto a esses posicionamentos aí; quanto a essas condições que foram colocadas pro freguês aqui, pra que ele fosse um homem de verdade, pra que ele fosse um homem de sucesso, pra que ele fosse um homem respeitado.

Então assim: não houve muita opção de escolhas; “É fazer ou fazer!... E engole o choro! Certo?... Engole o choro!... Vai atrás aí! Se vira nos trinta! Porque se não fizer desse jeito vai para o reformatório, certo?”... “Vai pro reformatório! Nós vamos botar você na forma aí! Não vem com essa rebeldia, ai!”

Então, aí, como você não é um adulto ainda; como você não tem nenhuma inteligência psíquica, capaz de te proporcionar aí uma autonomia psicológica, você fica nessa mendicância, da aceitação, dos tapinhas nas costas, não é? dessas pessoas significativas da sua vida. Mesmo que isso que você está fazendo para ter aceitação, “condicionada”, e que eles chamam de amor, você se estrumbique todo, se arrebente todo, se corrompa todo. Porque, corrupção, não é só passar dinheiro embaixo da mesa; corrupção é fazer tudo aquilo que fere, que contraria o seu mais íntimo estado de ser, não é?

Então, durante anos e anos, foi um processo de auto-corrupção, de auto-sabotagem aí, por querer fazer frente a essas descabidas exigências de uma estrutura familiar e social profundamente adulterada, profundamente corruptora da essência do ser que somos; que mata toda a sensibilidade; que arrebenta toda a originalidade; que estrangula toda a autenticidade.

Então, assim, você fica exposto por algumas décadas aí; pelo menos uma década e meia à esse tipo de ambiente abusivo, à esse tipo de estrutura social abusiva, limitante, que só quer fazer você ser uma peça consumista; que só quer fazer você “funcionar”, você ser um “funcionário” de sistema que faz você só uma peça para alimentar esse sistema, que não está nem um pouquinho preocupado em fazer sair essa inteligência que está aí; e trazer seu sopro; e traze sua voz; e trazer a sua nota; não tem nada disso... É uma estrutura que é só puro ajustamento a um processo tremendamente escravagista, limitante e que aqueles que não foram totalmente adulterados em sua sensibilidade, é óbvio que vão sentir uma dor muito forte e vão precisar de algum processo de anestesiar a esses sentimentos; de anestesiar essa dor dessa corrupção transgeracional; essa corrupção da essência daquilo que somos, pra nos ajustar àquilo que dizem que temos que ser, não é?

Então a gente sai aí durante muito tempo buscando tudo isso, pra ter essa respeitabilidade, pra ter essa aceitação, pra ter essa validação, pra ter esse seu cantinho, não é? onde você possa mostrar pros outros que você está sendo um homem de sucesso; que você merece respeito; que você merece ser convidado pros almoços de domingo. E todo mundo entra nesse joguinho!... Profundamente descontente!... Porque quando começa a tocar música do “Fantástico”, no domingo, todo mundo sabe muito bem aquela depressão que bate e tem que correr pra geladeira, abrir e comer alguma coisa, um chocolatinho, um docinho, um salgadinho, porque lá vem a segunda-feira, não é na cara? Com a mesma rotina, o mesmo tedio, a mesma insatisfação e aquele esforço violento, com os dentes “branco de laboratório químico”, pra disfarçar que eu sou um cara feliz, que eu sou um cara ajustado, não é cara?...

Essa aí foi minha história até que veio a depressão! E eu agradeço profundamente e, toda vez que vejo alguém com depressão eu estico a mão e dou os meus parabéns: “Você é uma bem-aventurado!”... Porque a depressão não é nada mais, nada menos, de um grito dessa inteligência psíquica, dessa inteligência que somos, dizendo: “Chega!... Chega!... Chega!... Não dá mais para se ajustar ao que não é ajustável!... Ou você faz o resgate daquilo que você é, ou eu te mato!”
Então, assim: pra mim, esse processo brecou com essa depressão profunda que quase me levou ao suicídio; por muito pouco não cheguei ao suicídio; que era uma compreensão errada da necessidade de um “egocídio” aí, que vem, sem esforço, que vem por esse processo do início de uma educação psíquica, e que cada um começa ter essa educação psíquica dentro dos ambientes que vão encontrando aí; dentro dos ambientes que vão encontrado. A minha educação psíquica começou dentro de um centro espírita, que foi o primeiro lugar que eu comecei a contrariar o processo nefasto do cristianismo que me foi apresentado; veja bem: do cristianismo que me foi apresentado; não estou falando mal contra o cristianismo, não. E aí começou todo um processo: encontrei os grupos anônimos, não é? A quem eu sou profundamente grato; em cada grupo anônimo que eu fiz parte, foi uma oficina aí de trabalho, pra colocar esses instintos naturais que nos foram dadas aí pela Grande Vida, que estavam totalmente deturpados pela ação dos condicionamentos... desse egocentrismo aí. Então, cada oficina aí foi trabalhando numa questão aí; e essas questões que me levaram a esses grupos, num determinado momento, elas foram sanadas, só que aí ficou um grande vazio, porque esse processo, esse processo de bê-á-bá psíquico, essa educação psíquica que a gente começa a colher em todas essas escolas aí; acredito que todas essas escolas que a gente foi passando aí — cada um sabe por onde passou — elas vão tirando esses condicionamentos materialistas, mas elas criam os condicionamentos espiritualistas, que às vezes são profundamente impossíveis — pelo menos pro freguês aqui, não era palpável, não é possível, não é possível. Quer dizer: eu troco uma imagem e vou pra uma imagem espiritualista e saio buscando isso daí.

Então, chegou um momento que essa busca também não estava funcional; não estava mais surtindo resultado; e foi aí que caiu na mão esse material aí, com, inicialmente, o Osho e depois com Krishnamurti. Houve antes de Krishnamurti, houve um período legal com o Osho e depois quando caiu Krishnamurti, aí a coisa começou a descer redondo... E ele começou a quebrar todos esses condicionamentos que eu também fui colhendo dentro dessa chamada busca da verdade, dessa chamada busca do despertar; que na realidade eu não estava buscando nada disso! Não estava tendo busca da verdade coisa nenhuma! Não estava tendo a busca da espiritualidade coisa nenhuma! O que ocorria é que havia um estado de profunda contradição interna, em tudo! Em tudo! Nas
nas relações; no cotidiano; na profissão... Em tudo!... Do freguês com o freguês mesmo!... Então, o que tinha aqui era uma busca pra desabafar aquele profundo estado de contradição. Foi sempre isso! Sempre procurando alguém pra me dizer como fazer pra sair daquele estado de conflito... Sempre foi isso! Não tinha esse negócio de correr atrás da verdade!

