Aviso aos navegantes

Este blog é apenas uma voz que clama no deserto deste mundo dolorosamente atribulado; há outros e em muitos países. Sua mensagem é simples, porém sutil. É uma espécie de flecha literária lançada ao acaso, mas é guiada por mãos superiores às nossas. À você cabe saber separar o joio do trigo...

31 de janeiro de 2011

Discurso aos canibais morais


Esse é o primeiro vídeo traduzido para o português, de uma série de vídeos editados por XCowboy2 com o discurso de John Galt, retirado do livro Atlas Shrugged.

O livro Atlas Shrugged ou Quem é John Galt, foi escrito pela escritora e filosofa russo-norteamericana Ayn Rand. É sobre a história de um mundo em que a ideologia coletivista triunfou. Os homens de razão se rebelaram, e liderados por John Galt, aderiram a uma "greve" e sumiram da sociedade. O livro conta o que ocorre quando os homens de razão, independentes, e de auto-estima decidem simplesmente não participar mais da sociedade e desistem de "carrega-la nas costas"...

Acredito que o vídeo é somente um estimulo a leitura da obra prima de Ayn Rand, que segundo algumas pesquisas, foi um dos livros mais influentes do século 20, após a Bíblia.

Assistam e reflitam!


Entrevista com a Filósofa Ayn Rand

Nessa envolvente entrevista de 1951, sua primeira na televisão, Ayn Rand resume sua filosofia para Mike Wallace, da CBS. Essa discussão aborda temas como a natureza da sua moralidade e as distorções econômicas e históricas sobre os "robber barons". Ela também comenta sua relação com Frank O'Connor, fornece algumas informações autobiográficas e fala sobre suas perspectivas para a América.

PARTE I

PARTE II

PARTE III

Um manicômio cheio de loucos

E não será toda conversa fiada - por exemplo, da maior parte dos jornais -, o blablablá dos alienados que sofrem das idéias fixas da moralidade, legalidade, cristandade, etc., e só andam por aí em liberdade porque o manicômio aonde vão parar ocupa muito espaço? Toque-se na idéia fixa de um desses alienados, e quem o fizer terá imediatamente de se precaver contra a respostas traiçoeira desses loucos. Pois também em outra coisa esses grandes loucos se parecem com os pequenos: atacam traiçoeiramente aqueles que tocam em suas idéias fixas. Começam por lhes roubar a arma, a palavra livre, e depois caem sobre eles de garras afiadas. Não há dia em que não torne patente a covardia e a sede de vingança desses loucos, e o povo estúpido aclama sua atuação. É preciso ler os jornais desses tempos e ouvir falar o filisteu para nos convencermos de uma verdade terrível, a de que estamos metidos em um manicômio cheio de loucos. 

Max Stirner   

Sobre as pessoas comuns

Hipnose
As pessoas comuns, não conscientes da sua evolução, vivem no nível das opções da Personalidade, e não ao nível da verdadeira carência da Alma

Maria Flávia de Monsaraz

Modelo Educacional

Crescemos com uma educação apontado para "o que vou ser para poder ter"
e não para "ter o poder do que Sou".
Nelson Jonas

O que nos anima?

Compre esse carro

Imagem: Internet

O horror da dor desnecessária

No fim das contas, você sabe que não há pecado, não há culpa, nem retribuição, há apenas vida, nas suas transformações sem fim. Com a dissolução do 'eu' pessoal, o sofrimento pessoal desaparece. O que permanece é a grande tristeza da compaixão, o horror da dor desnecessária.

