Aviso aos navegantes

Este blog é apenas uma voz que clama no deserto deste mundo dolorosamente atribulado; há outros e em muitos países. Sua mensagem é simples, porém sutil. É uma espécie de flecha literária lançada ao acaso, mas é guiada por mãos superiores às nossas. À você cabe saber separar o joio do trigo...

30 de junho de 2012

Necessidades básicas para a prestação de serviço evolutivo

Em um planeta onde a deterioração dos valores conduziu a vida externa a um estado de caos, a energia espiritual não pode ser condescendente com as vibrações dos níveis de personalidade. Para que os homens possam executar tarefas que contem com o auxílio direto da Hierarquia é preciso que neles haja:
  • cristalinidade de meta;
  • disponibilidade irristrita para transcender as próprias limitações;
  • capacidade de ser grato por tudo o que ocorre — a gratidão é como um rio de águas límpidas, pode desanuviar estados ilusórios;
  • capacidade de frear mecanismos da personalidade que tentam justificar atitudes que já não correspondem à necessidade da essência interior;
  • fé, que é a base do caminho interno.
Toda a existência encontra-se sintetizada no momento presente. Tudo o que pode vir a ser é nele construído.  Se o inidvíduo não tem condições de contatar a energia do momento presente, não está pronto para o toque da eternidade: seria fulminado por esse toque, já que a ilusão na qual se encontra o impede de acolher vibrações de frequências mais elevadas.

É preciso amar intensamente a verdade para que ela encontre abertura e possa retirar os véus que encobrem o caminho espiritual. É preciso coragem para assumir um processo de contínua negação do ego, e encontrar os núcleos internos de consciência que fazem pressão para estender suas energias até a vida material.




Uma releitura dos princípios espirituais dos grupos anônimos

Autoconhecimento ou egoconhecimento?

Os filmes como ferramenta de apoio no processo de observação de si mesmo

De mente aberta até a ilusão traz percepção

Observando o condicionamento formulador de imagens

Enfrentando a falsa imagem do amor

Depoimento Deca

Filme: Bastidores de um casamento

Título original: Another Happy Day
Duração: 119 minutos (1 hora e 59 minutos)
Gênero: Drama
Direção: Sam Levinson
Ano: 2011
Elenco: Ellen Barkin (Lynn), Ezra Miller (Elliot), Ellen Burstyn (Doris), Demi Moore (Patty), Thomas Haden Church (Paul), Kate Bosworth (Alice), George Kennedy (Joe), Jeffrey DeMunn (Lee), Michael Nardelli (Dylan), Daniel Yelsky (Ben), Siobhan Fallon (Bonnie As Como Siobhan Fallon Hogan), Diana Scarwid (Donna), Eamon O\'Rourke (Brandon), Lola Kirke (Charlie)

De fato, não é um filme para "entretenimento", mas sim, um filme para um estudo profundo da realidade dos inconfessáveis conflitos humanos. A crítica, com certeza vai dizer que o filme é ruim!... Mas, num olhar aprofundado, sem disfarces e escolhas, um olhar que quer ver a realidade do que é, e não a hipocrisia socialmente aceita, verá um filme bastante esclarecedor quanto ao processo formador de imagens separatistas, fragmentadores, processo esse que impede a capacidade de ver, tanto a si mesmo, como as demais quie nos cercam, impedindo assim a livre expressão do amor-compaixão. Ele mostra bem o modo como o ser humano vive preso nas imagens, nos ressentimentos proveninetes do passado e, como através dessas ressentidas imagens, acaba infectando a própria vida e a vida dos demais. 
 
Sinopse - É o casamento do filho de Lynn, de quem foi privada de acompanhar o crescimento por contra de um tumultuado divórcio e de uma briga entre Lynn, seu ex-marido (Thomas Haden Church) e sua esposa temperamental (Demi Moore). Enquanto isso, as três crianças criadas por Lynn (Ezra Miller, Kate Bosworth, Daniel Yelsky) mostram vários disturbios de comportamento, dos quais sua mãe (Ellen Burstin) e irmãs a culpa a todo momento. Tudo isso eclode durante o casamento, deixando a todos em situações ora dolorosas, ora hilariantes.

Sobre o mecanismo de dispersão mental

29 de junho de 2012

O que estamos buscando?

Conversa entre Deca, Nestor e Outsider em 30/03/2012

Dr. A. W. Anderson - Instrodução aos ensinamentos de Krishnamurti


J.Krishnamurti - Instrodução aos ensinamentos de J.Krishnamurti com Dr. A. W. Anderson

Sobre a tensão interna diante da mudança de " moradas de consciência"

Quando a energia interna consegue tocar de modo mais firme as partículas materiais dos corpos de um ser, imprimindo-lhes serena abertura, ocorrem transformações sem que para isso ele faça qualquer esforço ou se preocupe com o processo de cura em ato.
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Em geral, as grandes mudanças na consciência de um ser vêm acompanhadas de situações que exigem dele aplicação do que já foi até então compreendido. Tais situações trazem-lhe alto grau de tensão interna, a ponto de parecer impossível vivê-las corretamente. Porém, se o ser se abre para receber ajudas supra-humanas, avanços inimagináveis podem ocorrer. Ao reconhecer sua incapacidade humana e ao voltar-se para o Desconhecido, de lá recebe energias salvíficas e regeneradoras, que o marcam profundamente, engrandecendo-lhe a fé e impulsionando-o no caminho tanto quanto a inteireza de sua entrega o permita.
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Os homens, em sua maioria, não acolhem serenamente o que os faz sofrer. Porém, vale lembrar que hoje as expressões dessa maioria pouco servem de referência como padrões de conduta a serem seguidos.
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O aprendizado de verdadeiros valores faz-se por meio de uma entrega tão plena que mantenha a consciência em equanimidade perante o deleite e a dor, perante a sublimidade da luz espiritual e a densidade da vida concreta. É, portanto necessário aprender a extrair de cada situação a Fonte de Vida nela ocultada, e a doar-se silenciosamente à sua mais perfeita expressão.
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 Um ponto a ser eliminado da consciência dos que trilham o caminho espiritual é o medo de errar. O erro é gerado por aspectos que distorcem a pureza da energia original. Porém, se existe no indivíduo uma sincera disposição para agir corretamente, o próprio erro é utilizado para romper os véus que o impedem de ver os aspectos a serem transcendidos em si mesmo. Muitas vezes, por tentar manter ocultas suas imperfeições, o indivíduo não permite que sejam removidas.
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É preciso estar disposto a deixar que a luz penetre livremente na consciência, mostrando horizontes de beleza inefável, mas também tornando visíveis facetas malformadas. Que outro motivo, além do orgulho, pode fazer com que um indivíduo que se dedica a uma vida reta e justa envergonhe-se de cometer erros?
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No decorrer dos processos de sublimação das energias em um ser, de lapidação e de purificação dos seus corpos e da própria matéria que os compõe, os aspectos densos são paulatinamente removidos para cederem lugar a vibrações mais sutis.
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No futuro, a humanidade habitará corpos mais sutis e poderá expressar com maior perfeição a imanência do espírito. Vida e forma estarão mais próximas da imagem arquetípica e rumarão, com maior harmonia, à união profunda com a essência criadora.

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Todos os que aderem ao processo evolutivo invariavelmente passam por provas que os levam a confirmar seus votos internos. Quanto mais sua consciência estiver aberta a mudanças, mais poderá usufruir a renovação trazida por esses momentos. Um período de provas é, antes de tudo, um período de ensinamentos; dinamiza intensamente as energias do ser e desperta novas áreas de sua consciência externa. Aprende-se quando se cai, aprende-se quando se consegue superar obstáculos, estando presente a intensão de persistir e de transcender estágios retrógrados. 
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Muitos estão atingindo um estado de maior desligamento das coisas do mundo. No princípio a vivência desse estado traz uma espécie de vazio, que não se plenifica de imediato, mas só quando o ser permite que as energias internas assumam a regência de seus passos. Enquanto essa permissão não é dada, o vazio incomoda. Mas será depois sua própria morada, uma das expressões mais sublimes de sua entrega.
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A personalidade é fruto de todo o passado do ser na superfície da Terra, desde o seu ingresso humano. Tantos são os mecanismos nela presentes, que somente a graça pode redimi-la e elevá-la, conduzindo-a à absorção em um nível superior. 
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É preciso recolhimento para que um trabalho de cura possa transcorrer na sintonia correta, principalmente nas fases em que ele está se plasmando, em que se está formando nos níveis de consciência materiais. A partir de estágios evolutivos mais avançados, quando a consciência externa do ser já se fundiu plenamente em núcleos interiores, os cuidados e precauções pertinentes às primeiras fases não são mais necessários. Todavia, nas etapas iniciais, é preciso dedicação e serena persistência para construir a ligação do que está em cima com o que está embaixo.
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A trajetória evolutiva exige constante renovação do estágio alcançado. É bela poe sua própria natureza renovadora, pois está em permanente atualização. É sábia por considerar toda a existência quando determina os rumos que levarão o ser a acercar-se de núcleos cada vez mais potentes. Enquanto no ser prevalecem aspectos da personalidade, eles ofuscam o fulgor da luz interna e o impedem de ter clareza. Qualquer estágio evolutivo alcançado, por melhor que seja, deve ser ultrapassado quando a vida interior preme por desbravar novas regiões de consciência. Portanto, a energia espiritual procura sempre atualizar todos os níveis de existência do ser. Realiza isso sem estimular os movimentos naturais dos seus corpos densos, sem criar neles ansiedades; transmite-lhe amor, propicia a entrega e também a determinação de avançar.  Em um planeta onde a deterioração do valores conduziu a vida externa a um estado de caos, a energia espiritual não pode ser condescendente com as vibrações dos níveis da personalidade.
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Toda a existência encontra-se sintetizada no momento presente. Tudo o que pode vir a ser é nele construído. Se o indivíduo não tem condições de contatar a energia do momento presente, não está pronto para o toque da eternidade: seria fulminado por esse toque, já que a ilusão na qual se encontra o impede de acolher vibrações de frequências mais elevadas. É preciso amar intensamente a verdade para que ela encontre abertura e possa retirar os véus que encobrem o caminho espiritual. É preciso coragem para assumir um processo de contínua negação do ego, e e encontrar os núcleos internos da consciência que fazem pressão para estender suas energias até a vida material.
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28 de junho de 2012