E aí eu percebo que essa coisa de buscar um Deus, aqui pro freguês, foi na realidade a tentativa de achar alguma coisa que pudesse tirar aquela dor que os humanos em volta de mim, por mais boa vontade que tivessem, tinham a sua limitação e não conseguiam expressar aquilo. Sabe aquela coisa que o poeta fala, não é? “Ninguém está me dizendo que eu quero ouvir; e ninguém também está entendendo que eu estou querendo dizer!” E aí, quando cai esse material do Krishnamurti, começo a perceber a realidade de como usei esses ambientes como uma fuga; como usei essas imagens, essas ideias de Deus, esses conceitos, esses achismos, todo esse material metafísico, esotérico, de auto-ajuda, simplesmente para tentar acabar com a dor e manter as zonas de conforto... E manter as zonas de conforto sem questioná-las. Só que é bem o que eu falei no encontro de ontem, não é? Krishnamurti não vem trazer paz pra ninguém, não! Não vem mesmo! Como nenhum homem aí que tenha tido uma percepção, como a verdade, não é? Porque não é o homem, não é a personalidade, mas essa Consciência que está ali, naquele veiculozinho de carnê e osso ali, ele não vem trazer paz, ele vem trazer a espada mesmo! Vem cortar aí, tudo o que é falso! Vem cortar tudo que é falso! E o que é difícil é justamente isso: esse processo de autoconhecimento, começa apresentar a falência de tudo o que foi montado durante décadas, em nome de encontrar essa respeitabilidade; e aí você começa a olhar a “natureza exata” de cada uma dessas relações, e começa a ver que cada uma dessas relações não foram montadas na base sólida do amor: foram sempre montadas em cima da busca da satisfação de algum instinto degenerado... É o instinto degenerado de segurança; o extinto degenerado do sexo; do companheirismo; do medo da solidão e do abandono; da facilitação diante da vida material... E aí você não sabe o que fazer com tudo isso, porque você começa a ver a grande fraude — a grande fraude — que é essa personalidade que seguiu um script social, que foi escrito por quem ele nem sabe quem escreveu isso... Então fica muito difícil olhar pra isso; e só os sérios mesmo, aqueles que tem saco roxo, vão conseguir olhar isso, de uma maneira como um cientista: sem entrar naquelas ideias reativas que o próprio pensamento cria. Porque o pensamento, ele também vai pegar tudo isso que a Consciência está trazendo à consciência, para criar conflito, para criar aquelas reações inconscientes inconsequentes, então chutar o pau da barraca de tudo! E não é bem isso a proposta! Pelo menos da minha compreensão aqui, na compreensão do freguês aqui; qualquer a ação que seja desse ego, desse fundo, pode trazer um alívio momentâneo, mas traz mais confusão ainda! Enquanto qualquer movimentação foi por essa base — a base é a confusão — o resultado vai ser confuso. Isso a gente foi vendo aí nessa caminhada e tem visto o quanto realmente é difícil ficar só sentado observando, porque pra mente lógica, cartesiana, racional, que foi condicionada a resolver problemas, a criar problemas e resolver problemas, a ter algum tipo de ação, “você tem que se doar”, “você precisa exercitar”, “você precisa e isso”, “você precisa fazer caridade”... Que é uma puta sacanagem, não é cara?... Você é usar o cara que está mais ferrado, para tentar tampar seus buraco aí, pela falta de competência de compreender a si mesmo, não é? É uma puta sacanagem esse negócio de caridade, não é cara?... Que criança esperança essa daí, não é cara?

Então, assim: hoje, fica bem claro, que o lance é só observar; só observar... Não é? Não buscar mais absolutamente nada! É um momento muito difícil também você se deparar, não é? Porque é frustra inclusiva essa ideia de “iluminação”. Frustra tudo! Esse material frustra tudo isso aí! Frustra toda a imagem que é criada; é tudo imagem! Até a imagem da iluminação, do que a eliminação pode trazer pra mim, do que o encontro com a verdade pode trazer pra mim. Na realidade, não se está querendo nada de um encontro com a verdade; só cá parar de sofrer, não é cara? Mas quero parar de sofrer, de novo colocando o resultado nas mãos de terceiros; só que agora o terceiro espiritual aí, é uma entidade aí. Quando você se depara com esses materiais tão claros que apontam a falência disso, a grande maioria não tem estrutura pra ficar com isso; porque não aprendeu a ficar com isso, não é? Não aprendeu a ficar nesse processo de autonomia psicológico, de sentar, não é? E observar!

E é isso que a gente vem fazendo; e é isso que essa sala vem apresentando; que esse material vem apresentando pro freguês aqui: uma capacidade de percepção nunca antes se quer imaginada; uma capacidade de ficar com o que é, nunca antes sequer imaginada; uma capacidade de não ter mais a necessidade de dar a última palavra; de não ter mais a necessidade de ficar entrando em controvérsias com aquele confradezinho que está ali totalmente identificado com esse processo de criar confusão, de querer vomitar o próprio estado interno de contradição, criando mais contradição, contaminando mais com contradição.

Então, hoje, o lance, é bem uma frase que a Deca gosta muito de falar aqui: “tempo de silêncio e solidão”... Está doendo? Faça uso dessa poderosa ferramenta que lhe foi dada pela Grande Vida: a bunda pra sentar numa cadeira; os dois cotovelos pra segurar a cabeça e observe o que está rolando. E, se você for sério, algo vai ser revelado!

Então é isso aí gente! Um fraterabraço pra vocês, obrigado pela escuta atenta!

Outsider44

Nós, adultos adulterados adulterantes




Nós, adultos adulterados adulterantes

... Psicológico aí, que foi colocado na nossa cabeça aí  e que fica esse acúmulo de memória, esse que é o problema. Então a gente vem aí com esse grupo, vem estudando como é que foi o processo de condicionamento nosso; a gente perceber esses condicionamentos e também não transferir esses condicionamentos como um adulto adulterante. Na observação desses condicionamentos, fica fácil de percebê-los e de não transferir de forma inconsciente e inconsequente — que foi exatamente o que acabou ocorrendo como esses, com essas pessoas significativas de nossa vida, que tentarão dar o melhor delas para nós, mas que não tinham consciência de que muito do que eles achavam que era educação, era na realidade abuso.

Nós ouvimos agora experiência do Luiz, com essa honestidade emocional e a gente percebeu: o outro está acreditando que está nos incentivando, quando na verdade, muitas vezes é abuso. Então, muito do que foi passado como educação, era um processo de abuso, que fragmenta; quero nos enche dessa vergonha tóxica que acaba contaminando tudo na nossa vida, não é?

Então, quando a gente está falando e a gente acaba citando algumas pessoas significativas da nossa vida, não é com o sentido, não é? — de criar aí uma caça às bruxas, ou satanizar essas pessoas. Não é nada disso! Até porque, eu hoje quando olho  em volta, eu percebo que a grande maioria dessas pessoas, desses adultos adulterados adulterantes, que foram pessoas psicologicamente significativas na minha vida, elas nem sequer chegaram a ter a possibilidade de se perceberem como pessoas adulteradas, profundamente adulteradas, que vieram de famílias muito mais disfuncionais, que vieram de eras e ambientes muito mais disfuncionais.

Então, quando a gente cita isso, é pra quem sabe facilitar a percepção, não é? O entendimento e, quem sabe, com essa identificação, um confrade sobe aqui e traz mais alguma coisa, e a gente consiga perceber mais uma parte desse processo, não é?

A gente costuma — eu tenho procurado dar o nome — só pra gente conversar, porque não há a ideia de organização nisso, mas, eu tenho dado o nome de “pensamentose descentralizante, não é? “Ose” quer dizer “doença”, então, a doença do pensamento (psicológico condicionado) que nos descentralizou; que nos descentraliza; que nos tira o foco; que nos tira o “sopro” (que nos habita e no qual somos); que nos tira o ritmo; que nos tirar a sensibilidade; que nos tirar esse senso de pertencer; que cria essa ilusão de separatividade, não é?

