Aviso aos navegantes

Este blog é apenas uma voz que clama no deserto deste mundo dolorosamente atribulado; há outros e em muitos países. Sua mensagem é simples, porém sutil. É uma espécie de flecha literária lançada ao acaso, mas é guiada por mãos superiores às nossas. À você cabe saber separar o joio do trigo...

25 de abril de 2013

A armadilha do túnel do tempo psicológico

Percepções sobre o país do futebol

Este é o país da piada de mau gosto...
Muito investimento público em novas cadeiras para torcedores
e pouquíssimo investimento em leitos para os que se torcem de dor...
E, tudo isso, com a ajuda dos que gritam gol!

Outsider

23 de abril de 2013

O início da jornada do herói

Medo e amor não coexistem

A raiz de toda escravidão e as novas escravidões

O homem nasce escravo e permanece escravo durante toda a sua vida — escravo dos desejos, da luxúria, do corpo ou da mente, mas sempre o mesmo escravo. Desde o nascimento até a morte, há um longo combate contra a escravidão.

A religião consiste de seres livres. Religião é liberdade, libertação da escravatura. Mas o homem continua jogando consigo mesmo, enganando a si mesmo, porque isso é fácil.

Ser completamente livre é muito difícil. É necessária uma cristalização do interior, é necessário um centro. Até agora, não existe nenhum centro em seu interior, você não é um ser cristalizado — é apenas um caos.

Pode ser que seja uma assembleia, mas um indivíduo não. Algumas vezes, um desejo o domina e torna-se o presidente da assembleia. Pouco mais tarde, o presidente vai embora ou é descartado e outro desejo o domina. Você se identifica com cada desejo e diz: “Eu sou isto.”

Quando o sexo está na presidência, você se torna o sexo; quando a raiva está na presidência, você se torna a raiva; quando o amor está na presidência, você se torna o amor. Nunca se lembra de que você não pode ser isto ou aquilo — sexo, raiva, amor.

Não! Você não pode ser, mas identifica-se com a presidência, com qualquer coisa que esteja sendo poderosa num determinado momento. E esse presidente vai mudando, porque quando um desejo é preenchido temporariamente é arremessado para fora da presidência. Então outro, o que está mais próximo em exigência — fome, sede, amor — torna-se o presidente.

E você identifica-se com cada desejo, com cada escravidão.

Essa identificação é a raiz-causal de toda escravidão e, a menos que a identificação desapareça, você nunca será livre. Liberdade significa desaparecimento da identificação com o corpo, com a mente, com o coração ou com qualquer coisa assim denominada.

Este é o fato básico a ser compreendido: o homem é um escravo, nasce escravo, nasce chorando e gritando pela satisfação de alguns desejos. A primeira coisa que uma criança faz ao nascer é chorar. E isso permanece durante toda a sua vida.

Você está sempre chorando por isto ou por aquilo. A criança chora pelo leite — você pode estar chorando por um palácio, por um carro ou por qualquer outra coisa, mas o choro continua. Só pára quando você está morto.

Toda sua vida é um longo choro — eis porque existe tanto sofrimento.

A religião lhe dá as chaves para torná-lo livre, mas se a vida de escravidão lhe é conveniente, confortável, você cria falsas religiões que não lhe dão qualquer liberdade, que simplesmente acrescentam outros tipos de escravidão.

O cristianismo, o budismo, o hinduísmo ou o islamismo, do modo como são organizados, estabelecidos, são novos tipos de aprisionamento.

Jesus é liberdade, Maomé é liberdade, Krishna é liberdade, Buda é liberdade, mas o budismo, o maometanismo, o cristianismo, o hinduísmo não são — apenas imitam a liberdade.

Então, uma nova escravidão nasce: você não é escravo apenas dos seus desejos, dos seus pensamentos, dos seus sentimentos, dos seus instintos, é escravo dos sacerdotes também. Mais escravidão acontece a partir das suas falsas religiões, e nenhuma modificação ocorre em você.

12 de abril de 2013

O verdadeiro conhecimento, a verdadeira felicidade.

Vocês podem viver inteligentemente neste mundo, de maneira sã, em plenitude profunda e, apesar disso, não ser do mundo.

A personalidade pode fenecer e morrer; porém, para o homem que realiza a plenitude, a tranquilidade da mente, para esse existe a segurança da imortalidade

Quando a mente está liberta de todo o eu-consciência, portanto, de toda a ação que brota do egoísmo, ela não mais conhece sujeito nem objeto, pensador nem pensamento.

Uma tal mente acha-se revestida de amor, do qual toda particularidade de sentir e de pensar como objeto e sujeito se acha inteiramente ausente, sendo esse amor, então, como o perfume de uma flor.

Isto não é teoria intelectual, e sim o viver em constante ajuste, em constante vigilância e acautelamento, de modo que de um tal apercebimento, que é resultante da busca, provenha a harmonia: a mente contendo o coração.

Para alcançar a harmonia, vocês precisam produzir a libertação do desejo — não a supressão do desejo.