Observar, sem absorver para absolver o Ser que somos


Observar os movimentos da mente, das emoções, dos sentimentos, de forma totalmente neutra, sem escolher, sem rejeitar, sem querer alterar a qualidade daquilo que se observa; apenas observar de forma passiva, sem se identificar, sem correr para alguma forma de reação com base no arquivo de memórias e conhecimentos. Ficar aqui e agora, só na observação daquilo que se passa... Testemunhar o movimento da mente na ponte do tempo, nessa constante e ininterrupta ação julgadora com base no passado, criando imaginações, conjecturas, quase sempre separatistas, num futuro distante. Verificar o modo como o “eu”, o “ego” tenta de toda forma dispersar a vivência direta do aqui e agora, onde se encontra a possibilidade de contato consciente com o ser que somos; esse ser que é totalmente livre de ansiedades, medos, apegos, ressentimentos, melindres, autoenganos, que é totalmente incapaz de fazer como o “ego”, o qual faz uso de outro ser humano apenas para a satisfação de suas exigências autocentradas, descartando as mesmas, de forma inconsequente, após a conquista de sua satisfação insatisfatória.

Observar como a mente faz uso até daquilo que está sendo observado como forma de instalação de conflito por meio da identificação. Quando olhamos para o passado, o qual teve toda sua estruturação alicerçada num modo de ser totalmente dominado pelo governo do pensamento condicionado, logicamente, erros e enganos serão uma observação constante. Uma mente governada por uma rede de condicionamentos é uma mente que não tem espaço para a manifestação de uma consciência amorosa e, portanto, não tem como saber por experiência direta o que seja amor; tudo o que essa mente busca é pelo auto-interesse, pela busca da segurança, do poder, do prestígio, do reconhecimento social e validação de terceiros e pela satisfação dos nossos instintos naturais, totalmente deturpados pela ação do egoísmo, pela ação da rede dos pensamentos condicionados. Esse tem sido o modo de vida da quase totalidade da raça humana. Observar essa constatação de como vivemos até então, inicialmente, tende a se mostrar algo muito doloroso, algo muito conflitante, uma vez que, o pensamento condicionado, ciente de que, por meio dessa observação pode ter seu império ameaçado, apodera-se do conteúdo dessa observação, absorve-o como material necessário para a continuidade de sua espiral de conflitos separatistas, fragmentadores. A partir disso, lança de forma automática — ou seja, sem que solicitemos por isso — uma poderosa e acelerada avalanche de imagens e falas que, se não houver um estado de "alerta presença", tem o poder de causar a identificação, a qual dissimina toda forma de letargia ou de ansiedade, ambos acompanhados de vários sintomas torturantes. O que se pede aqui, novamente, é a consciente prática de observação de todo movimento do conteúdo mental, emocional, psíquico, sem qualquer tipo de identificação reativa, sem qualquer espécie de fuga; apenas ver, apenas observar, mesmo que difícil e doloroso, apenas observar. A mente vai pular, a mente vai gritar, vai exigir por reação; ela precisa disso, é seu alimento, é sua continuidade; ela é sagaz, sutil, enganadora, com um forte poder de enredamento.

Como até então, a maioria de nós, nunca havia desenvolvido essa capacidade de se entregar para o processo de observação, de forma autônoma, ou seja, sem a necessidade de buscar por doações psicológicas de fora — até mesmo na ideia psicológica de um Deus salvador —, é muito natural que neste momento, a mente insista nesse movimento de recorrer ao “achismo”, à “experiência de terceiros”, ao que diz o “livro do outro”, para ajudá-la na compreensão do conflito por ela mesmo criado. No entanto, aqui é preciso perceber que esse é um dos mecanismos da mente pela qual tenta garantir a continuidade de seu domínio, uma vez que, quase sempre, acaba fazendo uso do que é ouvido, de forma limitada, por parte de outro ser humano, para criar ainda mais conflito, ao conflito já anteriormente instalado. Nesse momento, se faz extremamente necessário fazer frente ao adolescente impulso de recorrer ao livro, ao grupo espiritualista da qual se faz parte, ao psicólogo, ao mentor espiritual — seja lá qual for a atual “droga anestesiante” de nossa escolha, para evitar a dor que se instala diante do processo de observação. Aqui se faz necessário a consciência de que, como diz o músico-poeta, “fugir da dor é fugir da própria cura”; é preciso pagar o preço de se abrir para o desconhecido de nós mesmos, reunir forças para fazer frente a esse processo, o qual a mente, para se defender de sua ação, nos apresentará como sendo um processo que aponta tão somente para uma forma insana de masoquismo. Precisamos ter a consciência de que rotular e justificar é uma de suas “insanas proezas”. No entanto, se analisarmos bem, veremos que, o que podemos chamar de masoquismo é se permitir a continuidade dessa identificação limitante com o “eu”, com o “ego”, com essa “voz incessante dentro de nossa mente”, profundamente castradora e separatista, a qual nos impede o descobrimento daquilo que, nos grupos anônimos, convencionou-se chamar de “aquisição da capacidade de amar”, ou, se preferir, de “contato consciente com Deus”.

Claro que o que se pede aqui não é de forma alguma, uma prática serena; por isso que afirmo ser este momento, o grande estado de prontificação que separa os adultos dos adolescentes psicológicos. Quando nos abrimos para esse estado de prontificação para a observação de todo material do conteúdo mental, emocional, psíquico, começamos a perceber que, por mais dolorido, por mais difícil que seja fazer frente a esse “processo curativo”  — de forma autônoma  —, a dor sentida nesse processo de observação, “também passa” e, quando da passagem da mesma, uma energia até então nunca experimentada, uma presença nunca antes vivenciada, a qual traz consigo um sentimento de maturidade, em nosso interior, bem no centro de nosso plexo cardíaco, — algo parecido com uma chama quente  — se manifesta de forma amorosa e pacificadora, trazendo consigo, o material necessário para a compreensão de nós mesmos e, assim, a possibilidade de "absolvição de nossa real natureza". Para isto, é preciso estar farto de tanto correr, é preciso estar farto de tanto reagir, é preciso estar farto de tanto mendigar por atenção de terceiros; é preciso ter caminhado muito, mesmo que de modo trôpego, pelo imenso deserto do real, para se perceber pronto para a consciência de que, aqui e agora, a atenção precisa ser nossa. Seja lá o que se apresentar, com atenção, observar...

Nessa observação sem escolhas é que, de forma milagrosa, sem o esforço de uma ação externa de nossa parte, vamos aos poucos percebendo a manifestação de um estado de ser, dotado de certa autonomia e autosuficiência psicológica nunca antes imaginada; uma nova capacidade de confiar em nosso poder de percepção, em nossa capacidade de fazer frente a cada desafiante situação. Um "estado de presença" começa a tomar conta do ser que somos; uma nova visão de nós mesmos e do mundo que nos cerca, agora nos brinda com um profundo sentimento de responsabilidade pela manutenção da integridade recentemente agraciada, o que acaba nos dando a capacidade de não mais opinar em questões alheias e de não mais entrar  —  como fazíamos de forma automática e reativa —, num compulsivo e separatista ciclo de controvérsias públicas. Começamos a perceber, sem esforço, o momento emocional, psíquico, daqueles que nos cercam; começamos a perceber como nunca antes, as dores de um mundo totalmente dominado pela separatista e fragmentadora rede de condicionamentos, da qual também por décadas, nos vimos prisioneiros. Uma sensibilidade compassiva  — que nenhuma relação tem com nossa antiga emotividade neurótica  — toma conta de nosso olhar e coração, chamando-nos então, para a responsabilidade de nossa participação através de alguma forma de trabalho evolutivo, onde cada momento — ao contrário da rotina de outrora —, mostra-se como uma enorme possibilidade de gratificante aventura. O sentimento de inveja é substituído pelo sentimento de alegria diante das conquistas de novas "moradas de consciência" por parte de nossos confrades fraternos caminhantes. Deixa de operar em nós, o antigo processo formador de imagens, o qual nos impedia o desfrute de uma verdadeira intimidade, tanto com nós mesmos, com o nosso próximo, como com a natureza na qual somos parte integrante.