Então, a gente vem aí com esse grupo tentando traçar assim esse “processo”, como numa doença. Uma doença é caracterizada pelos sintomas de incubação, não é? os sintomas de manifestação, e a partir do momento que você vê isso há um processo de retomada de consciência — de cura. Esse material todo que está aí, ele aponta justamente para um “processo de resgate dá consciência que somos”; ele aponta pra isso; ele aponta pra percepção desses condicionamentos. O que a gente vem falando, é que é um processo “ego-conhecimento”: a gente vai nesse processo de ego-conhecimento, ou seja, conhecendo as manifestações desse “ego”, a maneira como que ele funciona e, através disso, quem sabe, a gente tem essa experiência de autoconhecimento, ou seja, conhecer aquilo que realmente somos e não aquilo pelo qual nós somos criados para acreditar que somos: esse personagem, não é? De um script aí, muito maluco.

Então, é isso aí gente! Eu vou me despedindo de vocês aí, deixando um forte abraço fraterno aí pra vocês; chutes nas canelas bem fortes aí, para vocês pularem bastante aí, e ver se cai dos ossos, os possíveis condicionamentos que estão impedido de ver e de sentir aí, o que que vem a ser a verdadeira liberdade de espírito humano. Está bom, gente? Beijo no coração de todos e vou colocar uma música que da Mariza monte aqui, pra vocês aí, “tá bom?” Beijão aí!

Outsider

A verdade não lhe pertence, nem a mim

Você não pode achar a verdade por intermédio de ninguém. Como o pode? A verdade, de certo, não é uma coisa estática; não tem morada fixa; não é um fim, um alvo. Pelo contrário, é viva, dinâmica, ativa, cheia de vitalidade. Como pode ser um fim? Se a verdade fosse um ponto fixo, não seria a verdade; seria mera opinião. Senhor, a verdade é o desconhecido, e a mente que procura a verdade a verdade nunca a achará. Porque a mente está constituída do conhecido, é resultado do passado, produto do tempo — e isso pode observar por si mesmo. A mente é o instrumento do conhecido e, por consequência, não pode achar o desconhecido; só pode mover-se do conhecido para o conhecido. Quando a mente procura a verdade, a verdade que leu nos livros, essa “verdade” é uma auto-projeção; porque em tal caso, a mente apenas está em busca do conhecido, um conhecido mais agradável do que o anterior. Quando a mente procura a verdade, está em procura de sua própria projeção, e não da verdade. Afinal de contas, todo ideal é auto-projeção; é fictício, irreal. O que existe é o que é, e o oposto não existe. Mas uma mente que busca a realidade, que busca a Deus, está em busca do conhecido. Quando você pensa em Deus, seu Deus é “projeção” do seu próprio pensamento, resultado de influências sociais. Só se pode pensar no conhecido; você não pode pensar no desconhecido; não pode se concentrar na verdade. No momento em que pensa no desconhecido, ele não é mais que o conhecido, de você mesmo projetado. Assim, Deus, ou a verdade, não podem ser pensados. Se você pensa nela, não é a verdade. A verdade não pode ser procurada; ela vem a nós. Só podemos procurar o que é conhecido. Quando a mente não é torturada pelo conhecido, pelos efeitos do conhecido, só então a verdade pode revelar-se. A verdade se encontra em cada folha, em cada lágrima; ela tem de ser conhecida de momento a momento. Ninguém pode lhe levar à verdade; e se alguém lhe guia, só pode levar-lhe ao conhecido.

A verdade só pode manifestar-se na mente que está livre do conhecido. Ela surge num estado em que o conhecido está ausente, não funciona. A mente é o depósito do conhecido, o resíduo do conhecido; e para que a mente esteja naquele estado no qual o desconhecido se manifesta, tem de estar cônscia de si mesma, de suas experiências anteriores, tanto conscientes como inconscientes, das suas respostas, reações, da sua estrutura. Quando há autoconhecimento completo, o conhecimento termina, e a mente fica completamente vazia do conhecido. Só então a verdade pode vir até você, sem ter sido chamada. A verdade não lhe pertence, nem a mim. Não podemos adorá-la. No momento em que a conhecemos, ela é irreal. O símbolo não é real, a imagem não é real; mas quando há compreensão do “eu”, desaparecimento do “eu”, desponta então a eternidade.

Jiddu Krishnamurti — O que estamos buscando?     



O aguçamento da percepção pelo observar da dor



Breve relato sobre a adicção livresca por conhecimento

Percepções sobre experiência, achismo e autoafirmação

Pode haver uma mente eterna?

Por que, inicialmente, a mensagem de K soa abstrata?

A empatia chega com a honestidade emocional

Sendo apenas um instrumento da mensagem

Sobre o entrave das palavras

27 de agosto de 2013

Sobre a urgência do autoconhecimento


Texto lido:

Rasgando o intelectual pacote de certezas emprestadas


Texto lido:

Percebendo as ilusões da mente


É possível a total libertação do eu?




Texto lido:


Que raio é que me impede de viver?



Texto lido:
http://pensarcompulsivo.blogspot.com.br/2013/08/o-entrave-da-cortina-de-palavras-do.html

26 de agosto de 2013

A experiência do abençoado estado

Todo pensamento e sentimento se desvaneceram deixando o cérebro imóvel e quieto... Desperto e sensível, o cérebro observava tudo sem reagir, sem experimentar; embora livre ainda de qualquer movimento interno, não estava insensibilizado ou drogado pela memória. De repente, a sublime presença daquela coisa singular sem impunha com toda a sua força, não apenas no mundo exterior, mas também nos mais íntimos recessos daquilo que antes fizera parte da mente. O pensamento tem seus limites, resultantes da reação; todo e qualquer motivo serve de molde ao pensamento e ao sentimento; a experiência vem do passado e o reconhecimento é sempre do conhecido. Mas, aquele abençoado estado não deixava marcas, pois sua forte, nítida e impenetrável presença tinha a intensidade da chama sem cinzas. O êxtase que vinha dali não deixava vestígios na memória, porquanto não havia o ato de experimentar. Ele simplesmente existia, em total liberdade, alheio à busca e às lembranças.
Não existe a possibilidade de o passado encontrar-se com o incognoscível; nada os poderia reunir; nenhuma ponte ou caminho nos permitirão conhecer aquela desconhecida benção. Jamais se deu o encontro de ambos, pois o passado deve simplesmente findar para que se revele o grandioso mistério daquela coisa singular.  

Jiddu Krishnamurti — 23 de janeiro de 1962


A experiência do abençoado estado

Todo pensamento e sentimento se desvaneceram deixando o cérebro imóvel e quieto... Desperto e sensível, o cérebro observava tudo sem reagir, sem experimentar; embora livre ainda de qualquer movimento interno, não estava insensibilizado ou drogado pela memória. De repente, a sublime presença daquela coisa singular sem impunha com toda a sua força, não apenas no mundo exterior, mas também nos mais íntimos recessos daquilo que antes fizera parte da mente. O pensamento tem seus limites, resultantes da reação; todo e qualquer motivo serve de molde ao pensamento e ao sentimento; a experiência vem do passado e o reconhecimento é sempre do conhecido. Mas, aquele abençoado estado não deixava marcas, pois sua forte, nítida e impenetrável presença tinha a intensidade da chama sem cinzas. O êxtase que vinha dali não deixava vestígios na memória, porquanto não havia o ato de experimentar. Ele simplesmente existia, em total liberdade, alheio à busca e às lembranças.
Não existe a possibilidade de o passado encontrar-se com o incognoscível; nada os poderia reunir; nenhuma ponte ou caminho nos permitirão conhecer aquela desconhecida benção. Jamais se deu o encontro de ambos, pois o passado deve simplesmente findar para que se revele o grandioso mistério daquela coisa singular.  