Quando estiverem conscientes de suas qualidades, de si próprios — realmente conscientes — então não sentirão medo de examinar, não se assustarão com o conflito. Vocês necessitam fazer esforço, o esforço deliberado, consciente, para descobrir as próprias qualidades, os seus próprios extremos, as suas supressões.

Somente então serão capazes de realizar a libertação do desejo — a qual não é nem indiferença, nem tédio. Vocês necessitam penetrar em suas próprias mente e coração, para realizarem o êxtase da vida e não lhes é possível, em última análise, escapar desse esforço.

Sempre há fugas, enquanto não estiverem livres do desejo, e ninguém pode lhes livrar dele a não ser vocês mesmos, pelo próprio deleite, pela própria busca.

Quando tiver cessado todo desejo, então sentir é pensar, não há distinção entre mente e coração. Há então um intenso apercebimento, uma concentração que perde toda a distinção. É a concentração de uma flor. Esta concentração é infinita; porém, o que vocês chamam de amor e pensamento está infectado de resistência, cativeiro da mente e coração, portanto, de corrupção.

Se vocês fossem inconscientes, cruéis, então seriam semelhantes a um animal e não haveria luta ou conflito; porém, no saber que são cruéis e apesar disso ceder à crueldade, vocês criam este terrível turbilhão e caos, que existe na mente e no coração de vocês, o qual ninguém, a não ser vocês mesmos, pode apaziguar.

Para fazerem isto, necessitam estar incessantemente despertos, isto é, contemplar constantemente todo o pensamento e todo o sentimento que possuírem, na ação.

Pensem e sintam com toda profundidade, e verificarão como as suas mente e coração estão limitados pela opinião pública, pelo tradição, pelo sistema, pelas vaidades e temores pessoais.

No experimentar estes embaraços, descobrem a causa e, por intermédio dela, se esvai aquilo que impede a harmonia do pensamento e do sentimento.

O homem, pode viver harmoniosamente e, nessa harmonia, sua mente e coração são normais, sadios, plenos, completos, não oprimidos pelo medo.

Se quiserem verificar o que eu digo, precisam possuir mente plástica, ardente, pesquisadora e, pela própria pesquisa de vocês é que expelirão o temor. Não advém nenhum resultado de lutar cegamente contra o medo. Busquem a verdade e o medo cessará e, da intrepidez decorrente, provirá a plasticidade, a harmonia da mente e do coração e a plena realização desse êxtase da plenitude, de que falo. Esta plenitude é que é a realidade última e nessa realidade não há nascimento nem morte; ela sempre está renovando a si própria, e o homem que sabe disto é livre e vive nessa eternidade, no presente.

Se houvessem uns poucos no mundo que realmente compreendessem, poderíamos criar um mundo novo, alteraríamos a expressão da vida.

Se, porém, não houver entendimento, outra religião, outra seita, outra igreja, outro deus será criado.

Vocês estão sempre propelidos pelo medo de cair.

O homem criou Deus segundo sua própria imagem, conforme as ideias que extraiu dos livros sagrados, dos filósofos e místicos, de sua própria imaginação, apoiado nos seus preconceitos, no seu sofrimento, na sua busca de conforto, nos seus anseios, nas suas esperanças e antecipações.

Eu não posso lhes descrever Deus, ou a vida; se descrevesse essa viva realidade, não seria ela verdadeira. Aquilo que é sempre vivo, sempre móvel, que está sempre a se renovar, que se acha isento de tempo, não pode se amoldar a palavras. Tem de ser realizado, tem de ser sentido, compreendido, vivido.

Nenhuma definição, nenhuma descrição pode contê-lo.

Eu digo que existe uma realidade eterna, viva, chamem-na pelo nome que preferirem, Deus, verdade, vida, amor, ou ação.

A verdade é a plenitude do sentimento e do pensamento em ação, a intensidade do viver harmonioso, não em certo futuro distante, porém, sim no presente. A verdade não tem aspectos, por ser em si mesma completa. Vocês não podem se acercar da verdade

Por métodos ou sistemas; essas coisas são meramente o resultado de suas idiossincrasias particulares, de suas fantasias, esperanças e temores.

Vocês tem tido as suas religiões, as suas cerimônias, os seus livros, as suas maneiras complicadas de encarar a vida: estas coisas, porém, não lhes trouxeram felicidade.

Vocês devem cultuar aquilo que é incorruptível. Devem dar seu amor àquilo que está para além da estagnação.

O que há nisto que lhes causa medo?

O que há aí que possa causar desentendimento? Com todas as suas crenças, os seus sistemas, as suas cerimônias e os seus deuses, não são felizes. E, no entanto, sentem medo de abandoná-los.

Se suas crenças podem ser despedaçadas, não são dignas de serem conservadas. Se seus sistemas são tão frágeis que não podem resistir a tempestade da dúvida e da tristeza, merecem morrer.

Verifiquem se há dentro de vocês o êxtase do propósito e o poder de criar no eterno. Se não tiverem dentro de vocês o intenso interesse pela libertação, vocês, assim como as suas obras, não serão mais que passageiras sombras.

O que digo, não digo com rudeza. Dado, porém, serem infelizes, eu queria lhes mostrar o verdadeiro conhecimento, a verdadeira felicidade.