Em vista disso, caro confrade desperto, é que lhe lançamos o convite para a ousadia gratificante:

"Observar, sem absorver, para absolver, a realidade do Ser que somos"...

Bem haja excelência no agora que é você!

Um fraterbraço e um chute em suas canelas!
Outsider44 

Transmutando as forças negativas

Para a humanidade comum, a verdade espiritual torna-se realidade quando captada, absorvida e manifestada externamente por um ser que para isso atue como canal. A partir de então, essa verdade pode ser transmitida aos demais, por diferentes vias, sejam elas visíveis ou ocultas. 

Em princípio, a manifestação do Plano Evolutivo na Terra decorre da dinamização do potencial energético interno de alguns homens. Porém, como todo trabalho interior, essa dinamização repercute de modo potente na vida material não só deles, mas do planeta inteiro. 

Uma das singularidades da tarefa de um servidor do Plano Evolutivo é a vitalização de um desígnio da Hierarquia. Isso só é possível com o desenvolvimento e o aprofundamento da fé, e com a capacidade de manter acesa na vida manifestada a chama interior. 

Como o objetivo básico da Hierarquia é servir, o serviço tem importância fundamental na vida dos seres que são canais de manifestações espirituais. Todavia, existem muitas maneiras de servir, e ao buscador cabe descobri-las, à medida que avança em sua trajetória evolutiva, pois cada indivíduo encontra o seu modo de aproximar-se da luz. Por isso é aconselhável não determinar métodos rígidos, que possam tolher o desenvolvimento desse processo. Para que seja autêntico, é necessário que no ser exista uma sede tão grande que por nada desanime de alcançar a Fonte. Se assim não for — se ele utilizar métodos artificiais, copiados de outros  — a qualquer momento pode sair da trilha que o conduz, pois não a conhece realmente. 

O servidor do Plano Evolutivo tem de encontrar os degraus que o levarão a penetrar os níveis espirituais da existência. Tem de descobrir sua própria forma de orar e diligentemente dedicar-se a ela. Momentos de silêncio, manifestações que expressem impulsos internos, atividades em louvor à Vida Una  — todos os meios são válidos, porém ele deve descobrir o que é adequado naquela fase de sua vida. Isso é percebido com o aquietamento, com a entrega, com a devotada persistência em conhecer o sublime amor. 

Naqueles que nutrem uma firme ligação com a vida espiritual há sempre uma alegria por dedicar alguns momentos a perceber o mundo invisível, no qual nuanças sutis da realidade se revelam e de onde fluem energias renovadas e purificadoras.

À medida que a atividade externa do servidor do Plano Evolutivo se amplia, como acontece nestes tempos de caos, aumenta a necessidade de transmutação do que é gerado no decorrer dessa atividade. Assim, os momentos de repouso físico são utilizados pelo ser interno para reequilibrar e purificar energias, o que muitas vezes pode ocorrer por meio de sonhos que retratem situações de luta e de conflito. 

Durante fases intensas de transmutação de forças negativas, às vezes personificadas, o servidor encontra fortaleza e paz quando reafirma a própria entrega ao que é eterno, ao que está firmado na luz da verdade, ao que nutre e irradia o amor capaz de transfigurar a Terra. 

Muitos estão atingindo um estado de maior desligamento das coisas do mundo. No princípio a vivência desse estado traz uma espécie de vazio, que não se plenifica de imediato, mas só quando o ser permite que as energias internas assumam a regência de seus passos. Enquanto essa permissão não é dada, o vazio incomoda. Mas será depois a sua própria morada, uma das expressões mais sublimes de sua entrega. 

De qualquer modo, é verdadeira a afirmação de que a humanidade está sendo conduzida a situações nas quais pontos-chave a serem trabalhados emergirão, e os votos e as decisões internas de cada um terão de ser confirmados. Havendo abertura, pode-se perceber a existência de grupos que, em níveis internos, realizam a importante tarefa de custodiar e dinamizar a energia que estimula o avanço espiritual dos homens.

Alguns autoconvocados já participam ativamente dessa rede de serviço. Entretanto, externamente nem sempre têm consciência da existência delas e, se se distanciam da meta, afetam o grupo de que fazem parte. Os desvios nos quais incorram trazem restrições não só ao seu próprio processo individual, mas também à possibilidade de toda a humanidade ser redimida. Em outras palavras, seus desvios minam os alicerces que sustentam a fé na materialização de uma vida superior na face da Terra. 

Os integrantes dessas redes e os que estão em sintonia com elas trabalham em colaboração com a Hierarquia e podem contatar energias distintas, bem como captar partes diferentes do Plano Evolutivo. Assim, da união dos esforços e propósitos surge uma obra de maior auxílio ao planeta do que se todos estivessem conectados a uma expressão da sabedoria, a um mesmo Raio específico. Essas redes são prolongamentos dos grupos internos e permitem a existência de uma multiplicidade de manifestações. Por esse motivo, são de diferentes tipos os curadores espirituais. 

Relato de uma experiência de despertar

“Nas últimas semanas, o ataque de forças negativas foi muito intenso. Vi-me diante de situações e de envolvimentos que pensava estarem resolvidos. Na realidade, era como se os corpos estivessem sendo provados em pontos que o ser interno já havia superado. Há alguns anos vivi situações semelhantes, mas o que ocorria então era um processo da alma, que buscava imprimir nos corpos da personalidade certas determinações. Desta vez, percebia como se os corpos, eles mesmos, tivessem de superar estados negativos e atingir um nível de vibração mais elevado.

Foi um período difícil, de muitas lutas. Fiquei diante da natureza humana, com toda a sua limitação, constatando que nesse nível nada podia fazer por mim mesmo. A segurança que antes sentia com o respaldo da energia interna se esvaziara, transformando-se numa capa de orgulho a camuflar as tendências e idiossincrasias do ego. Não posso dizer que essa fase tenha sido uma “noite escura”, mas os corpos estavam entregues a si próprios. Nas quedas fazia intenção de levantar-me; nas vitórias, de prosseguir — mas caía em pensamento, em sentimento e ação.

A vigilância é necessária sempre, pois a conivência vai sutilmente se infiltrando, sugerindo pensamentos, insuflando a imaginação, estimulando desejos e, pior, justificando-os. A natureza material, por si mesma, não se eleva; por isso é preciso dar condições para que ela seja continuamente atraída para o Alto por uma energia superior.

Orava muito nesses momentos, numa intensidade que há tempos desconhecia. Conscientemente invocava a ajuda e a luz da Hierarquia. Via que cada célula dos meus corpos tinha de acender o fogo em seu interior, também eles tinham de aspirar ao Supremo.

Lembrei-me do trabalho realizado pela Mãe¹, no sentido de liberar a luz existente no âmago das células físicas.Ela dizia que seria fácil, para o seu ser interno, tornar o sadio corpo que usava; porém, não era esse o trabalho que ela tinha de fazer, mas sim o de levar cada célula a liberar a sua luz, a aspirar ao Divino.



Nas instruções deixadas pela Mãe² encontrei uma oração que me foi de auxílio:

Apodere-se dessas células,
Apodere-se desse cérebro,
Apodere-se desses nervos,
Apodere-se corpo,
Apodere-se dessa matéria,
Apodere-se desses átomos,
Om, Senhor Supremo,
Manifesta Teu Esplendor.

Nas provas que vivera, constatei profundamente a limitação dos seres, enquanto restritos ao âmbito humano e, dessa constatação, emergiu a percepção do sofrimento que paira sobre a vida de superfície. Certo dia, tendo passado o período de lutas mais veementes, estava em quietude quando de dentro de meu ser emergiu um intenso clamor, uma oferta a Deus, como nunca havia ocorrido. Não era um processo mental, era algo que fluía de dentro para fora, e me tomava por inteiro. A mente apenas observava. O meu ser ofertava-se, sem reservas, para assumir em si próprio a carga do sofrimento do mundo. Tal era a intensidade da energia naquele instante, que o consciente não apresentou temor algum a dores ou doenças. Tampouco restrições ou expectativas. Não era um desejo, era um movimento interno, pleno, diferente de situações anteriores nas quais ‘tinha a intenção de doar-me’. Naquele momento a doação aconteceu e tomou todo o meu ser. Era algo que não se podia engendrar intelectual ou emocionalmente, nem os níveis humanos podiam cercear. Apesar de incluí-los e de neles imprimir sua vibração, essa energia era independente desses níveis.