Nisargadatta Maharaj

Aprendizagem e conhecimento

Basta um olhar rápido em volta e deparamos com grande sofrimento mental que repercurte negativamente sobre o corpo físico. A sociedade está mergulhada nos mais diferentes interesses que na maioria das vezes, fere a biofilia e a homeostase da vida. Estamos numa sociedade de "consumo" em que tudo passou a ser motivo de propaganda, visando a maiores lucros, cuja finalidade se perde na própria ignorância de si mesmo. O sofrimento é enorme e doenças tais como a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA) se propaga como uma praga, levando a preocupações e retirando a alegria genuina da procriação sadia. Transtornos afetivos do humor, onde o ser humano fica a mercê de crises bipolares de depressões e hiperatividade predomina na maior parte da população, acarretando péssimas qualidades de vida. Noitadas e orgias funcionam como válvulas de escape e fugas psicológicas, onde a "droga" comanda o espetáculo. A Mente humana ficou viciada à vida de confortos e fáceis prazeres. Perdemos a sensibilidade que poderia nos trazer a "alegria de viver". Todos nós somos responsáveis perante a vida, apesar de não podermos controlar o próprio andamento cármico da mesma. Acredito, que em nossas mãos, pode estar o equilíbrio e mesmo a sobrevivência do nosso planeta terra: MÃOS A OBRA.

Hagfer

30 de janeiro de 2011

Vontade Indômita


Título Nacional: Vontade Indômita
Título Original: The Fountainhead

Diretor: King Vidor
Elenco: Gary Cooper, Patricia Neal, Raymond Massey, Kent Smith, Robert Douglas, Henry Hull, Ray Collins, Jerome Cowan , Moroni Olsen
Roteiro: Ayn Rand, baseado em livro de Ayn Rand
Estúdio: Warner Bros. / First National Picture
Produção: Henry Blake
Fotografia: Robert Burks
Trilha: Max Steiner
Duração: 114 minutos
Ano: 1949
País: EUA
Gênero: Drama
Preto e Branco

Resumo: Howard Roark (Gary Cooper) é um arquiteto independente, que dá mais importância aos seus ideais do que aos seus compromissos. Howard se apaixona por Dominique Francon (Patricia Neal), uma herdeira, mas termina a relação quando tem a oportunidade de construir edifícios de acordo com seus próprios desejos. Dominique casa com um magnata da imprensa, Gayl Wynand (Raymond Massey), que no princípio comanda uma forte campanha contra o "radical Roark", mas eventualmente se torna o partidário mais forte dele. Ao ser firmado um contrato de moradias populares, há a condição que os planos de Roark não serão mudados de forma nenhuma, mas ele fica surpreso ao descobrir que suas determinações serão radicalmente alteradas. É quando resolve revidar, custe o que custar .

Um grande discurso humano




"Há milhões de anos, um homem descobriu como fazer o fogo. Provavelmente se queimou na fogueira, que ensinou seus irmãos a acender. Mas deixou-lhes um presente que eles não haviam concebido e acabou com a escuridão da Terra.

Ao longo dos séculos, houve homens que abriram novos caminhos, armados unicamente com sua própria visão. Grandes criadores, pensadores, artistas, cientistas, inventores. Estiveram sozinhos contra os homens de seu tempo.

Cada pensamento novo foi rechaçado... cada invenção nova, denunciada... mas os homens de visão de futuro seguiram em frente. Lutaram, sofreram e pagaram, mas venceram.

Nenhum criador foi impulsionado pelo desejo de satisfazer seus irmãos. Seus irmãos odiaram o presente que ele oferecia.

Sua verdade era seu único motivo. Seu trabalho era seu único objetivo. Seu trabalho, não aqueles que o usaram. Sua criação, não os benefícios que outros derivaram dela. A criação que dava forma à sua verdade.

Ele sustentava a verdade sobre todas as coisas e contra todos os homens. Ele foi em frente, mesmo que outros não estiveram de acordo com ele... com sua integridade como sua única bandeira. Não serviu a nada e a ninguém.

Viveu para ele mesmo... e somente vivendo para si mesmo foi capaz de conseguir as coisas que são a glória da humanidade. Essa é a natureza da realização.

O homem não pode sobreviver, exceto através de sua mente. Ele vem à Terra desarmado. Seu cérebro é sua única arma, mas a mente é um atributo do indivíduo.