Sejam responsáveis perante vocês mesmos, por todas as suas ações.

Não busquem abrigo na autoridade exterior. Mantenham-se em seus próprios pés.

Para poderem dar preenchimento á vida, passem além de toda experiência. Para poderem ser grandes no amor, guardem afeto no coração de vocês para com todas as coisas.

Krishnamurti — O medo — 1946 — ICK

Reflexões sobre o tempo

O tempo não é mais do que um adiamento, não é a plenitude viva do presente.

Para mim , o presente é o conjunto do tempo. É agora que vocês projetam suas sombras; é agora que sofrem; é portanto agora, que vocês podem se libertar da tristeza. Por consequência, devem se tornam conscientes do presente, o que corresponde a se tornarem normais e não incidirem em indulgências no que diz respeito a certas esperanças no futuro, a sonhos fagueiros, filhos da imaginação. Isto, porém, exige grande determinação e o desejo de ser completo no presente.

Assim, o primeiro requisito, a primeira pedra alicerce dessa permanência é o de se tornarem cônscios daquilo que são no presente, o que é a realização da plenitude.

Para viver intensa e plenamente no presente, o que para mim é conhecer a eternidade, o infinito, a mente necessita de estar liberta do passado e do futuro.

O tempo existe, enquanto vocês não o compreendem. Eu estou falando da verdade na qual o tempo não existe e para compreenderem esta verdade, vocês tem de viver com imenso apercebimento no presente, libertos de todos os incentivos e crenças.

Somente a verdade libertará cada um da tristeza e da confusão da ignorância.

A verdade não é o resultado final da experiência, é a vida mesma. Não é um resultado, um intuito, mas o cessar do medo, do desejo.

É pelo viver plenamente no presente, que vocês chegam à realização da beatitude da verdade.

No concentrado percebimento de viver plenamente, sem motivo, vocês libertam a mente de todos os embaraços criados pelo desejo.

Se a mente puder compreender, completamente o significado do presente, a ação torna-se preenchimento, sem criar maior conflito e sofrimento, os quais são apenas o resultado da ação limitada, dos empecilho impostos ao pensamento do medo.

Krishnamurti — O medo — 1946 — ICK

Reflexões sobre o transitório

A descoberta da verdade eterna está sempre frente à vocês.

Se não tiverem acendido dentro de vocês a chama do interesse pela libertação, não poderão criar com grandeza, somente estarão brincando nas sombras do transitório.

É neste mundo que existe o transitório e a transitoriedade só existe, enquanto houver o eu-consciência. Não lhes é dado transferir a consciência, deste mundo para outro plano e esperar que ela se torne uma consciência diferente.

Consciência é consciência, onde quer que seja — não há alto nem baixo.

Somente no presente está todo o universo. O universo inteiro está nessa centelha, que é completa em cada um de nós, e a realização dessa plenitude liberta o homem de toda a tristeza, de todos os opostos e da ideia de dualidade.

Há algo permanente na resistência? Vemos que a resistência pode perpetuar-se por meio da aquisição, da ignorância, por meio da consciente ou inconsciente ansiedade de experiência. Mas, certamente, esta continuação não é eterna, ela é apenas a perpetuação do conflito.

O que chamamos permanente, na resistência, é apenas parte da própria resistência, e, portanto, parte do conflito. Assim, em si mesma, não é o eterno, o permanente.

Onde há falta de plenitude, de preenchimento, há ansiedade de continuação, que cria a resistência, e esta resistência dá a si mesma a qualidade de permanência.

Aquilo que a mente se agarra como sendo o permanente é, em sua própria essência, o transitório. É o produto da ignorância, do medo e da ansiedade.

Se vocês forem capazes de perceber o atual, sem nenhum desejo ou identificação, então, nessa mesma percepção do falso está o começo do verdadeiro. Isto é inteligência, que não se baseia no preconceito, na tradição, no desejo; a única que pode dissipar a essência sutil de todos os problemas, espontaneamente, ricamente, e sem a compulsão do medo.

Krishnamurti — O medo — 1946 — ICK

Compreendendo o pleno significado da solidão

Por que vocês não ousam fazer face à solidão? Não ousam se tornarem inteligentes e, por este meio, destruir a pobreza e a vacuidade.

O que é que fazemos, quando estamos isolados? Tentamos escapar da solidão, por meio da companhia, dos divertimentos, da adoração, da prece, por meio de todas essas hábeis, bem conhecidas e firmadas fugas. Por que é que fazemos isto? Pensamos poder assim disfarçar o isolamento, por meio dessas fugas, mediante esses alívios. Será possível para nós, disfarçarmos uma coisa que é visceralmente molesta? Momentaneamente, podemos, porém, o isolamento continuará, futuramente. Portanto, onde houver fuga, tem de haver continuidade do isolamento. Para o isolamento não há substituições. Se pudermos compreender isto com todo o nosso ser, completamente; se pudermos compreender que não há possibilidade de escapar da solidão, do medo, o que é que acontece então?

A maioria dentre vocês não poderá responder, porque jamais experimentaram o problema de modo completo. Não sabem o que acontecerá, quando houverem, por completo obstruído todas as vias de fuga e não houver a mínima possibilidade de fuga.