Não saberia dizer quanto tempo durou essa experiência. Parece-me ter sido rápida. Estas linhas muito parcamente retratam o que realmente se deu, pois foi algo que não pode ser descrito sem se tornar limitado.”

Imagem do Dia

Aquele que se destaca precisa ser sufocado, eliminado;
assim ocorre quando se está entre ignorantes!

Derrame de Lucidez, por Trigueirinho



O despertar da luz espiritual em um ser traz como consequência a depuração da energia dos corpos de que ele dispõe. Traz também a elevação da sua própria vibração e o desabrochar de virtudes que ampliam o grau em que a sua consciência reflete a vida de núcleos.
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Os contatos internos não são um privilégio de poucos, mas o caminho de todos. A mente, com seu discernimento, foi concedida aos homens com o propósito de que com ela construíssem uma ponte com a vida interior.
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O momento em que os contatos internos se revelam à consciência é secreto e desconhecido. É regulado por leis e ciclos que transcendem a percepção humana atual.
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Uma das decorrências fundamentais dos contatos internos autênticos é a aproximação, à vida concreta, das energias e qualidades sublimes da consciência que despertou para o divino, e a transmissão de estímulos para a realização da parte do Plano Evolutivo que cabe à humanidade cumprir.
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O grau evolutivo de um ser não se pode medir e, portanto, não deveria ser objeto de comparações ou de comentários. Todavia, é necessário cautela frente aos que propalam sabedoria sem que esteja firmada nos atos de sua vida.
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A expressão externa de um indivíduo está sempre aquém do nível alcançado por seus núcleos interiores; todavia, o descompasso entre esses níveis de consciência é progressivamente reduzido à medida que o ser cresce em fidelidade e obediência ao que lhe é indicado internamente.
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Se em sua ascensão o ser olhar para trás, desviar-se-á do rumo, afastar-se-á da meta e perderá a clareza que o guiava.
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Uma das provas que sucessivamente, e de modo cada vez mais sutil, é apresentada ao aspirante, ao discípulo ou ao iniciado, é a transcendência da ilusão própria do nível que ele está polarizado.
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Para que as leis de um nível de consciência possam ser apreendidas, é preciso total soltura do que é conhecido e do que já foi adquirido, pois as leis e os seus corolários diferem de um plano para outro, e uma mesma realidade apresenta-se de modo diverso em cada nível em que se exprime.
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Com a ampliação da consciência, o homem aprende a ver com os olhos da alma. Se a esta os frutos do seu labor são oferecidos, ele se torna um servidor do Plano Evolutivo. Deverá, então, alcançar patamares mais altos: será a ígnea percepção do nível monádico que lhe dará de maneira cristalina as chaves de sua tarefa junto à Hierarquia. Mesmo que não s encontre desperto e estável nesse elevado nível, a graça está sempre atuante e, sob a aura do Instrutor interno, ele poderá ser tocado por energias cósmicas.
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A tarefa principal de todos os homens é amar a lei suprema. O único laço a ser neles fortalecido é o que os une a essa incognoscível essência de vida e poder. Nenhuma atividade, nenhum serviço, deve obscurecer o brilho da pura devoção e entrega. A devoção é para ser dirigida ao Infinito. A união, firmada com o Criador e não com as criaturas.
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Como um ator, que representa diferentes personagens e sabe que, na realidade, não é nenhum deles, o servidor do Plano Evolutivo deve atuar: viver no mundo o que lhe estiver destinado, sabendo que a ele não pertence, reconhecendo que sua origem transcende a vida material.
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O caminho breve revela-se à consciência que se deixa atrair pela Vida Inanimada, portal do Absoluto que se encontra no universo interior do próprio ser.
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Nada deste mundo deve retardar os passos do ser humano à superação do ponto evolutivo alcançado. Promessa alguma de bons serviços, de encontro com dádivas sagradas, de contatos com Instrutores e Mestres devem levá-lo a esquecer sua meta mais profunda.
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Na vida do ser, tudo deve estar em função da meta única, e ter o propósito de conduzi-lo pela senda do espírito.
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A realidade dos planos superiores não é construída pelo eu consciente. Existe independentemente da situação material e externa do ser ou do planeta. Espojando-se de si e esvaziando-se de todo o supérfluo, o ser deixa resplandecer a luz da essência: dinâmica, criadora, sem nome e sem forma.
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Na consciência de um ser que responde aos desígnios da Hierarquia deve estar presente uma serena disponibilidade para acompanhar as mudanças trazidas pelos novos ciclos. Qualquer modalidade de serviço deve ser por ele igualmente acolhida sem que nutra apegos, seja essa modalidade de trabalho uma tarefa silenciosa, seja a materialização de realidades sutis.
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A sabedoria dos universos não recomenda confronto direto com obstáculos. Tem em conta que, embora nuvens se coloquem à frente do Sol, ele sempre esparge sua luz; e que, quando o caos material se aguçar tentando impedir a ampliação da vida espiritual nos homens, o estímulo para a ascensão jamais faltará.  
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Quando o ser se dedica à necessidade, silenciam os clamores dos seus corpos, dissipam-se as suas ilusões e ele pode, então, aproximar-se do sagrado auto-esquecimento. Esse é o início da trilha que o conduzirá à verdade.
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O trabalho evolutivo equilibra: ao materialista, traz o imaterial; aos místicos, a realidade concreta.
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Para moldar o ferro é preciso aquecê-lo, mas também é preciso usar a força. Do mesmo modo, para que certos ajustes de vibração possam ocorrer nos corpos materiais de um ser, é necessário, juntamente com o calor do espírito, o ritmo externo que invoca a vontade-determinação.
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Quando uma tarefa de grande importância evolutiva é entregue a um ser, ele já percorreu uma longa trajetória na qual, mesmo sem saber, transpôs inúmeras provas e assim se preparou para etapas de maiores responsabilidades.
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Quando a energia interna consegue tocar de modo mais firme as partículas materiais dos corpos de um ser, imprimindo-lhes serena abertura, ocorrem transformações sem que para isso ele faça qualquer esforço ou se preocupe com o processo de cura em ato.
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A partir do momento em que a compreensão espiritual é atingida, o ser rende-se a ela, com amor e alegria, assumindo os passos que lhe são indicados. Livre de expectativas e temores, e tendo entregue ao Supremo o transcurso da sua existência material, descobre a serenidade.
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O egoísmo é a fone de todos os males do homem. Apesar de a focalização da atenção sobre si mesmo ser, a princípio, utilizada como vórtice atrativo da energia da alma a fim de ancorá-la nos corpos externos e levá-la a buscar experiências os níveis materiais, a partir de certo estágio evolutivo esse autocentramento torna-se nódulo resistente à transcendência, nódulo que precisa ser dissolvido e ter sua essência sintetizada e absorvida num plano superior. Nesse mecanismo está oculto o fundamento do processo de cura.
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Cura e Iniciação traçam o caminho de volta à Origem. Promovem a fusão dos seus vários núcleos de consciência, sua liberação da regência das leis materiais e seu ingresso em mundos sublimes, desconhecidos da mente racional.
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Em certos momentos cíclicos da vida de um indivíduo pode ser necessário um estímulo externo para que transformações importantes se concretizem. Todavia, nenhuma mudança que venha manifestar estados sutis consuma-se nos níveis externos do ser se não houver entrega e prontidão em obedecer à lei superior e, sobretudo, se não houver fé.
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O aforismo “quando o discípulo está pronto o Mestre aparece” é não só uma realidade interna, mas um fato na vida material. Até hoje, na Terra, não tem sido comum o indivíduo conseguir transcender certo estágio sem a ajuda de um ser mais experiente que lhe indique a trilha da observância às leis. Na superfície deste planeta, muitas são as investidas de forças dissuasivas, e sutis suas armadilhas, o que torna essa ajuda necessária. Entretanto, por ela não se entende dependência psicológica.
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Na senda interior o indivíduo estende a mão àquele que está na sua frente e também ao que lhe sucede. Essa senda é composta de uma corrente de seres, vidas e consciências que, em conjunto, se dirigem à libertação.
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É fácil o aspirante deixar-se iludir pelo que se pode chamar de ambição espiritual. Porém, se seus passos são calcados no desapego e na entrega, se a experiência interior fortalece sua humildade, tornando-o compassivo com os demais e sereno diante das provas que lhe são apresentadas, percorrerá essa estreita trilha com segurança e retidão, despertando por fim para a vida imaterial.
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27 de junho de 2012