Jiddu Krishnamurti — 23 de janeiro de 1962


25 de agosto de 2013

O entrave da “cortina de palavras” do intelecto

Pergunta: Você diz que, para haver compreensão, a mente, a memória e o processo do pensamento precisam desaparecer; todavia, você está nos comunicando algo. O que você diz representa experiência de algo do passado, ou o experimenta no momento em que o comunica?

Krishnamurti: Quando é que vocês se comunicam? Quando é que comunicam ao outro a experiência de vocês? Depois de ter tido a experiência, e não no momento do experimentar. A comunicação não é mais do que um resultado anterior. Precisam da memória, das palavras, dos gestos, para transmitir uma experiência que tiveram. A comunicação de vocês é, pois, a expressão de uma experiência já terminada.

Ora, quando é que compreendem, quando é que há compreensão? Não sei se já notaram que só há compreensão quando a mente está muito quieta, ainda que seja por um segundo; dá-se o lampejo da compreensão quando não há verbalização do pensamento. Experimentem e verão que terão o clarão da compreensão, aquela extraordinária rapidez da intuição, quando a mente está muito tranquila, quando o pensamento está ausente, e quando a mente não está cheia de barulho por ela mesma produzido. Nessas condições, a compreensão de qualquer coisa — de um quadro moderno, de uma criança, de sua esposa ou seu vizinho — ou a compreensão da verdade, que está em todas as coisas, só pode despontar quando a mente está muito tranquila. Mas tal tranquilidade não pode ser cultivada, porquanto, se cultivam a mente para a tranquilidade, não terão uma mente tranquila, mas sim, uma mente morta.

É essencial ter-se uma mente tranquila, a fim de compreender-se, o que é bastante óbvio para aqueles que já experimentaram tudo isso. Quanto mais se interessarem por alguma coisa, quanto maior a intenção de compreender, tanto mais simples, clara e livre estará a mente. Cessa, então, a verbalização. Afinal de contas, o pensamento é palavra, e a palavra é que perturba. É “a cortina de palavras, a memória, que se interpõe entre o desafio e a “resposta”. É a palavra que está respondendo ao desafio, o que chamamos intelectualização. Assim sendo, a mente que vive a tagarelar, a verbalizar, não pode compreender a verdade — a verdade nas relações, não é uma verdade abstrata. Não existe verdade abstrata. Mas a verdade é muito sutil. É a sua sutilidade que é difícil seguir. A verdade não é abstrata. Ela nos vem súbita, às escuras, e por isso a mente não a pode reter. Como um ladrão, nas sombras da noite, ela vem às escuras, e não quando preparamos para recebê-la. A recepção de vocês não é mais do que um convite da avidez. Assim, pois, uma mente que está presa na rede das palavras, não pode compreender a Verdade.

A segunda questão é a seguinte: Não é possível comunicar a experiência no momento do experimentar? Para a comunicação, necessita-se da memória “factual”. Quando falo a vocês, emprego palavras, as quais vocês e eu compreendemos. A memória é resultado do cultivo da faculdade de aprender e armazenar palavras.

Deseja saber o interrogante como é possível haver uma mente que não expresse ou comunique simplesmente um fato depois de passado, depois da experiência, mas, sim, que seja capaz de experimentar e ao mesmo tempo comunicar a experiência. Isto é, uma mente nova, uma mente fresca, uma mente que experimenta  sem a interferência da memória, da memória do passado. Vejamos, pois, primeiro, a dificuldade aqui existente.

Como já disse, em geral, nós comunicamos depois da experiência; por conseguinte, a comunicação se torna um obstáculo a novas experiências; porque a comunicação, a verbalização, só tem o efeito de fortalecer a lembrança daquela experiência. E esse fortalecer da lembrança de uma experiência impede-nos de receber livremente a próxima experiência. Comunicamos uma experiência, ou para fortalecê-la ou para a retermos. Nós a verbalizamos, a fim de fixa-la como lembrança, ou para comunica-la. O próprio fixar de uma experiência pela verbalização representa o fortalecimento de uma experiência já terminada. O que se fortifica, por conseguinte, é a memória; e, por isso, é a memória que faz frente ao desafio. Em tal estado, no qual a resposta ao desafio é puramente verbal, a experiência do passado se torna um obstáculo. Nessas condições, a nossa dificuldade consiste em experimentar e comunicar, sem que a verbalização constitua um obstáculo a novas experiências.

Se em todas estas discussões e palestras, eu me limitasse a repetir a experiência do passado isso não somente seria terrivelmente enfadonho para vocês e para mim, mas também iria fortalecer o passado e, portanto, impedir o “experimentar” no presente. O que, com efeito, se dá é que a “experiência” se processa simultaneamente com a sua comunicação. A comunicação não é verbalização, não é o vestir a experiência. Se vestimos a experiência, se lhe colocamos uma vestimenta, se a moldamos, perder-se-á o seu perfume e a sua profundeza. Só pode haver, portanto, uma mente fresca, uma mente nova, quando o experimentar não é revestido de palavras. E no expressar verbalmente a experiência existe o perigo de a vestir, dar-lhe forma e figura e, portanto, de carregar a mente com a imagem, com o símbolo. Só é possível ter-se uma mente nova, uma mente fresca, quando não é a palavra que importa, mas a experiência. Esse experimentar, se dá momento por momento. Não pode haver “experimentar”, se isso se torna um processo acumulativo, porquanto, em tal caso, é a acumulação que experimenta, e não existe o experimentar. Só há experimentar, momento por momento, quando há acumulação. A verbalização é acumulação. É extremamente difícil e árduo expressar e ao mesmo tempo não nos deixarmos prender na rede das palavras.

A mente é, afinal, de contas, o resultado do passado, de ontem. E aquilo que não está subordinado ao tempo não pode ser seguido pelo tempo. A mente não pode seguir aquilo que é extraordinariamente veloz, que não está no espaço, nem no tempo, mas naquele estado da mente em que há o experimentar, em que não há “vir a ser”, em que tudo é novo. É a palavra que faz velho “o que é”. É a memória de ontem que veste o presente. E para se compreender o presente, é necessário o experimentar. Mas o experimentar é impedido quando a palavra se torna de suma importância. Nessas condições, só há uma mente nova, uma mente que está a experimentar continuamente, sem moldar nem ser moldada pela experiência, quando a palavra, o passado não é utilizado como meio de “vir a ser”.

Jiddu Krishnamurti — O que te fará feliz?

24 de agosto de 2013

É possível a total libertação do "eu"?

Pergunta: Parece-me que no momento em que entra em cena o “eu”, apresenta-se um problema. Esse “eu” coloca-se então a trabalhar para resolver o problema, e isso é absurdo. Não é o próprio “eu” o único problema?

Krishnamurti: Sim, senhor, evidentemente. Enquanto há um centro, há uma periferia, que é o tempo psicológico. E a questão é: em face das caóticas exigências criadas pelo “eu” — minha pátria, minha religião, minha família, meu seguro, minha hipoteca, meu isto e meu aquilo  — exigências em que está enredado todo o ente humano, é possível viver neste mundo e eliminar o “eu”, não teoricamente, porém realmente, assim como se extirpa um câncer? É possível viver num dado país, exercer um emprego, ter esposa, marido, filhos, ter uma casa, e ao mesmo tempo não ter nenhum centro? Percorrer alegremente a vida toda e livre da dor — é possível isso?

(...) O hábito é, essencialmente, um feixe de “memórias”, ou seja o “eu”.