Eu lhes sugiro para que façam essa experiência. Quando estiverem isolados, tornem-se plenamente apercebidos e verificarão que a mente de vocês quer fugir, quer escapar da solidão. Quando a mente estiver apercebida de que está fugindo e, ao mesmo tempo, perceber o absurdo da fuga, nessa mesma compreensão a solidão, na verdade, desaparece.

Quando vocês de defrontarem com um problema e não houver possibilidade de uma saída, então o problema cessará, coisa que não significa a aceitação dele. Ora, vocês buscam um remédio para a solidão, uma substituição e, portanto, o problema não se relaciona com o isolamento, porém sim, com o saber qual o remédio para o isolamento, qual o melhor meio para dele escapar ou disfarçá-lo. Quando, porém, a mente não mais busca uma fuga, então o isolamento ou o medo terão um significado muitíssimo diferente.

Vocês não podem, no entanto, aceitar minhas palavras neste sentido. Tudo o que podem fazer é dizer que não sabem. Não sabem se o isolamento e o temor irão desaparecer; porém, experimentando, compreenderão o pleno significado da solidão. Se meramente buscarmos remédio para a solidão ou para o medo, nos tornaremos muito superficiais, não é assim? Para o home que tem tudo o de que precisa, como para o homem que de tudo necessita, para ambos, a vida se torna muito vazia. Na mera busca de remédios, torna-se a vida sem significado, oca; ao passo que, se realmente experimentarem o problema ardente e não houver maneira possível de fugir, então, verificarão que esse problema executa para vocês uma coisa milagrosa.

Não mais será um simples problema, o examiná-lo, o vivê-lo, o compreende-lo se tornará intensamente vital.

Só existe um movimento da verdade: é quando a mente não está mais colhida pelo medo, com todas as suas ilusões; quando não mais busca orientação, nem ser guiada. A solidão não é exclusividade; ela vem à existência, quando há o discernimento do que é falso.

Krishnamurti — O medo — 1946 — ICK

3 de abril de 2013

O presente basta


O passado está fechado. Tudo aconteceu e agora nada pode ser mudado; logo, tudo está absolutamente fechado. O futuro está absolutamente aberto, nada pode ser previsto. E entre os dois está o presente, com um pé no passado, outro no futuro.

Portanto, a mente permanece sempre numa dicotomia, num estado dividido. Ela está sempre dividida, ela é sempre esquizofrênica.

Você precisa entender que é assim que as coisas são e não se pode fazer nada a respeito. Se você quiser ter um relacionamento muito seguro, terá de amar um homem morto; mas então não vai mais gostar dele. É o que acontece a um amante quando ele se torna o marido — o marido é o amante morto, a esposa é a amante morta.

O passado tornou-se tudo, e agora o passado define o futuro. Na verdade, se você é esposa, não tem futuro — o passado vai continuar se repetindo, todas as portas estão fechadas. Se você é marido, você não tem futuro; você está confinado, está numa prisão. Portanto, a segurança é o que se busca sem cessar; mas quando você a encontra, sacia-se com ela.

Observe as expressões de maridos e esposas. Eles encontraram a segurança — a segurança tão sonhada e buscada — e agora tudo está na sua conta bancária, e a lei, o tribunal, a polícia, estão ali para tornar tudo seguro. Mas então todo o charme, toda a poesia se perdeu; não há mais romance. Agora eles são pessoas mortas — eles estão simplesmente repetindo o passado, eles vivem de lembranças.

Ouça esposas e maridos conversando. A esposa continua dizendo que o marido não a ama como antes, e eles continuam falando sobre os momentos do passado, a lua-de-mel e outras coisas. Que absurdo! Vocês ainda estão vivos. Este momento pode ser uma lua-de-mel. Este momento pode ser vivido, mas vocês estão falando do passado e tentando repeti-lo.

A segurança nunca satisfaz — e na insegurança existe o medo, medo de perder o relacionamento. Mas isso faz parte de estar vivo. Tudo pode ser perdido, nada é certo, e é por isso que tudo é tão bonito. E é por isso que você não precisa adiar um único momento: se quiser amar uma pessoa, ame-a aqui e agora. Ame-a, porque ninguém sabe o que vai acontecer no momento seguinte.

No próximo momento poderá não haver mais a possibilidade de amar, e você vai se arrepender pelo resto da vida. Você poderia ter amado, poderia ter vivido. Então o remorso envolve a pessoa, que sente o arrependimento e uma culpa profunda, como se tivesse cometido o suicídio.

A vida é incerteza. Ninguém pode torná-la uma certeza. Não há como torná-la uma certeza. E é bom que ninguém possa torná-la uma certeza, ou então ela estaria morta. A vida é frágil, delicada, sempre indo para o desconhecido; essa é a beleza. É preciso ser corajoso, aventureiro.

É preciso ser um jogador para mexer com a vida. Então, seja um jogador. Viva este momento, e viva-o na sua totalidade. Quando o momento seguinte chegar, veremos. Você estará lá para enfrentá-lo — como foi capaz de enfrentá-lo no passado, você será capaz de enfrentá-lo no futuro também — e será mais capaz porque terá mais experiência.