Sobre o pensar condicionado

Como dissemos ontem, devemos observar as atividades do pensamento, porque vivemos a base de pensamentos. Todas as nossas ações se baseiam no pensamento, todos os nossos esforços deliberados tem por base o pensamento: nossas meditações, nossos cultos, nossas orações. O pensamento tem produzido as divisões de nacionalidades as quais dão origem as guerras, as divisões em religiões, como a judia, a árabe, a muçulmana, a cristã, a hindu, a budista, etc. O pensamento tem dividido o mundo não só geograficamente, senão também, psicologicamente, interiormente. O homem está fragmentado, dividido não só no nível psicológico mecânico de sua existência, senão também, em suas ocupações. Se você é um professor, possui seu pequeno círculo e vive dentro desse círculo. Se é um homem de negócios, se ocupa de fazer dinheiro, se é um político, vive dentro dessa área. E, se é uma pessoa religiosa, no sentido da palavra, com a prática de diversas formas de rituais, meditações, com a veneração a algum ídolo ou coisa assim, então, também vive uma vida fragmentada. Cada fragmento tem sua própria energia, sua própria capacidade, sua própria disciplina, e cada curso de ação joga um papel extraordinário em contradição com o outro curso. Vocês devem conhecer tudo isso. Esta divisão, tanto externamente, geograficamente, como no religioso, no nacionalismo e na relação que existe entre você mesmo e outro ser humano, é um enorme derrame de energia. É um conflito que dissipa nossa energia nas disputas, dividindo-nos, fazendo com que cada qual persiga o seu, suas próprias aspirações, que exija sua própria segurança pessoal, etc. Toda ação necessita de energia, todo pensar necessita de energia. Essa energia que se fragmenta de um modo constante, implica um desgaste energético. Quando uma energia contradiz outra, quando uma ação contradiz outra ação — dizer uma coisa e fazer outra, o qual é, obviamente, uma aceitação hipócrita da vida  —, há o derrame de energia. Todas essas atividades devem, por força, condicionar a mente, o cérebro. Estamos condicionados como hindus, budistas, muçulmanos, cristãos, com todas as superstições e crenças que isso implica. Estamos condicionados, a cerca disto não cabe nenhuma dúvida. Não podemos argumentar que não estamos condicionados; o estamos, religiosamente, politicamente, geograficamente.

Até que não estejamos livres do condicionamento, livres das atividades do pensar que cria os grandes problemas, esses problemas não poderão ser resolvidos. Necessita-se de um instrumento novo para resolver os problemas humanos. À medida que avançamos, conversaremos sobre isso, porém, não corresponde a quem lhes fala dizer-lhes qual é a nova qualidade desse instrumento; cada um há que descobrir por si mesmo. Por isso é que devemos pensar juntos, se é possível. Isso requer que vocês e quem lhes fala sentemos, investiguemos, examinemos, questionemos, coloquemos em dúvida todas essas coisas que o homem tem produzido, todas as coisas que temos criado como barreiras entre nós e outros. Como seres humanos que vivemos nesta formosa terra que é lentamente destruída, que é nossa terra, não a terra inglesa ou a terra norte-americana, temos que viver inteligentemente, ditosamente; porém, pelo que parece, isso não é possível, porque estamos condicionados. Este condicionamento é como o de um computador: estamos programados. Programados para ser hindus, mulçumanos, cristãos, católicos, protestantes. O mundo cristão tem sido programado durante dois mil anos, e o cérebro tem se condicionado, por causa desse programa, como um computador. Assim que nossos cérebros estão profundamente condicionados, e nos perguntamos se é possível de algum modo, livrar-se desse condicionamento. A menos que estejamos total, completamente livres dessa limitação, não tem sentido o mero inquirir ou averiguar em que consiste esse novo instrumento que não é o pensar.

Primeiramente, você deve começar muito perto para ir muito longe. Queremos chegar muito longe sem dar o primeiro passo, e quem sabe, o primeiro passo seja o último passo. Estamos compreendendo um ao outro, estamos nos comunicando ou estou falando para mim mesmo? Se estou falando para mim mesmo, posso fazê-lo em minha própria casa. Porém, se estamos falando para nós, se juntos estamos sustentando uma conversação, essa conversação possui um significado quando ambos nos encontramos no mesmo nível, com a mesma intensidade e ao mesmo tempo. Isso é amor. Essa é a verdadeira e profunda amizade. Para mim, esta não é uma conferência no sentido corrente da palavra. Juntos tratamos de examinar e resolver os problemas humanos. Isso requer muitíssima investigação, porque os problemas humanos são muito, muito complexos. Você deve possuir a qualidade da paciência, a qual não pertence ao tempo. Todos estamos impacientes por obter progresso: “Diga-me rapidamente isto ou aquilo”, porém, se vocês têm paciência, ou seja, se não estão tratando de obter algo, de alcançar algum fim, alguma meta, então, investiguem passo a passo.

Como dizíamos, estamos programados. Nosso cérebro humano é um processo mecânico. Nosso pensamento é um processo de caráter material, e esse pensamento tem sido condicionado para pensar como budista, hindu, cristão, e assim sucessivamente. De modo que nosso cérebro está condicionado. É possível nos libertar desse condicionamento? Estão os que dizem que isso não é possível, porque perguntam: Como pode ser que um cérebro, que tem sido condicionado durante tantos séculos e séculos, esse condicionamento ser eliminado de maneira tão completa que o cérebro humano seja natural, original e este dotado de uma capacidade infinita? Muitas pessoas afirmam isso e se satisfazem com a mera modificação do condicionamento. Porém nós dizemos que este condicionamento pode ser examinado, observado e que é possível libertar-se completamente dele. Para descobrir por nós mesmos se isso é possível ou não, devemos investigar nossa relação.

A relação é o espelho em que vemos a nós mesmos tal como somos. Toda vida é um movimento na relação. Não existe nada vivente sobre a Terra que não esteja relacionando com uma coisa ou outra. Ainda que um ermitão, um homem que caminha de maneira solitária, segue em relação com o passado e com aqueles que lhe rodeiam. Não é possível escapar da relação. Nessa relação, que é o espelho que nos permite ver a nós mesmos, podemos descobrir o que somos, nossas reações, nossos preconceitos e temores, as depressões e ansiedades, a solidão, a dor, a culpa, a angústia. Também podemos descobrir se amamos ou se não há tal coisa como o amor.  Portanto, examinaremos este problema da relação, porque a relação é a base do amor. É a única coisa que agora temos entre nós. Se você não pode descobrir a verdadeira relação, se vive a sua própria e estreita vida particular, aparte de sua esposa, de seu marido, etc., essa existência isolada engendra sua própria destruição.

A relação é a coisa mais extraordinariamente importante que há na vida. Se não compreendemos essa relação, não podemos criar uma nova sociedade.   Vamos investigar muito detidamente o que é a relação, porque os seres humanos, durante toda a sua longa existência como tais, jamais tem tido uma relação sem o sentimento possessivo, sem opressão, apego, contradição, etc. Por que existe sempre esta divisão: homem e mulher, nós e eles?... Vamos examinar isso juntos. Esse exame pode ser intelectual, ou seja, meramente verbal, porém, tal compreensão intelectual não tem nenhum valor. É tão só uma ideia, um conceito; porém, se podemos considerar nossa relação como algo total, então, talvez, possamos ver a profundidade, a beleza e a qualidade da relação. Estão de acordo, senhores? Podemos prosseguir? Perguntamo-nos qual é, de fato, a relação que agora temos um com o outro, não a relação teórica, romântica ou idealista — todas irreais —, senão a factual, a relação cotidiana que tem entre si o homem e a mulher. Estão relacionados em absoluto? Existe a relação biológica; essa relação é sexual, prazerosa. É possessão, apego, diversas formas de mútua intrusão.

O que é apego? Por que temos essa necessidade tão tremenda de apego? Que implica o apego? Por que nos apegamos? Quando estamos apegados a qualquer coisa, sempre há medo, de perder aquilo à que você se apega. Há sempre um sentimento de insegurança. Por favor, observem em si mesmos. Sempre existe um sentido de separação. Estou apegado à minha esposa. Apego-me a ela porque me brinda com prazer sexual, ou o prazer de sua companhia. Vocês conhecem tudo isso sem que eu os lhe diga. Estou, pois, apegado a ela, o qual quer dizer que estou ciumento, atemorizado. Onde há ciúmes, há ódio. E, amor é apego? Esse é um aspecto a ser observado em nossa relação.

Então, em nossa relação cada um tem criado, através dos anos, uma imagem a respeito do outro. Essas imagens que ele é ela tem criado, constituem a relação. Podem dormir juntos, porém o fato é que cada um tem uma imagem um do outro, e nessa relação entre imagens, como pode haver uma relação verdadeira, factual com o outro? Todos, desde a infância, temos formado imagens acerca de nós mesmos e dos demais. Esta pergunta que nos formulamos é muito, muito séria: Podemos viver sem uma só imagem em nossa relação? Por certo, todos vocês tem uma imagem de quem lhes fala, não é assim? Obviamente que a tem.  Por quê? Vocês não o conhecem, de fato não o conhecem. Ele se senta num estrado e lhes fala, porém, vocês não se relacionam com ele, porque possuem uma imagem a seu respeito. Tem criado uma imagem dele e tem suas próprias imagens pessoais a respeito de si mesmos. Possuem inumeráveis imagens dos políticos, dos homens de negócios, do guru, de isto e aquilo. Pode você, viver profundamente sem uma só imagem? A imagem pode ser uma conclusão a respeito de nossa esposa, uma representação mental, uma imagem sexual; pode ser a imagem de um vínculo melhor e assim sucessivamente. Por que os seres humanos têm imagens em absoluto? Por favor, formulem-se esta pergunta. Quando tem uma imagem do outro, essa imagem lhes comunica uma sensação de segurança.