Ora, é possível, vivendo neste mundo, abandonar completamente esse feixe? Mais uma vez, peço-lhes que não digam que é ou não é possível. Vocês têm que investigar, têm que estar cônscios dele, têm que penetrá-lo — não movidos pelo desespero, nem pela esperança de acabar com ele, mas simplesmente com o fim de descobri-lo. Eu digo que isso pode e deve ser feito, pois, do contrário, nossa vida continua muito sórdida. Vocês podem ser capazes de escrever poesias, podem ser um homem famoso, exercer um cargo importante, possuir uma bela casa, uma esposa encantadora, filhos talentosos, etc. etc.; mas, enquanto não estiverem libertados do “eu”, continuarão dentro da prisão construída pelo homem, incapaz de irem além.

(...) Pergunta: Quando não há “eu”, que é isso que olha escuta?

Krishnamurti: Veja, isso já é uma questão teórica. Quando morrem para tudo o que conhecem, quando para vocês já não existe ontem nem amanhã, nem o presente no sentido de tempo psicológico, que existe então? Como posso responder-lhes? Verbalmente, posso dizer-lhes que existe algo imenso, algo extraordinariamente vivo; mas isso nada lhes significará. A meu ver, a questão real é esta: É possível eliminar o “eu”? Se a examinarem profundamente, vocês mesmos responderão à pergunta.  

Pergunta: Estou contaminado pela sociedade. Como poderei livrar-me dessa contaminação?

Krishnamurti: Ora, a questão não é de como se libertarem dessa contaminação, porque, assim, apenas criam outro conflito, outro problema. O “eu” não está contaminado pela sociedade; ele próprio é a contaminação. O “eu” é uma coisa que se formou pelo conflito, pela inveja, pela ambição e o desejo de poder, pela agonia, o sentimento de culpa, o desespero. E é possível o “eu” dissolver-se sem conflito?

Isso não são questões teóricas ou teológicas. Se uma pessoa tem sério interesse em compreender a si própria, verá que todo esforço para dissolver o “eu” tem motivo; resulta de uma reação e, por conseguinte, faz parte ainda do “eu”. Que se pode fazer, então? Pode-se ver o fato e nada fazer em relação a ele. O fato é que todo pensamento, todo sentimento é resultado da sociedade, com suas ambições, sua inveja, sua avidez; e esse processo inteiro é o “eu”. O próprio ato de perceber inteiramente esse processo constitui a sua dissolução; não se precisa fazer esforço nenhum para dissolvê-lo. Perceber uma coisa venenosa é deixar de tocá-la.   

(...) Pergunta: Depois de nos “esvaziarmos” do “eu”, que há para preencher a mente?

Krishnamurti: Como posso responder-lhe? Primeiro, trate de “esvaziar” a mente e, depois, você descobrirá o que há. Não só você, pessoalmente, senhor: todos nós. Esta é uma questão de interesse geral. Temos muito medo do vazio e desejamos preenche-lo. Temos medo de nossa esgotante solidão, e procuramos fugir dela. É o fugir que gera o medo; mas o fugir nos coloca ativos e, por isso, quando fugimos, pensamos que estamos muito positivos. Quando tiverem compreendido essa solidão, depois de atravessá-la e ultrapassá-la, descobrirão por si mesmos o que  quando o “eu” já não existe. Mas, como em tudo mais, senhor, devem começar pelo vazio. A taça só é útil quando vazia. Mas, para compreender esse vazio, é preciso atravessá-lo num clarão, por assim dizer, e lançar a base correta. Então, vocês saberão; nunca mais perguntarão o que  além daquele vazio.

Ouvinte: Então, por certo, o significado da vida é este: a taça deve ser útil.

Krishnamurti: A taça só pode ser útil quando vazia. Vocês podem então enchê-la com o que gostam. Mas se a taça de vocês está cheia — cheia de sofrimento, aflição, conflito — que utilidade ela tem? Senhor, que utilidade tem nossa vida, tal como é: competição, guerras, conflitos internacionais, divisão entre Oriente e Ocidente, entre esta e aquela religião? Que utilidade tem isso?

Interpelante: Você não me entendeu bem. Ao dizer “a taça dever ser útil”, eu quis dizer que a finalidade da vida é cumprir a vontade de Deus.

Krishnamurti: Todo político, todo negociante, todo general preparador de guerras, fala sobre “a vontade de Deus”. O comunista também fala da “vontade de Deus”, mas no seu caso se trata da “vontade do Estado”, etc. etc. Que é a “vontade de Deus”? Só poderão averiguar isso quando já não estiverem buscando, já não estiverem pedindo, quando já não pertencerem a nenhum grupo separado, quando já não tiverem medo, quando se acharem num estado de completa incerteza — que não significa demência. Nesse estado, o pensamento já não busca um pouso seguro. Então, talvez, aquilo que se pode chamar “Deus” — ou outro nome qualquer — começará a atuar.  

Jiddu Krishnamurti — O homem e seus desejos em conflito 


Desfrutando da abstinência de crises

23 de agosto de 2013

Sobre a egóica necessidade de obter validação

É possível viver sem se sentir perturbado?

A vida não oferece segurança alguma

A raiva é arma de troxa

Observando o processo da raiva

Um novo olhar sobre nossa vida passada

Observando nosso vício de buscar por meios de fuga

Sobre os efeitos do medo de ficar só

Por que nossa ação é sempre auto-protetora?

Na esfera do ego à espera do Real



21 de agosto de 2013

Um novo olhar sobre nossa vida passada

Observando nosso vício de buscar por meios de fuga

Sobre os efeitos do medo de ficar só

Por que nossa ação é sempre auto-protetora?

Na esfera do ego à espera do Real

O pensamento sempre quer enraizar-se

Como não ter solidão quando se é um fragmento?

O orgulho é o ego manifesto

Valores finitos não matam a sede do Infnito

O vazio é inerente à todo ser humano

O sentimento de solidão e isolamento

Estar só é estar aberto para o outro

Pode o estado criativo ser fruto da mente?

Fugir da solidão é fugir do medo

Sobre as várias fugas da solidão

Por que a ânsia de falar de Krishnamurti?

A solidão social e a mente tagarela

Raiva


A raiva tem essa qualidade peculiar de isolamento; como a tristeza, ela isola o indivíduo, e durante esse tempo, pelo menos, todo o relacionamento acaba. A raiva tem a força e a vitalidade temporária do isolado. Há um estranho desespero na raiva; pois isolamento é desespero. A raiva da decepção, do ciúme, da ânsia de ferir, dá um alívio violento cujo prazer é a auto-justificação. Nós censuramos os outros e essa mesma censura é a justificação de nós mesmos. Sem algum tipo de postura, seja de auto-virtuosismo ou auto-degradação, o que somos? Usamos de todos os meios para nos apoiar; e a raiva, assim como o ódio, é um dos modos mais fáceis. A raiva simples, um acesso repentino que é rapidamente esquecido, é uma coisa; mas a raiva que é deliberadamente construída, que foi fermentada e que busca machucar e destruir, é algo inteiramente diferente. A raiva simples pode ter uma causa psicológica passível de ser percebida e remediada; mas a raiva como resultado inerente a uma causa psicológica é muito sutil e difícil de lidar. A maioria de nós não sem importa de sentir raiva, nós encontramos uma desculpa para isso. Por que não devemos ficar zangados quando há maus-tratos a terceiros ou a nós mesmos? Desse modo, nos tornamos justificadamente zangados. Nunca dizemos apenas que estamos zangados e paramos aí; entramos em elaboradas explicações para sua causa. Jamais dizemos que estamos com ciúme ou amargos, mas o justificamos ou explicamos. Perguntamos como pode existir amor sem ciúme, ou dizemos que as ações de outra pessoa nos fizeram amargos e assim por diante.