A questão não é saber se o outro estará presente no momento seguinte, a questão é: se ele estiver disponível para você neste momento, ame-o. Não desperdice esse momento pensando e se preocupando com o futuro, porque isso é suicídio.

Não gaste um único pensamento com o futuro, porque nada pode ser feito quanto a ele; portanto, é um completo desperdício de energia. Ame esse homem e seja amada por ele.

É assim que eu penso: se você viver este momento totalmente, é bem provável que no momento seguinte essa pessoa ainda esteja disponível. Eu quis dizer talvez — não posso prometer a você, apenas pode ser que ... Mas a possibilidade é maior, porque o momento seguinte será o resultado deste.

Se você amou o homem e o homem se sentiu feliz, e o relacionamento foi uma experiência linda, um êxtase, então por que ele deixaria você?

Na verdade, se você continuar se preocupando, estará fazendo com que ele a deixe, forçando-o a isso. E se você desperdiçou este momento, o próximo momento será o resultado desse desperdício; ele será detestável.

E é assim que alguém se torna previsível para si mesmo. Continua cumprindo as suas próprias profecias. No momento seguinte você diz: “Sim, eu estava dizendo desde o início que este relacionamento não iria durar. Agora está provado.” Você se sente muito bem de certa maneira; você sente que foi muito esperto e sábio.

Na verdade, você se enganou, porque você não previu nada. Você forçou os acontecimentos para que acontecessem, porque desperdiçou o tempo que lhe foi dado, a oportunidade.

Portanto, ame a pessoa e esqueça o futuro. Simplesmente livre-se do absurdo de pensar nele. Se puder amar, ame. Se não puder amar, esqueça a pessoa, encontre outra, mas não perca tempo.

A questão não é este ou aquele amante; a questão é o amor. O amor satisfaz, as pessoas são apenas pretextos. Mas tudo depende de você, porque tudo o que fizer com uma pessoa vai continuar fazendo com outra.

Se você faz uma pessoa feliz, por que ela deixaria você? Mas se você a fizer infeliz, então por que ela não deixaria você? Se você a torna infeliz, então eu vou ajudá-la a deixar você! Mas se você a fizer feliz, ninguém poderá ajudá-la a deixar você; então, não há o que discutir; ela irá lutar contra o mundo inteiro por sua causa.

Portanto, torne-se mais feliz. Use o tempo que você tem — e não haverá necessidade de pensar no futuro; o presente basta. Deste exato momento em diante, tente viver o momento.

Use o momento, não para se preocupar, mas para viver. As pequenas coisas podem tornar-se lindas. Um pequeno carinho, uma alegria compartilhada, isso é tudo o que a vida é.

Osho, em "Intimidade: Como Confiar em Si Mesmo e nos Outros"

2 de abril de 2013

O desejo é a causa exata do medo


O medo existirá de diferentes formas, grosseira ou sutil, enquanto existir o processo auto-ativo da ignorância gerado pelas atividades do desejo. É possível eliminar completamente o medo; ele não é parte fundamental da vida. Se existir medo, não pode haver a inteligência, e para despertar a inteligência é preciso compreender-se plenamente o processo do “eu” na ação. O medo não pode ser transmutado em amor. Ele há de ser sempre medo, embora tentemos afastá-lo pelo raciocínio, e embora procuremos disfarça-lo, chamando-o de amor.

Nem tão pouco pode o medo ser compreendido como parte fundamental da vida, para que nos resignemos a suportá-lo. Vocês não descobrirão a causa profunda do medo, pela simples análise de cada um de seus aspectos, à medida que se apresentam.

Existe somente uma causa fundamental de medo, embora se manifeste por formas diferentes.

Pela simples dissecação das várias formas do medo não pode o pensamento libertar-se da causa raiz dele. Quando a mente não aceita nem rejeita o medo, quando não lhe foge nem procura transmuta-lo, só então é possível seu cessar.

Quando a mente não está presa no conflito dos opostos, ela é capaz de discernir, sem escolha, o processo do “eu” em sua íntegra.

Enquanto esse processo continuar, tem de haver medo, e a tentativa para fugir dele apenas aumenta e fortifica o processo. Se quiserem se libertar do medo, devem compreender plenamente a ação nascida do desejo.
(...)
Se sentirem integralmente todo este processo como ignorância, então saberão o meio de ficar livre do desejo, do medo.
(...)
Quando compreenderem o pleno significado da ação nascida do desejo, esta própria compreensão, espontaneamente, dissipará o desejo, o medo, que está procurando satisfação.
(...)
Se o interesse for apenas o resultado do desejo, do lucro, do estar satisfeito, de obter sucesso, então, o interesse é a mesma coisa que o desejo e, portanto, destruidor da vida criadora.
(...)
O desejo de satisfação cria o medo e o hábito. O desejo e a emoção constituem dois processos diferentes e distintos; o desejo é inteiramente da mente, e a emoção é a expressão integral de todo o nosso ser. O desejo, o processo da mente, é sempre acompanhado pelo medo, e a emoção é isenta dele. O desejo deve produzir sempre o medo, e este a emoção jamais o contem porque ela é a essência de todo o nosso ser. A ação é um estado de destemor, que só pode ser experimentado quando cessa o desejo, com o seu medo e a sua vontade de satisfação. A emoção não pode dominar o medo; porque o medo, como o desejo, são da mente. As emoções são de caráter, qualidade e extensões completamente diferentes.