Não existe cérebro coletivo. O homem que pensa, deve pensar e agir por si mesmo.

A mente racional não pode trabalhar sob nenhuma forma de coação. Não pode ser subordinada às necessidades, opiniões, ou desejos de outros. Não é um objeto de sacrifício.

O criador se mantém firme em seu próprio julgamento. O parasita segue as opiniões dos outros.

O criador pensa. O parasita copia.

O criador produz, o parasita saqueia.

O interesse do criador é a conquista da natureza. O interesse do parasita é a conquista dos outros homens.

O criador requer a independência. Ele não serve, nem governa. Ele trata com homens pela troca livre e pela escolha voluntária. O parasita procura o poder. O parasita quer prender todos os homens juntos, numa ação comum... e numa escravidão comum.

Ele clama que o homem é somente uma ferramenta para o uso de outros... que deve pensar como eles pensam, e agir como eles agem... vivendo na abnegação, na triste servidão a qualquer um, exceto a si mesmo.

Olhem a história.

Tudo o que temos, cada grande realização... veio do trabalho independente de alguma mente independente.

Cada horror e destruição... veio de tentativas de converter homens em rebanhos sem cérebros, robôs sem almas. Sem direitos pessoais, sem ambição pessoal, sem vontade, esperança ou dignidade.

É um conflito antigo. Tem um outro nome. O indivídual contra o coletivo.

Nosso país, o país mais nobre na história dos homens... foi baseado no princípio do individualismo.

O princípio dos direitos alienáveis do homem.

Um país onde um homem era livre para buscar sua própria felicidade. Para ganhar e produzir, não render-se e não renunciar. Para prosperar, para não morrer de fome. Para conseguir, para não perecer.

Para ter como sua maior possessão, o sentido de valor pessoal... e como sua maior virtude, o seu auto-respeito.

Olhem os resultados. Isto que os coletivistas estão agora pedindo que vocês destruam... tanto quanto da Terra foi destruído.

Eu sou um arquiteto. Eu sei que se constroi a partir das bases.

Estamos nos aproximando de um mundo no qual eu não posso me permitir viver.

Minhas idéias são minha propriedade. Foram retiradas de mim pela força, pela ruptura de contrato. Nenhum recurso me foi deixado.

Acreditaram que meu trabalho pertencia a outros, para fazer o que quiserem, que tinham direito sobre mim, sem o meu consentimento... que era meu dever servir-lhes, sem alternativa ou recompensa.

Agora vocês sabem porque eu dinamitei Cortlandt. Eu projetei Cortlandt... eu o fiz possível... eu o destrui.

Eu concordei projetá-lo, com a finalidade de vê-lo construído como eu desejei. Esse foi o preço que eu coloquei em meu trabalho. Eu não fui pago.

Meu edifício foi desfigurado pelos que se beneficiaram com o meu trabalho e não me deram nada em troca.

Eu vim aqui dizer que eu não reconheço... o direito de ninguém a um minuto de minha vida. Nem a qualquer parte de minha energia, nem a alguma de minhas realizações. Não importa quem faça a reivindicação.

Tem que ser dito. O mundo está perecendo em uma orgia de auto-sacrifício.

Eu vim aqui para ser ouvido... em nome de cada homem independente que há ainda no mundo.

Eu quis estabelecer meus termos. Eu não quero trabalhar ou viver como alguns outros.

Meus termos são o direito do homem de existir por suas próprias razões."


Ayn Rand

As possessões supremas do homem

Contemplação

Pode um homem sacrificar sua integridade, seus direitos, sua liberdade, suas convicções, a honestidade de seus sentimentos, a independência de seu pensamento?

Estas são as possessões supremas de um homem.

A que deve sacrificá-la? A quem? Auto-sacrifício?

Mas é precisamente sua essência que não pode e não deve ser sacrificada. A essência de um homem é seu espírito.