É a explicação, a verbalização, silenciosa ou falada, que sustenta a raiva, que dá a ela escopo e profundidade. A explicação, silenciosa ou falada, age como um escudo contra a descoberta de nós mesmos como somos. Queremos ser elogiados ou adulados, esperamos algo; e quando essas coisas não acontecem, ficamos decepcionados, tornamo-nos amargos e ciumentos. Então,violenta ou delicadamente, culpamos outras pessoas; dizemos que o outro é responsável por nossa amargura. Você é de enorme importância, pois eu dependo de você para minha felicidade, para minha posição e prestígio. Eu me realizo através de você, então você é importante par mim; eu devo vigiá-lo, devo possuí-lo. Através de você, fujo de mim; e quando sou lançado de volta a mim mesmo, tendo medo de meu próprio estado, fico irritado. A raiva assume muitas formas: decepção, ressentimento, amargura, ciúme, etc.

O armazenamento da raiva, que é ressentimento, exige o antídoto do perdão; mas o armazenamento da raiva é muito mais relevante do que o perdão. O perdão é desnecessário quando não existe a acumulação da raiva. O perdão é essencial se existe ressentimento; mas estar livre da adulação e do sentimento de mágoa, sem a dureza da indiferença, leva à misericórdia, à caridade. Não é possível livrar-se da raiva pela ação da vontade, pois a vontade é parte da violência. A vontade é o resultado do desejo, o anseio de ser; e o desejo, em sua própria natureza, é agressivo, dominador. Reprimir a raiva pela ação vigorosa da vontade é transferir a raiva para um nível diferente, dando a ela outro nome; mas é ainda parte da violência. Para estar livre da violência, e não se trata do cultivo da não-violência, deve haver o entendimento do desejo. Não existe um substituto espiritual para o desejo; ele não pode ser reprimido ou sublimado. Deve ser dada atenção ao desejo, silenciosa e desprovida de escolha; e essa atenção passiva é a experienciação direta do desejo sem que o experienciador lhe dê um nome.


Krishnamurti – Comentários sobre o viver

17 de agosto de 2013

Eduardo Marinho na TV Floripa

É possível haver consciência sem palavra?

Texto lido:

Abrindo mão do conhecimento e teorias de terceiros

Texo lido:

Percebendo os impulsos intelectualistas

Texto lido:

Exercitando a difícil arte da escuta atenta

Texto lido:

À quem serve as observações de Krishnamurti?

Texto lido:

Questionar a morte é questionar a vida

Texto lido:

Por que temos medo da morte da conhecida mediocridade?

Texto lido:

Será possível morrer antes de morrer?

Texto lido:

Sobre o medo da solidão da morte

Texto lido:

Surto psicótico ou experiência de pico?

Texto lido:

A única verdade é que é tudo mentira

Texto lido:

Como é a vida após a morte?

Texto lido:

Existe ou não existe vida após a morte?

Texto lido:

O Sagrado não pode ser captado pela palavra

Texto lido:

Vivenciando a morte momento a momento

Texto lido:

Existe algo melhor que este planeta?



Texto lido:
http://pensarcompulsivo.blogspot.com.br/2013/08/por-que-dizemos-que-algo-deve-existir.html

16 de agosto de 2013

O que pensamos ser consciência não é suficiente

O estado de inconsciência é como as raízes de uma árvore. As raízes da árvore permanecem debaixo do solo, você não as vê. Assim é nosso inconsciente, é subterrâneo. Não o vemos, mas ele afeta tudo: afeta os galhos, as folhas, as flores.

Nossas raízes estão ocultas, mas são muito importantes — são a parte mais importante da árvore. E, se você não compreende suas próprias raízes, não pode realmente experimentar sua existência total.

Os galhos da árvore são como nossa assim chamada consciência: uma camada frágil, muito fina, que pode ser facilmente destruída por um acidente. Um acidente pequeno e ela é destruída. Alguém o insulta e você não é mais consciente; alguém diz algo e você esquece tudo sobre meditação, sobre sua percepção. Você fica louco! E é capaz de fazer qualquer coisa nesse estado de loucura.

Só uma fina camada de consciência circunda nosso inconsciente. É suficiente para nosso trabalho de rotina; ir ao escritório, trabalhar numa máquina de escrever, dirigir um carro, conversar com o marido ou a mulher — os mesmos clichês que você sempre diz. E você os repete sem a menor consciência.

Mas isso é o que pensamos ser a consciência; ela é mais ou menos, é só morna, não é suficiente para um voo até o desconhecido, até o supremo.

É preciso usar esse pequeno fragmento de percepção como uma semente e começar a cultivá-lo, alimentá-lo, ajudá-lo de todas as formas possíveis, cooperar com ele.

Coopere com ele cada vez mais, com esse pequeno fragmento de seu ser que é consciente. E coopere cada vez menos com a parte maior de seu ser que é inconsciente.

Escolha sempre o consciente, evite o inconsciente. Aquilo que o deixa inconsciente é errado, e o que o ajuda a se tornar consciente é certo. Lentamente, lentamente, se você cooperar com o consciente, ele cresce; e, se parar de ajudar o inconsciente, este murcha.

O território do consciente fica cada vez maior, e o inconsciente vai murchando, desaparecendo. Por fim, todo o território inconsciente é tomado pela consciência. Esse é o momento em que você começa a florescer; pela primeira vez sua árvore floresce.

Osho, em "Meditações Para o Dia"

15 de agosto de 2013

Sobre o sofrimento do mudo


Todo sofrimento do mundo pode ser explicado de forma simples: todos foram recortados, moldados, reorganizados pelos outros sem que eles mesmos sequer tentassem descobrir o que supostamente deveriam ser por sua própria natureza. Eles não deram uma chance à existência.

Desde o momento em que uma criança nasce, começam a estragá-la, sempre com boas intenções, é claro. Os pais não fazem isso de forma consciente, mas eles mesmos foram condicionados assim. Depois repetem o processo com seus filhos, pois não sabem fazer de outra forma.

Uma criança desobediente é continuamente condenada. Por outro lado, uma criança obediente é sempre recompensada. Contudo, alguém já ouviu falar de alguma criança obediente mundialmente famosa em qualquer uma das dimensões da criatividade? Já ouviram falar de uma criança obediente que tenha recebido um prêmio Nobel em qualquer área: literatura, paz, ciência?

As crianças obedientes se tornam parte do rebanho. Tudo que é trazido de novo à existência é ocasionado pelos que desobedecem.


Osho, em "Osho de A a Z: Um Dicionário Espiritual do Aqui e Agora"

13 de agosto de 2013

Abrindo mão dos cacoetes das certezas emprestadas



http://pensarcompulsivo.blogspot.com.br/2013/08/pode-mente-libertar-se-do-vicio-da.html

Sobre a necessidade de segurança



http://pensarcompulsivo.blogspot.com.br/2013/08/pode-mente-libertar-se-do-vicio-da.html

Sobre a necessidade da mente ser aniquilada



http://pensarcompulsivo.blogspot.com.br/2013/08/pode-mente-libertar-se-do-vicio-da.html

Observando a base da crença


http://pensarcompulsivo.blogspot.com.br/2013/08/pode-mente-libertar-se-do-vicio-da.html

A vida é o que acontece de momento a momento



Texto lido:
http://pensarcompulsivo.blogspot.com.br/2013/08/pode-mente-libertar-se-do-vicio-da.html

Como ler Krishnamurti sem transformá-lo em conhecimento?