O que a maioria de nós estamos procurando fazer é dominar o medo, seja pelo desejo, ou pelo que chamamos “emoções” — que é realmente outra forma de desejo. Vocês não podem dominar o medo pelo amor. Dominar o medo, por meio de outra força que chamamos amor, não é possível, porque o desejo de dominar o medo nasce do próprio desejo, da própria mente, e não do amor. Isto é, o medo é resultado do desejo, da satisfação, e o desejo de dominar o medo é da natureza da própria satisfação. Não é possível dominar o medo pelo amor, como a maioria das pessoas verifica por si mesma. A mente, que é do desejo, não pode dissipar parte de si mesma. É isto o que vocês tentam fazer quando falam de “se desembaraçarem” do medo. Quando perguntam: “Como posso desembaraçar-me do medo, que posso fazer com as várias formas de medo?”, estão meramente querendo saber como dominar um grupo de desejos por outro — o que somente perpetua o medo. Todo desejo cria medo. O desejo produz o medo e tentando dominar o medo um desejo por outro, estão apenas cedendo ao medo. O desejo somente pode recondicionar-se a si mesmo, remodelar-se segundo um novo padrão, mas permanecerá ainda desejo, dando nascimento ao medo.
(...)
A mente é um campo de batalha dos seus próprios desejos, temores, valores, e qualquer esforço que ela faça para destruir o medo — isto é, para destruir a si mesma — é inteiramente inútil. A parte que deseja desvencilhar-se do medo está sempre procurando satisfação; e aquela de que ela anseia livrar-se é o motivo de satisfação no passado. Desse modo, a satisfação procura livrar-se daquilo que já satisfez; o medo tenta vencer o que foi o instrumento do medo. O desejo, criando medo na busca de satisfação, tenta vencer este medo, mas o próprio desejo é a causa do medo. O mero desejo não pode destruir-se, nem o medo dominar-se, e todo o esforço da mente, para livrar-se deles, nasce do próprio desejo. Desse modo, a mente fica presa no seu próprio círculo vicioso do esforço.
(...)
O poder do desejo, da escolha, pode cessar, e isto só acontece, quando se compreende, quando se sente internamente o esforço cego do intelecto. A profunda percepção deste processo, sem ansiedade, sem julgamento, sem preconceito, e, portanto, sem desejo, é o começo do percebimento, o único que pode libertar a mente de seus temores, hábitos e ilusões.
(...)
Para realizar a verdade, para perceber este infinito renovar da vida, vocês devem estar completamente livres, a mente de vocês deve achar-se completamente despojada de todos os desejos. Vocês dirão: “Como pode o homem viver num mundo isento de desejos?” Vocês têm visto a causa da tristeza e dito a si próprios — me libertarei dessa causa? Intelectualmente observam a causa e intelectualmente observam o quão difícil é dela se libertar. Dizem ainda: “O homem não pode viver sem desejos, tem de lutar por si mesmo nesta civilização; pois, de outro modo, será esmagado e destruído”. Vocês não têm feito a experiência, por isso não podem dizer o que acontecerá.
(...)
Como podem discernir aquilo que é verdadeiro e duradouro, se a mente de vocês está sempre preocupada com um desejo futuro ou impedido em sua percepção pelo passado? Há uma completa ausência do verdadeiro valor da vida, uma avaliação falsa, enquanto a mente estiver encerrada na divisão criada pelo desejo.
(...)
O desejo não compreendido no presente cria o tempo.

Krishnamurti - O medo - 1946 - ICK

1 de abril de 2013

Espiritualidade é conformidade imposta pela autoridade do medo


De acordo com o meu ponto de vista, crenças, religiões, dogmas e credos, nada têm que ver com a vida e, portanto, nada têm que ver com a verdade.
(...)
É em consequência do medo que a humanidade tem juntado a vida em códigos de moralidades e sistemas de crenças.
(...)
A maioria de vocês, que possuem tendências religiosas e que falam de Deus e de imortalidade, não acreditam fundamentalmente no preenchimento individual, pois que, na própria estrutura do pensamento religioso, em virtude do medo, vocês permitem a compulsão e a imposição. Ou tem de ocorrer o preenchimento individual ou a completa mecanização do homem.

Não pode haver transigência entre as duas coisas. Vocês não podem dizer que o homem tem de adaptar-se a um modelo, que deve concordar, seguir, obedecer, ter autoridade e, ao mesmo tempo, pensar que é uma entidade espiritual.
(...)
A causa fundamental de uma crença organizada, que controla e domina o homem, é o temor; e enquanto o homem, realmente, não estiver liberto dela, a sua ação tem de ser limitada, criando, por esse modo, outros sofrimentos.
(...)
A religião organizada tem de, inevitavelmente, criar divisões e conflitos entre os homens. Observa-se isso por todo o mundo. O hinduísmo, assim como o cristianismo, o budismo e outras religiões organizadas, têm suas peculiares crenças e dogmas, que são barreiras quase impenetráveis erigidas entre os homens que destroem o seu amor.