O amor não é pensamento. O amor não é desejo, não é prazer, não é o movimento de imagens; e enquanto você tenha imagens do outro, não há amor. E nos perguntamos: è possível viver uma vida sem uma só imagem? Então, estão se relacionando um com o outro. Tal como ocorre hoje em dia, é igual como se fossem duas linhas paralelas, que jamais se encontram, exceto, sexualmente. Um homem vai ao escritório, é ambicioso, cobiçoso, invejoso, procura alcançar uma posição no mundo dos negócios, no mundo religioso, no profissional; e a mulher moderna também vai ao escritório, e ambos encontram no lar para engendrar filhos. E surge todo esse problema da responsabilidade, o problema da educação, da total indiferença. A vocês não importa no que depois poderão ser seus filhos, o que possa lhes acontecer. Querem que sejam como vocês: um casamento seguro, uma casa, um bom emprego, etc. Correto? Esta é nossa vida, nossa vida cotidiana, e é realmente uma vida deplorável. Por conseguinte, se vocês se perguntam por que os seres humanos vivem a base de imagens — todos os seus deuses são imagens, o deus cristão, o deus muçulmano e o deus de vocês —, verão que estas são criadas pelo pensamento, e o pensamento é inseguro, temeroso. Não há segurança nas coisas produzidas pelo pensamento. É possível, então, nos libertarmos de nosso condicionamento na relação? Ou seja, observar atenta, minuciosamente e persistentemente, no espelho da relação, quais são nossas reações, se são mecânicas, se são produto do hábito, da tradição. Nesse espelho descobrimos realmente o que somos. Em consequência, a relação é extraordinariamente importante.

Temos que investigar o que é observar, Como observam, no espelho da relação, o que são realmente? O que significa observar? Esta é, na verdade, outra coisa que temos que descobrir. O que significa olhar? Quando olham uma árvore, a coisa mais bela, mais maravilhosa que há sobre a terra, como a olham? O viram alguma vez, olharam alguma vez a Lua Nova, o contorno da Lua Nova, tão delicada, tão pura, tão jovem? Alguma vez a viram? Podem olhá-la sem usar a palavra “Lua”? Tudo isso, lhes interessa realmente? Continuarei como um rio que prossegue seu curso. Vocês estão sentados na beira de um rio e o contemplam, porém jamais chegam a ser o rio, porque nunca participam do rio, nunca se unem a beleza do movimento que não tem principio nem fim. Assim que, por favor, considerem o que é observar.

Quando observam uma árvore, ou a Lua, algo exterior a vocês, sempre usam as palavras “árvore”, “lua”. Podem olhar a Lua, a arvore, sem nomeá-los, sem o conteúdo da palavra, sem identificar a palavra com a arvore ou com a coisa? Agora, bem, podem olhar a esposa, o marido, os filhos, sem as palavras que os identificam, sem as imagens? Já o tentaram alguma vez? Quando observam sem uma palavra, sem um nome, sem a forma que tenham criado a respeito dele ou dela, nessa observação não há um centro do qual estejam observando. Descubram o que ocorre então. A palavra é pensamentoO pensamento se origina na memória. Temos, pois, a memória, a palavra, o pensamento, a imagem, que interferem entre si mesmo e o outro. Correto? Porém, não há pensamento que olhe, que observe, pensamento no sentido de palavra, de conteúdo e significado de palavra. Então, nessa observação não há um centro como o “eu” que olha o “você”. Só assim há uma verdadeira relação com o outro. Nisso existe a qualidade de aprender, uma qualidade de inquestionável sensibilidade e beleza.   

Krishnamurti – A mente que não mede – Madras, Índia, 26 de dezembro de 1982

Compreensão do significado da vida

Não há dúvida de que essa ideia de mentalidade sadia é inadequada como doutrina filosófica, porque os fatos maléficos que ela categoricamente se recusa a explicar são uma porção genuína da realidade; e eles podem ser, no fim das contas, a melhor chave para a compreensão do signifcado da vida e, possivelmente, os únicos que podem abrir os nossos olhos para os níveis mais profundos da verdade.

William James

Autoconhecimento

O indivíduo que quer ter uma resposta para o problema do mal, tal como ele se apresenta hoje em dia, precisa, acima de tudo, de autoconhecimento; quer dizer, do conhecimento mais absoluto possível da sua própria totalidade. Ele deve conhecer profundamente quanto bem ele pode fazer e que crimes é capaz, e deve ficar alerta para não considerar  uma coisa como real e a outra como ilusão. Ambas são elementos dentro da sua natureza e ambas devem vir à luz nele, caso queira - como deveria - viver sem se enganar ou se iludir.

C. G. Jung

26 de junho de 2012

Mente Iluminada — Eduardo Weaver

Palestra ministrada pelo teósofo e empresário Eduardo Weaver, no programa Em Busca do Autoconhecimento, que passa na TV Supren.

Tema: Mente Iluminada.

O palestrante aborda o tema da mente iluminada, analisando as condições e circunstâncias de como a mente pode se iluminar e o que atrapalha esta iluminação. Também faz reflexões, analogias e referências para aprofundar o assunto.

krishnamurti - O que entendemos por transformação?

A transformação não está no futuro, não pode estar no futuro. Ela só pode realizar-se agora, momento por momento. Assim sendo, que entendemos por transformação? Ora, é muito simples: é ver o falso como falso, e o verdadeiro como verdadeiro. Ver a verdade no falso, e ver o falso naquilo que foi aceito como verdade. Ver o falso como falso e o verdadeiro como verdadeiro, é transformação, porque quando se vê uma coisa como verdadeiro, é transformação, porque quando se vê uma coisa claramente, como verdade, esta verdade liberta. Quando se vê que uma coisa é falsa, esta coisa falsa se extingue. Quando se vê que as cerimônias são vãs repetições, quando se percebe a verdade a respeito desta coisa e não se justifica a coisa, há transformação, não há? — porque é mais um grilhão que se desfaz. Quando se vê que a distinção de classes é falsa, gera conflitos, cria miséria, divisão entre os homens, se se percebe a verdade a esse respeito, essa própria verdade liberta. O próprio percebimento dessa verdade é transformação, vocês não acham? Se, rodeados que estamos de tantas coisas falsas, percebemos sua falsidade, momento por momento, haverá transformação. A verdade não é cumulativa. Ela se apresenta momento a momento. O que é cumulativo, o que se acumula, é a memória, e através da memória nunca se achará a verdade, porque a memória acontece ao tempo, ao passado, ao presente e ao futuro. O tempo, que é continuidade, nunca achará aquilo que é eterno. A eternidade não é continuidade. O que tem duração não é eterno. A eternidade se acha no momento. A eternidade está no agora. O Agora não é reflexo do passado, nem continuação do passado através do presente, para o futuro.

A mente desejosa de transformação futura, ou que vê a transformação como um alvo final, nunca achará a verdade, porque a verdade é uma coisa que tem de vir de momento a momento, que tem de ser descoberta sempre de novo; não pode haver descobrimento pela acumulação. Como se pode descobrir o novo, levando-se a carga do velho? Só com o desaparecimento dessa carga, de descobre o novo. Para descobrir o novo, o eterno, no presente, momento por momento, é necessário ter a mente extraordinariamente vigilante, que a mente não esteja em busca de resultado algum, nem ocupada em vir a ser. A mente que está empenhada em vir a ser, jamais conhecerá a felicidade completa do contentamento; não o contentamento da complacência, não o contentamento por um resultado alcançado, mas o contentamento que vem quando a mente percebe a verdade em o que é, e a falsidade em o que é. A percepção dessa verdade é de cada momento, e essa percepção é retardada pela verbalização do momento. 

A transformação não é um fim, um resultado. A transformação não é um resultado. Resultado implica resíduo, uma causa e um efeito. Onde há causalidade, tem de haver efeito, necessariamente. O efeito é simplesmente o resultado do vosso desejo de transformação. Quando vocês desejam serem transformados, estão ainda pensando em termos de vir a ser; quem está empenhado em vir a ser não pode saber o que é ser. A verdade é ser, de momento a momento; e a felicidade que continua, não é felicidade. A felicidade é aquele estado de ser que é atemporal. O estado atemporal só pode vir quando há descontentamento tremendo — não o descontentamento que se canalizou em certa via, por onde se evade, mas o descontentamento que não tem saída, que não tem qualquer via de fuga, que não está em busca de preenchimento. Só então, nesse estado de supremo descontentamento, pode a realidade manifestar-se. Esta realidade não pode ser comprada, ou vendida, ou repetida. Não pode ser colhida nos livros. Ela tem de ser encontrada a cada momento, no sorriso, na lágrima, debaixo da folha morta, nos pensamentos erradios, na plenitude do amor. 