Texto lido:
http://pensarcompulsivo.blogspot.com.br/2013/08/pode-mente-libertar-se-do-vicio-da.html

Dúvidas nos primeiros contatos com Krishnamurti



Texto lido:
http://pensarcompulsivo.blogspot.com.br/2013/08/pode-mente-libertar-se-do-vicio-da.html

Todo sistema de crença é separatista



Texto lido: http://pensarcompulsivo.blogspot.com.br/2013/08/pode-mente-libertar-se-do-vicio-da.html

10 de agosto de 2013

A questão dos condicionamentos de preces e mantras

Eu não sou o que o pensamento diz que sou

É possível haver espaço entre os pensamentos?

Os altos e baixos do processo de retomada do Ser que somos

Sobre a anestesia oferecida pelos sistemas de crença

A longa estrada do condicionamento religioso

Sobre prece, sincronicidade e vegetarianismo

Exercendo o analfabetismo de crenças

Observando a questão da "prece"

8 de agosto de 2013

Do ajustamento materialista ao ajustamento espiritualista



Texto estudado neste encontro:
http://pensarcompulsivo.blogspot.com.br/2013/08/destruindo-nossos-velhos-muros-de.html

Deixando de alimentar expectativas de terceiros



Texto estudado neste encontro:
http://pensarcompulsivo.blogspot.com.br/2013/08/destruindo-nossos-velhos-muros-de.html

Enfrentando os Agentes Smiths do pensamento condicionado



Texto estudado neste encontro:
http://pensarcompulsivo.blogspot.com.br/2013/08/destruindo-nossos-velhos-muros-de.html

A importância das conversas nutritivas



Texto estudado neste encontro:
http://pensarcompulsivo.blogspot.com.br/2013/08/destruindo-nossos-velhos-muros-de.html

Atravessando a janela do ser que somos



Texto estudado neste encontro:
http://pensarcompulsivo.blogspot.com.br/2013/08/destruindo-nossos-velhos-muros-de.html

Observando nossos muros de autoproteção


Texto estudado neste encontro:
http://pensarcompulsivo.blogspot.com.br/2013/08/destruindo-nossos-velhos-muros-de.html

Observando os impulsos de intolerância


Texto estudado neste encontro:
http://pensarcompulsivo.blogspot.com.br/2013/08/destruindo-nossos-velhos-muros-de.html

Observando nossos jurássicos muros de auto-defesa


Texto estudado neste encontro:
http://pensarcompulsivo.blogspot.com.br/2013/08/destruindo-nossos-velhos-muros-de.html

Enquanto existe um "eu" é impossível fugir de ser magoado


Texto estudado neste encontro:
http://pensarcompulsivo.blogspot.com.br/2013/08/destruindo-nossos-velhos-muros-de.html

Um momento de oásis no deserto do real


Texto estudado neste encontro:
http://pensarcompulsivo.blogspot.com.br/2013/08/destruindo-nossos-velhos-muros-de.html

Quando o falar é prata e o escutar é ouro


Texto estudado neste encontro:
http://pensarcompulsivo.blogspot.com.br/2013/08/destruindo-nossos-velhos-muros-de.html

6 de agosto de 2013

Vida extraterrestre pode alterar meus conflitos internos?

Um paradigma que liberta dos cacoetes espiritualistas

Sobre a simplicidade e a profundidade de Krishnamurti

Será possível um estado de ser livre de imagens?

Entrando na pavorosa dimensão do nada

Importância de se ter o conhecimento da totalidade da mente

Sobre a dificuldade de dizer "não sei"

Redescobrindo Krishnamurti

5 de agosto de 2013

Com Vandalismo * documentário completo

O pensamento é conflituoso

O pensamento e suas ligeiras artimanhas

O intelecto não pode transcender a si mesmo

Breve relato de uma experiência de pico

Há outro movimento fora do intelecto e do pensamento?

Reverberações sobre vontade e desejo

O processo de escaldamento da mente

A difícil arte de se relacionar com quem não se vê

Um novo olhar sobre o desejo e a arte

Sobre o desabrochar de um novo olhar

Sobre o raciocínio circular de Krishnamurti

Tomando consciência da prisão chamada Matrix

Consumismo não consome vazio existencial

Sobre a arte de cuidar de si mesmo


Observando os dois lados da moeda chamada desejo

Queimando as pontes do velho pensamento

Breve relato de uma experiência de pico - II

Tudo vale a pena se a observação não a pequena

Observando as projeções emocionais

Deixando de se identificar com achismos de terceiros

Sobre a crítica e a autocrítica

4 de agosto de 2013

Porque o sexo tornou-se um problema

Pergunta: Conhecemos  o sexo como uma inelutável necessidade física e psicológica, e ele me parece ser a causa fundamental do caos, na vida privada da presente geração. Como podemos lidar com este problema?

Krishnamurti: Por que será que tudo o que tocamos convertemos em problema? Fizemos de Deus um problema, fizemos do amor um problema, fizemos das relações e do viver um problema, e fizermos do sexo um problema. Por que? Por que tudo o que fazemos é um problema, um horror? Pro que estamos sofrendo? Por que se tornou o sexo um problema? Por que nos sujeitamos a viver cheios de problemas? Por que não liquidamos com eles? Por que não morremos para nossos problemas, em vez de os levarmos conosco, dia a dia, ano após ano? O sexo e, por certo, uma questão importante, mas há a questão primária; por que fazemos da vida um problema? O trabalho, o sexo, ganhar dinheiro, pensar, sentir, experimentar, enfim todas as atividades do viver — por que são um problema? A razão não será porque, essencialmente, pensamos sempre de determinado ponto de vista, de um ponto de vista fixo? Estamos sempre pensando de um centro para a periferia, mas, para a maioria de nós, a periferia é o centro, e por isso tudo o que tocamos é superficial. Mas a vida não é superficial; ela exige ser vivida com plenitude, e porque só estamos vivendo superficialmente, conhecemos apenas a reação superficial. Tudo o que fazemos na periferia, tem de  criar inevitavelmente um problema, e assim é nossa vida: vivemos na superfície e nos contentamos em viver aí, com todos os problemas do nível superficial. Os problemas existem, enquanto estamos vivendo na superfície, na periferia, sendo a periferia o "eu", com suas sensações, que podem ser exteriorizadas ou objetivadas, que podem ser identificadas com o universo, com a nação, ou outra coisa qualquer elaborada pela mente.

Enquanto estivermos vivendo na esfera da mente, tem de haver complicações, tem de haver problemas; isto é tudo o que sabemos. A mente é sensação, a mente é o resultado de sensações e reações acumuladas, e tudo o que ela toca está fadado a causar misérias, e confusão, e problemas sem conta. A mente é a causa real dos nossos problemas, a mente que funciona mecanicamente, noite e dia, consciente e inconscientemente. A mente é coisa superficialíssima e levamos gerações, levamos nossa vida inteira cultivando-a, tornando-a cada vez mais engenhosa, mais sutil, mais desonesta e tortuosa, coisas essas muito evidentes em todas as atividades da vida. A natureza mesma da mente é ser desonesta, tortuosa, incapaz de enfrentar os fatos, e eis aí o fator que cria os problemas, eis aí o cerne do problema.