E que valor, que significado tem essas religiões, desde que estão, fundamentalmente, baseadas sobre o medo? Se discernirem a falsidade da crença organizada, e verificarem que por meio de qualquer crença particular não lhes é possível compreender a realidade, nem por meio de uma autoridade, seja ela qual for, pode a inteligência ser despertada, vocês, então, como indivíduos, não como grupo organizado, se libertarão dessa destruidora imposição. Isto significa que precisam se interrogar, a partir do começo, sobre esta ideia de crença, atitude que, porém, implica um grande sofrimento, pois não é um mero processo intelectual.

O homem que apenas investiga intelectualmente a questão da crença nada mais encontrará que poeira.
Se um homem que sofre, investigar profundamente essa estrutura interna, baseada no temor e na autoridade, então encontrará essas águas da vida que aplacarão a sua sede.
(...)
Somente quando vocês, como indivíduo, começam a perceber, em meio do conflito imenso, a causa e, portanto, a falsidade desse conflito, é que descobrirão o que é a Verdade.

Nisto existe felicidade eterna, inteligência; mas não nessa coisa estúpida chamada espiritualidade, que nada mais é que conformidade imposta pela autoridade através do medo. Digo que existe algo sublimemente real, infinito; porém, para descobri-lo, o homem não pode ser uma máquina imitadora, e as religiões de vocês, no mundo inteiro, separam as pessoas. Isto é, vocês, que, pelos seus particulares preconceitos, se denominam cristãos, e os indianos, que pelas suas crenças particulares se denominam hindus, jamais se encontrarão. Suas crenças lhes mantém separados. Suas religiões lhes separam.
(...)
As ideias religiosas não se limitam apenas ao além. É coisa muito mais profunda. O desejo de estar seguro dá nascimento à cogitação do além e a outras muitas sutilezas que criam o medo, e o libertar-se delas exige grande discernimento.

Só a mente que estiver insegura compreenderá a verdade; a mente não preparada, não condicionada pelo medo, estará aberta para o desconhecido. Preocupemo-nos, pois, com as limitações e as causas.

Krishnamurti — O medo — 1946 — ICK

Onde há o seguir, há medo



Para compreenderem a causa da autoridade, precisam seguir o processo mental e emocional que a cria. 
Para mim, o homem que está limitado por uma lei externa ou interna está confinado numa prisão, está preso numa ilusão. Desse modo, tal homem não pode compreender a ação espontânea, natural e sã.
(...)
Se um homem deseja obedecer e seguir a um outro, ninguém o pode impedir; porém é o superlativo da falta de inteligência e leva a grande infelicidade e frustração.

Se aqueles de vocês que estão me ouvindo, começarem a pensar real e profundamente a respeito da autoridade, não mais seguirão a ninguém, inclusive a mim mesmo. Como disse, porém, é muito mais fácil seguir e imitar do que, realmente, libertar o pensamento da limitação do medo, e bem assim, da compulsão e da autoridade. Admitir a autoridade é se abandonar à influência de outro, o que implica sempre o propósito, o desejo de se obter algo em retorno; ao passo que na outra há absoluta insegurança; e como as pessoas preferem a ilusão do conforto, da segurança, seguem a autoridade com sua frustração. Se, porém, a mente discerne a ilusão de conforto ou da segurança, nasce a inteligência, o desconhecido, a essência da vida.
(...)
O seguir a outrem não é aconselhável, nem tão pouco o é a aceitação da autoridade, pois que nestas coisas há medo; e o medo destrói todo o discernimento.
(...)
Quase todas as pessoas são inconscientes tanto da inteligência como da estupidez que a cerca. Porém, como poderá cada indivíduo averiguar o que é estupidez e o que é inteligência, se seu pensamento e ação estão baseados no medo e na autoridade? Individualmente, temos de nos tornar percebidos, conscientes dessas condições de limitadoras.
(...)
Por meio da ansiedade, do desejo, gera-se o medo, e deste surge a busca de conforto e segurança, encontrados na autoridade da experiência.
(...)
Esta autoridade em suas várias formas sustenta o processo do "eu", que se baseia no medo.

Considerai os pensamentos, atividades e a natureza da moral de vocês, e verão que estão baseados no medo que se quer proteger a si próprio com suas autoridades sutis e confortadoras. Deste modo, a ação nascida do medo está sempre limitando a si própria e, portanto, esse processo do "eu" é mantenedor de si mesmo, por meio de suas atividades desejantes.
(...)
Se a autoridade deve existir ou não, na escola ou na família, é coisa que terá resposta, quando vocês próprios compreenderem o inteiro significado da autoridade.

O que eu entendo por autoridade é a conformação, pelo medo, a um molde particular, seja o padrão do ambiente, o da tradição, o do ideal ou o da memória. Tomai a religião tal qual ela é. Nela observam que, por meio da fé e da crença, o homem foi aprisionado numa prisão de autoridade, porque cada um está buscando a sua própria segurança, através daquilo que ele chama imortalidade. Isto nada mais é que egoísta ânsia de continuidade, e o homem que afirma existir a imortalidade proporciona uma garantia à sua segurança.