O amor não é diferente da verdade. O amor é aquele estado em que o processo de pensamento, como tempo, se imobilizou completamente. Onde há amor, há transformação. Sem amor, nada significa a revolução, porque a revolução, nesse caso, é simples destruição, decomposição, miséria crescente. Onde há amor, há revolução, porque o amor é transformação, momento por momento.

Krishnamurti - Sobre o Amor

Descobriremos o que é o amor se compreendermos o que o amor não é, porque, sendo o amor o desconhecido, só podemos nos aproximarmos dele depois de rejaitar o conhecido. O desconhecido não pode ser descoberto pela mente que está repleta do conhecido. O que vamos fazer, é procurar compreender os valores do conhecido, considerar o conhecido e, depois de o considerarmos, pura e simplesmente, sem condenação, a mente se tornará livre dele e saberemos, então, o que é o amor. Assim, devemos chegar-nos ao amor de maneira negativa e não, positiva.

O que é o amor para a maioria de nós? Quando dizemos que amamos uma pessoa, o que queremos dizer? Queremos dizer que possuímos a pessoa. Da posse nasce o ciúme, porque se eu o perder, ou a perder, o que acontecerá? me sentirei vazio, perdido. Por conseguinte, legalizo a posse, retenho-o, ou retenho-a em meu poder. Do possuir a pessoa, resulta o ciúme, resulta o temor e os inumeráveis conflitos inerente a posse. Ora, posse não é amor, é?

O amor, por certo, não é um sentimento. Ser sentimental, ser emotivo, não é indício de amor, porque a sentimentalidade e a emoção, não passam de meras sensações. A pessoa religiosa, que chora por Jesus, por Krishna, por seu guru ou por outro qualquer, é apenas sentimental, emotiva. Está se deixando dominar pela sensação, que é um processo do pensamento e o pensamento não é amor. O pensamento é resultado da sensação; assim, a pessoa sentimental, emotiva, não pode, de modo algum, conhecer o amor. Não somos emotivos e sentimentais? A sentimentalidade, a emotividade, são apenas uma forma de auto-expansão.  Estar cheio de emoção não é amor, por certo, porque uma pessoa sentimental pode ser cruel, quando seus sentimentos não são correspondidos, quando não pode dar expansão aos sentimentos. Uma pessoa emotiva pode ser incirada ao ódio, à guerra, ao morticídio. O homem sentimental, lacrimosamente religioso, esse homem por certo não tem amor. 

Perdão é amor? O que subentende o perdão? Você me insulta, eu me ressinto; guardo na memória o insulto. Depois, forçado pelas conveniências ou pelo arrependimento, digo, "lhe perdôo". primeiro guardo, depois rejeito. O que significa isso? Que eu continuo a ser a figura central. Continuo a ser importante; sou eu quem está perdoando. Com essa atitude eu é que sou importante, não o homem que supostamente me insultou. Por conseguinte, quando acumúlo ressentimentos, e depois rejeito esses ressentimentos, e a isso chamo eprdoar, não há amor. O homem que ama não guarda inimizade, todas essas coisas lhe são indifererentes.   Arrependimento, perdão, um estado de relação em que há posse, ciúme, medo — nada disso é amor. São só coisas da mente, não é verdade? Enquanto a mente for o árbitro, não há amor, porque a mente só arbitra segundo seu interêsse de posse, e seu veredicto é sempre em favor da posse, sob diferentes formas. A mente pode apenas corromper o amor; não pode fazer nascer o amor, não pode oferecer beleza. Você pode descrever um poema sobre o amor, mas isso não é amor. 

Por certo, não há amor, quando não há verdadeiro respeito, quando não respeitamos os nossos semelhantes, seja nosso criado, ou nosso amigo. Você já notou que não sabe respeitar, que não sabe ser benevolente, generoso para com seus criados, para com as pessoas ditas subalternas? Vocês têm respeito pelos que estão em cima, pelo patrão, pelo milionário, pelo homem que tem uma suntuosa residência e um título, pelo homem que pode lhes dar uma posição melhor, um emprego melhor, de quem vocês podem ganhar alguma coisa.Mas vocês tratam a pontapés os que estão abaixo de vocês; para esses, você têm uma linguagem especial. Por conseguinte, onde não há respeito, não há amor. Onde não há compaixão, caridade, benevolência, não há amor. E como a maioria de nós se acha nesse estado, não temos amor. Não somos nem respeitosos, nem compassivos, nem generosos. Somos dominados pelo desejo de posse, cheios de sentimentos e emoções, que podem ser dirigidos para qualquer lado, para o assassínio, para a matança, ou para a unificação em torno de algum plano estravagante e ignorante. Em tais condições, como pode haver amor? 

Vocês só conhecerão o amorquando todas essas coisas tiverem cessado, acabado, quando você não possuírem, quando não forem emocionalmente devotos à um objeto. Tal devoção é súplica, é busca de alguma coisa, de maneira diferente. O homem que reza não conhece o amor. Visto que vocês têm inclinação para a posse, visto que buscam um fim, um resultado pela devoção, pela oração, que torna vocês sentimentais, emotivos, não existem, naturalmente, amor; não há amor, é evidente, quando não há respeito. Vocês podem dizer que tem respeito, mas o respeito de vocês é pelo superior, simples respeito inspirado pelo desejo de alguma coisa, ou respeito do medo. Se vocês sentissem respeito, realmente seriam tão respeitosos para com os mais humildes como para os chamados superiores. Como não temos esse respeito, não temos amor. Quão piucos de nós são generosos, indulgentes e caridosos! Vocês são generosos quando quando isso lhes compensa; você são caridosos quando esperam alguma retribuição. Quando essas coisas desaparecerem e deixarem de ocupar as suas mentes, e quando as coisas da mente não mais encherem os seus corações, então haverá amor. E só o amor pode transformar a loucura, a insanidade que vai pelo mundo hoje em dia — e não os sistemas, nem as teorias,  quer da esquerda, quer da direita. Só amam realmente, quando não possuem, quando não são invejosos, ávidos, quando são respeitosos, quando vocês têm compaixão e caridade, quando vocês têm consideração para com sua esposa, seus filhos, seu vizinho, seus pobres criados. 

O amor não pode ser pensado, o amor não pode ser cultivado, o amor não pode ser exercitado. A prática do amor, o exercitar da fraternidade,  está ainda dentro da esfera da mente e, por conseguinte, não é amor. Quando tudo isso tiver cessado, então, nascerá o amor, e você saberão então o que é amar. O amor não é então quantitativo, mas qualitativo. Vocês não dizem "amo o mundo inteiro"; quando sabem amar a um só, sabem amar o todo. Porque não sabemos amar a um só, nosso amor à Humanidade é fictício. Quando você amam, não há nem um, nem muitos: só há amor. 

Só quando houver amor, poderão todos os problemas ser resolvidos, e  conheceremos então a sua bem-aventurança, sua felicidade.

Em busca de transcendência

Da inverdade da paixão pelo desejo,
ao desejo da paixão pela Verdade.

"Bem aventurados os puros de coração,
porque eles verão a Deus...
...Quando o olho for único,
o corpo inteiro será luz"


A concepção num lar de inverdades encobertas dá início a um processo de corrupção, o qual leva ao embotamento mental e ao abafamento do instinto intuitivo e do criativo, os quais só podem ser recuperados por meio de um incondicionado "processo de escuta". Isso nos deixou bem claro, Willian James, considerado por muitos como o pai da Psicologia Transpessoal, num de seus textos, como se segue abaixo:

"A 'prática' pode mudar nosso horizonte teórico, e isso de maneira dupla: pode levar-nos a mundos novos e assegurar-nos novos poderes. O conhecimento que jamais alcançaríamos, se continuássemos a ser o que somos, será atingido em consequência de poderes mais altos e de uma vida superior, que podemos lograr moralmente."

Caro confrade desperto, ao entrar nesta sala e ao se decidir percorrer o conteúdo de nosso Blog, antes, pedimos para que se certifique muito bem, de que você esteja buscando unicamente, tão somente, pela Verdade; que esteja igualmente pronto para assumir as posturas que lhe serão exigidas mediante o conhecimento da mesma, tendo em vista que, toda verdade percebida e não assumida, produz em nós, assim como no mundo que nos cerca, ansiedades, doenças, conflitos e corrupção. Esta sala nos apresenta um conteúdo o qual nos possibilita aquilo que poderíamos chamar de uma espécie de "tratamento de choque intensivo", o qual é capaz de erradicar — desde que para isso estejamos prontos — toda forma de inverdade que possamos estar trazendo conosco. A capacidade psíquica que distingue os adultos dos adolescentes, se faz perceptível pela abertura  à desilusão da pior verdade, do que à ilusão da melhor mentira. Portanto, aqui é preciso ter em mente que a Verdade não é democrática, não é negociável; como nos dizeres de Gandhi, "a verdade é dura e cortante como diamante, mas também é doce como a flor de pessegueiro".  