Que entendemos por problema do sexo? É o ato, ou o pensamento relativo ao ato? Certamente não é o ato. O ato sexual não é problema algum para vós, assim como o comer não é problema para vós; mas se pensais no comer, ou noutra coisa qualquer, o dia inteiro, porque nada mais tendes em que pensar, o comer também se transforma em problema para vós. É  o ato sexual um problema, ou é .o pensamento relativo ao ato? Por que pensais a seu respeito? Por que criais este pensamento, como de fato o fazeis? O cinema, as revistas, os romances, as modas femininas, tudo está contribuindo para formar vosso pensamento sobre o sexo. Por que o cria a mente, por que pensa a mente a respeito do sexo? Por que? Por que se tornou ele uma questão central, na nossa vida? Quando há tantas coisas chamando, reclamando vossa atenção, dais toda a atenção ao pensamento sobre o sexo. Como acontece isso, por que estão as vossas mentes tão ocupadas com ele? Porque ele é um meio extremo de fuga, não é verdade? É um meio de completo auto-esquecimento. Temporariamente, pelo menos durante aquele momento, podeis esquecer-vos de vós mesmos; e não há outro meio de esquecerdes a vós mesmos. Qualquer outra coisa que fazeis na vida, realça a importância do "eu", do "ego". Vossa ocupação, vossa religião, vossos deuses, vossos líderes, vossas ações políticas e econômicas, vossas fugas, vossas atividades sociais, vossa adesão a um partido e rejeição de outro — tudo está encarecendo, reforçando o "eu". Isto é, como há um ato no qual não se dá ênfase ao "eu", este ato se torna um problema, não é verdade? Quando só existe um único ato, na vossa vida, que constitui última via de fuga, de completo auto-esquecimento, ainda que por uns poucos segundos, vos apegais a ele, porque é o único momento em que sois felizes. Qualquer outra coisa que vos interessa se transforma em pesadelo, fonte de sofrimento e de dor, e, nessas condições, vos apegais aquela coisa eu vos dá o completo auto-esquecimento, a que chamais felicidade. Mas quando vos apegais, também ele se torna um pesadelo, porque desejais então ficar livre dele, não quereis ficar-lhe escravizado. Por conseguinte, inventais — extraída também da vossa mente — a ideia de castidade, de celibato, e procurais observar o celibato, ser casto, pelo recalcamento, todo isso operações da mente, visando a libertar-se do fato. Isso mais uma vez, realça muito especialmente o "eu"; porque ele aí está tentando ser alguma coisa, e portanto vos vedes se novo apanhado na rede de tribulações, preocupações, esforços e dores.

O sexo se torna um problema sobremodo difícil e complexo, porque não compreendeis a mente que pensa a respeito do problema. O ato em si nunca pode ser um problema, mas o pensamento referente ao ato cria o problema. O ato, vós o salvaguardais; viveis licenciosamente, ou soltais as rédeas aos vossos apetites no matrimônio, fazendo de vossa esposa uma prostituta, o que é tudo aparentemente muito respeitável e ficais satisfeitos em deixar as coisas como estão. O problema naturalmente só poderá ser resolvido quando compreenderdes todo o processo e toda a estrutura do "eu" e do "meu": minha esposa, meu filho, minha propriedade, meu carro, meu preenchimento, meu êxito. Enquanto não compreenderdes e dissolverdes tudo isso, o sexo permanecerá um problema. Enquanto fordes ambicioso, politicamente, religiosamente, ou sob qualquer outro aspecto; enquanto estiverdes reforçando o "eu", o pensador, o experimentador, alimentando-o de ambições, quer no vosso próprio interesse individual, que no da pátria, do partido ou de uma ideia a que chamais religião; enquanto houver essa atividade de expansão do "eu", tereis o problema sexual. De um lado, estais criando, alimentando e expandindo o vosso "eu"; do outro lado, tentais esquecê-lo, perdê-lo de vista, ainda que por um breve momento. Como podem estes dois estados coexistir? Vossa vida é uma contradição: dando proeminência ao "eu" e procurando esquecer o "eu". O sexo não é um problema. Problema é essa contradição existente em vossa vida; e a contradição não pode ser anulada pela mente, porque a própria mente é contradição. Só pode ser compreendida a contradição, quando se compreende plenamente todo o processo da nossa existência diária. Frequentar cinemas e apreciar mulheres projetadas na tela; ler livros que excitam o pensamento, folhear revistas cheias de gravuras de corpos seminus; vossa maneira de olhar as mulheres; os olhares furtivos que se encontram com os vossos — todas essas coisas estão, por vias tortuosas, estimulando a mente, enaltecendo o "eu"; e ao mesmo tempo vos esforçais para ser bondosos, afetivos, ternos. Essas duas coisas não podem andar juntas. O homem que é ambicioso, espiritualmente ou não, nunca deixará de ter problemas, porque estes só acabarão quando o "eu" for esquecido, quando o "eu"  se tornar inexistente; e esse estado de inexistência do "eu" não é um ato de vontade, não é mera reação. O sexo se torna uma reação; quando a mente tenta resolver o problema, só o torna uma reação; quando a mente tenta resolver o problema, só o torna mais confuso ainda, mais inquietante e doloroso. O ato não é o problema; o problema é a mente, a mente que diz que precisa ser casta. A castidade não é coisa da mente. A mente só é capaz de refrear suas próprias atividades, mas refreamento não é castidade. A castidade não é uma virtude; a castidade não pode ser cultivada. O homem que está cultivando a humildade, não é, por certo, um homem humilde; pode ele chamar humildade ao ser orgulho, mas é um homem orgulhoso, e por isso procura tornar-se humilde. O orgulho nunca pode tornar-se humildade, e a castidade não é coisa da mente. Não podeis tornar-vos casto. Só conhecereis a  castidade quando houver amor em vós, e o amor não é produto da mente, nem faz parte da mente.

Logo, o problema do sexo, que tortura tanta gente, no mundo inteiro, não será resolvido enquanto a mente não for compreendida. Não podemos por fim ao pensar, mas o pensamento cessa quando cessa o pensador, e só deixa de existir o pensador, quando  há compreensão completa do processo. Nasce o temor, quando há separação entre o pensador e seu pensamento; quando não há pensador, só então não há conflito no pensamento. O que está implícito não requer esforço para ser compreendido. O pensante vem à existência pelo pensamento; e o pensante, então, faz esforços para moldar, controlar os pensamento, ou pôr-lhes fim. O pensante é uma entidade fictícia, uma ilusão da mente. Quando há compreensão do pensamento, como um fato, não há mais necessidade de pensar no fato. Se há percebimento simples, sem escolha, então tudo o que está implícito no fato começa a revelar-se, e o pensamento, como fato, termina. Vereis então que os problemas que nos estão corroendo o coração e a mente, os problemas de nossa estrutura social, podem ser resolvidos. O sexo então já não é mais problema; tem o lugar que lhe compete; não é nem uma coisa impura nem uma coisa pura. O sexo tem seu lugar próprio; quando a mente lhe atribui lugar predominante, ele se torna um problema. A mente dá ao sexo lugar predominante, porque ela não pode viver sem alguma felicidade, e, assim, o sexo se torna um problema. Quando a mente compreende inteiramente seu próprio processo e, por conseguinte, se extingue, isto é, quando o pensar se extingue, há criação;  é essa criação que nos faz felizes. Achar-se nesse estado de criação é bem-aventurança, porque ele é auto-esquecimento, em que não há reação procedente do "eu". Esta não é uma solução abstrata ao problema cotidiano do sexo: é a única solução. A mente nega o amor, e sem o amor, não há castidade. Fazeis do sexo um problema, só porque em vós não existe amor.


Krishnamurti – A primeira e a última liberdade
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