Assim, gradualmente, por meio do medo, ele chega a aceitar a autoridade, a autoridade das ameaças religiosas, dos temores, das superstições, das esperanças e das crenças. Ou então, rejeita as autoridades externas e desenvolve os seus próprios ideias pessoais, que se tornam autoridades próprias, apegando-se a elas, na esperança de não ser ferido pela vida. Assim, a autoridade torna-se um meio de própria defesa contra a vida, contra a inteligência.

Krishnamurti — O medo — 1946 — ICK

Onde há apego, há medo.


A meta das emoções é o desapego afetivo. Ser capaz de amar sem apego — sem o desejo de posse — é a perfeição absoluta da emoção.

O apego não traz a liberdade, traz somente o sofrimento, mais cedo ou mais tarde.

Não sabem o que é o medo?

Se, na casa de vocês, não há nada de valor a que estejam apegados, então não temereis ao próximo, suas janelas e portas permanecerão abertas. Mas, quando estão apegados, o medo se encontra no coração de vocês; então, colocam trancas nas janelas, então fecham à chave, as suas portas. Isolam-se.
A mente reuniu certos valores, tesouros, e pretendem guardá-los.

Se o valor destas posses é colocado em dúvida, há o despertar do medo. Pelo medo nós as guardamos mais zelosamente, ou vendemos as velhas e adquirimos as novas, que protegeremos com maior astúcia. Damos vários nomes a esse isolamento.

Pergunto-lhes se têm algo preciso em na mente de vocês, no coração, que estejam guardando. Se têm, estão, forçosamente devem criar paredes contra o medo, e esta resistência é designada por vários nomes — amor, vontade, virtude, caráter.

Vocês têm algo precioso? Vocês têm algo que possa lhes ser arrebatado, a posição de vocês, as ambições, os desejos, as esperanças?

O que atualmente vocês possuem? Podem ter posses mundanas que tentam salvaguardar. A fim de protegê-las, vocês tem o imperialismo, o nacionalismo, as distinções de classe. Cada indivíduo, cada nação está fazendo isso, gerando o ódio e a guerra. Pode o medo da perda ser totalmente removido? Todos os indícios mostram que ele não pode ser extirpado por uma proteção maior, um maior nacionalismo, maior imperialismo.

Onde há apego, há medo.
(...)
Quando vocês se apegam a alguma coisa, quando se amoldam em conformidade com um padrão, manifesta-se o medo. Se, porém, buscarem o entendimento liberto da ilusão do tempo, então o temor desaparecerá. Quando estiverem livres de lucro pessoal que exige ideais para seu conforto, então o temor será destruído.

Para ficarem isentos de medo, vocês têm que conhecer a si mesmos, as suas ilusões e vaidades, e perceber sua própria vacuidade de ser, precisam libertar a mente do fardo da crença, da ânsia, da esperança e da lamentação. Então, existirá a verdadeira compreensão da vida.

Krishnamurti – O medo – 1946 - ICK

Existe alma?


A alma é uma divisão nascida da ilusão.
(...)
O que temos em vista quando falamos a respeito de uma alma? Referimo-nos a uma consciência limitada. Para mim há somente a vida eterna — em contraste com essa consciência limitada que chamamos "eu".
(...)
A maioria das pessoas acredita na existência da alma sob uma forma ou outra forma. Não compreenderão o que vou dizer, se, em defesa simplesmente disto, se opuserem ou citarem alguma autoridade da crença por vocês cultivada, através da tradição e do medo; nem pode esta crença ser chamada intuição, quando é apenas uma vaga esperança.

A ilusão divide-se a si própria, infinitamente.

Primeiramente, vocês tem o corpo, depois a alma que o ocupa e, finalmente, Deus ou a Realidade: é assim que vocês tem dividido a vida.

A consciência limitada do "eu" é o resultado das ações incompletas e esta consciência limitada vai criando suas próprias ilusões, prisioneira de sua própria ignorância, e quando a mente está liberta de sua própria ignorância e ilusão, então manifesta-se a realidade; não são "vocês" que se tornam essa realidade.

Por favor, não aceitem o que digo, porém, comecem a investigar e a compreender como é que a crença de vocês veio à existência.

Então verão de que maneira sutil a mente dividiu a vida. Começarão a compreender o significado desta divisão, que é numa forma sutil do desejo egoísta de continuidade.

Enquanto esta ilusão, com todas as suas sutilezas, existir, não pode haver realidade.

Como este é um dos assuntos de maior controvérsia e existe tanto preconceito relativo à ele, importa ser muito cuidadoso, para não se deixar dirigir pelas opiniões pró ou contra a ideia de alma. Para compreender a realidade, a mente tem de estar, completamente livre da limitação do medo, com sua ânsia de continuidade egoísta.
(...)
Não se detenham em compreender a alma, porém, em lugar disso, procurem compreender a vida da alma.

Krishnamurti – O medo – 1946 - ICK
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