Se queremos saborear a doçura da Verdade, é preciso que "estejamos prontos" para fazer frente ao conhecimento da irreal realidade que apresentamos à nós mesmos e ao mundo, isso por meio da ação de um minucioso e destemido inventário de nossos condicionamentos, crenças, preconceitos, manias, tendências e inconfessáveis neuroses, bem como do espírito que move nossos diversos tipos de relacionamentos. Para que isso se mostre possível, se faz necessário ter-se caminhado por anos e décadas, naquilo que chamamos de o "deserto do real" — ter sentido na pele, as dores resultantes do tédio e da insatisfação com sua mesmice operante —  e, por meio desse doloroso e entediante caminhar, se mostrar profundamente "sedento por plenitude", consciente que essa plenitude não pode ser adquirida por meio de valores finitos da horizontalidade, mas sim, dos valores da Verdade, estes encontrados em última análise, no mais profundo de nossa interioridade, de forma direta, visceral e intransferível. Portanto, aqui, humildade é o que possibilita esse "estado de prontificação", o qual traz consigo, tanto o poder de observação direta, sem escolhas, como o resultante silêncio meditativo, características do estado de ser que precede a ação direta da bem-aventurança da Verdade. Sem o preenchimento das indispensáveis condições espirituais, não há como saber por experiência direta, o significado "Daquela Coisa Inominável" que nos brinda com a verdadeira liberdade do espírito humano, bem como com Felicidade, Liberdade e o estado de Amor-compaixão. Portanto, para que possamos viver a ação direta da Graça da Verdade, se faz previamente necessário que já tenhamos superado o antigo estado de entorpecimento do espírito, com sua característica alergia reativa ao auto-conhecimento, esta caracterizada por um estado de surdez psíquica e emocional.

Sem esse trabalho de base, sem a prática de um minucioso e destemido inventário de nossos condicionamentos, qualquer movimento ou prática que aponte para um possível contato com a Verdade, não passará de um ilusório e narcísico escapismo místico estratosférico — o qual nos mantém temporariamente com a cabeça nas nuvens cor-de-rosa do torpor da ilusão espiritualista e com os pés atados pela grossa e intrincada rede de condicionamentos autocentrados na busca da aquisição materialista, na inconsequente satisfação dos instintos ou na estagnante procura por respeitabilidade social.

Sem a ação imprescindível de um minucioso inventário  daquilo que temos por verdade, não há como se manifestar a consciência de todo processo como fomos "degenerados" e, sem essa conscientização, torna-se impossível a adoção das necessárias atitudes capazes de fazer frente ao "processo curativo" capaz de nos brindar com as qualidades genuínas e não corrompidas do gênero humano, nas quais se encontra uma capacidade da faculdade do uso mental e intuitivo, de forma tão criativa, nunca antes sequer imaginada. Esse "processo curativo" nos liberta da ilusão de preenchimento de nossa profunda ânsia interior, através de falíveis e passíveis criações do exterior, percepção essa muito bem relatada nas palavras de Willian Law:

"Embora DEUS esteja presente em toda parte, Ele só está presente para ti na parte mais profunda e central de tua alma. Os sentidos naturais não podem possuir a Deus nem unir-te a Ele; na verdade, tuas faculdades interiores de entendimento, vontade e memória só podem procurar alcançar a Deus, mas não podem ser o local de Sua habitação em ti. Existe, porém, em ti uma raiz ou profundeza da qual emanam todas essas faculdades, feito linhas que partem de um centro, ou feito galhos que parte do corpo da árvore. A essa profundeza dá-se o nome de centro, fundamento, fundo da alma. Tal profundeza é a unidade, a eternidade — eu diria quase a infinidade — de tua alma; pois é tão infinita que nada pode satisfazê-la, nem dar-lhe descanso senão a infinidade de Deus".
Outsider44


Amor e centramento são a mesma coisa

Parte II - partilha Deca

25 de junho de 2012

A droga do narcísico devaneio místico escapista


Perdoar os pais



Desfazer aquilo que foi feito pela sociedade é a religião verdadeira - desfazer todo o absurdo que tem sido feito pelos seus benfeitores.

Eles podem achar que o estão ajudando, mas podem estar destruindo-o sem saber. Eles próprios podem ser vítimas dos pais e da sociedade. Eu não estou dizendo nada contra eles. Eles precisam de grande compaixão.

Gurdjieff costumava dizer a seus discípulos que um homem somente se torna religioso quando é capaz de perdoar os pais.

Perdoar? Sim, é assim que é. É muito difícil. No momento em que você se torna consciente, é muito difícil, quase impossível, perdoar seus pais, porque eles fizeram tantas coisas a você! Sem saber, é claro, num comportamento inconsciente, claro, mas ainda assim fizeram.

Eles destruíram seu amor e lhe deram a lógica morta. Eles destruíram sua inteligência e lhe deram, como substituto, o intelecto. Eles destruíram sua vida e sua vivacidade e lhe deram um padrão fixo de vida, um plano para se apoiar.

Eles destruíram sua direção e lhe deram uma destinação. Eles destruíram sua celebração e o transformaram em utilidades do mercado. É muito difícil perdoá-los, daí todas as antigas tradições dizerem para se respeitarem os pais.

É difícil perdoá-los; é muito, muito difícil respeitá-los. Mas se você compreender você os perdoará. Você dirá o mesmo que Jesus disse na cruz: “Pai, perdoai-os, pois eles não sabem o que fazem”.

Sim, são exatamente essas as palavras.

E todo mundo está na cruz - e a cruz não é preparada pelos seus inimigos, mas pelos seus pais, pela sociedade... e todo mundo está crucificado.

Osho

23 de junho de 2012

Educação para a Vida - Roberto Crema

O Porque de uma nova linguagem

Necessitamos inventar, com urgência, um código de comunicação transdisciplinar. Tenho constatado que uma das maiores dificuldades para a transmissão da abordagem holística diz respeito à insuficiência dos nossos habituais discursos. Não é possível falar do novo com a linguagem velha; não se coloca vinho novo em odre velho, afirma a sabedoria crística. Como transmitir uma mensagem inclusiva que contenha, ou possa dar abrigo, à visão científica, à do folósofo, à do poeta e à do místico? Este é um dos maiores e mais tocantes desafios a nossa frente: romper com a clausura dos fragmentados discursos das disciplinas. 

Na direção dessa nova linguagem, é fundamental, sobretudo à escuta de todas as dimensões humanas e, então, delas nos fazermos porta-vozes. Dar à nossa imensidão, eis o necessário atrevimento. Ao racional discurso acadêmico adicionarmos a codificação poética-metafórica e o prundo silêncio que fala do indizível. A voz do dia, da clara razão; a voz da noite, do abismo da alma; a voz do crespúsculo, o sonho do alvorecer e prece do anoitecer. A voz da palavra gerada e emoldurada na voz do silêncio. Tarefa apenas possível quando transcendemos as amarras de nossos adestramentos ferozes da disciplinariedade. 

Talvez o poeta tenha sido, na nossa cultura ocidental, o menos massacrado e reduzido, o menos parcializado. Aventureiro audacioso dos múltiplos discursos, o bom poeta é um sobrevivente da integridade, constituindo, assim, a sensível antena da nossa espécie, como afirma Dilthey. "Contradigo a mim mesmo porque sou vasto", bradava Ezra Pound. Só os estreitos não se contradizem. É imprescendível resgatar o poeta da nossa alma, na tarefa de desvelar um código que dê testemunho da razão e do coração, do objetivo e do subjetivo, do tangível e do intangível, enfim, da vastidão humana.

De tal forma estamos condicionados nos discursos disciplinares, exclusivistas e desidratados da pluridimensionalidade humana, que tal tarefa parece ser impossivel. Podemos constatar, entretanto, que essa nova linguagem é desenvolvida gradualmente, na medida em que o sujeito avança no aprendizado transdisciplinar, como uma transpiração natural da realização holística. A título de exemplos, considero belas amostragens dessa alquimia do verbo, na forma de livros: O universo é um dragão verde, do físico Brian Swimme e Onde Vivem as Lendas, do biólogo Lyall Watson.

Da mesma forma que construímos as nossas frases, igualmente o fazemos com nossas vidas, afirmam os neuro e psicolinguistas. Ao dizer a palavra, expressamos também a existência. Se edificamos com um viver mais amplo e integrado, também assim expressaremos a nossa palavra.

estamos sendo combatentes do árduo front de um tempo acelerado de passagem e de transmutação consciencial. Gosto de pensar que as novas gerações, menos contaminadas pela modelagem paradigmática clássica ultrapassada, refletindo, espero, uma nova educação centrada na inteireza, terão facilitado o caminho para um existir mais pleno e de comunhão entre a parte e o todo. pensamento e sentimento, intuição e sensação, harmoniosamente conjugados, constituirão o tecido de uma mesma fala, para que o discurso possa ser, também, canção



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