É o não-sacrifício de sua essência que devemos respeitar, sobre todas as coisas.

Ayn Rand - filósofa

Por que sofremos?

caminhante
Sofremos porque em nossa carne habita um espírito - não habitado pelo Espírito.
Nelson Jonas

Desconectar para Conectar


O Império do Consumo


A explosão do consumo no mundo atual faz mais barulho do que todas as guerras e mais algazarra do que todos os carnavais. Como diz um velho provérbio turco, aquele que bebe a conta, fica bêbado em dobro. A gandaia aturde e anuvia o olhar; esta grande bebedeira universal parece não ter limites no tempo nem no espaço. Mas a cultura de consumo faz muito barulho, assim como o tambor, porque está vazia; e na hora da verdade, quando o estrondo cessa e acaba a festa, o bêbado acorda, sozinho, acompanhado pela sua sombra e pelos pratos quebrados que deve pagar. A expansão da demanda se choca com as fronteiras impostas pelo mesmo sistema que a gera. O sistema precisa de mercados cada vez mais abertos e mais amplos tanto quanto os pulmões precisam de ar e, ao mesmo tempo, requer que estejam no chão, como estão, os preços das matérias primas e da força de trabalho humana. O sistema fala em nome de todos, dirige a todos suas imperiosas ordens de consumo, entre todos espalha a febre compradora; mas não tem jeito: para quase todo o mundo esta aventura começa e termina na telinha da TV. A maioria, que contrai dívidas para ter coisas, termina tendo apenas dívidas para pagar suas dívidas que geram novas dívidas, e acaba consumindo fantasias que, às vezes, materializa cometendo delitos.

O direito ao desperdício, privilégio de poucos, afirma ser a liberdade de todos.

Dize-me quanto consomes e te direi quanto vales.

Esta civilização não deixa as flores dormirem, nem as galinhas, nem as pessoas. Nas estufas, as flores estão expostas à luz contínua, para fazer com que cresçam mais rapidamente. Nas fábricas de ovos, a noite também está proibida para as galinhas. E as pessoas estão condenadas à insônia, pela ansiedade de comprar e pela angústia de pagar.

Este modo de vida não é muito bom para as pessoas, mas é muito bom para a indústria farmacêutica. Os EUA consomem metade dos calmantes, ansiolíticos e demais drogas químicas que são vendidas legalmente no mundo; e mais da metade das drogas proibidas que são vendidas ilegalmente, o que não é uma coisinha à-toa quando se leva em conta que os EUA contam com apenas cinco por cento da população mundial.

«Gente infeliz, essa que vive se comparando», lamenta uma mulher no bairro de Buceo, em Montevidéu. A dor de já não ser, que outrora cantava o tango, deu lugar à vergonha de não ter. Um homem pobre é um pobre homem.

«Quando não tens nada, pensas que não vales nada», diz um rapaz no bairro Villa Fiorito, em Buenos Aires.

E outro confirma, na cidade dominicana de San Francisco de Macorís: «Meus irmãos trabalham para as marcas. Vivem comprando etiquetas, e vivem suando feito loucos para pagar as prestações».

Invisível violência do mercado: a diversidade é inimiga da rentabilidade, e a uniformidade é que manda.

A produção em série, em escala gigantesca, impõe em todas partes suas pautas obrigatórias de consumo. Esta ditadura da uniformização obrigatória é mais devastadora do que qualquer ditadura do partido único: impõe, no mundo inteiro, um modo de vida que reproduz seres humanos como fotocópias do consumidor exemplar. O consumidor exemplar é o homem quieto. Esta civilização, que confunde quantidade com qualidade, confunde gordura com boa alimentação.

Segundo a revista científica The Lancet, na última década a «obesidade mórbida» aumentou quase 30% entre a população jovem dos países mais desenvolvidos. Entre as crianças norte-americanas, a obesidade aumentou 40% nos últimos dezesseis anos, segundo pesquisa recente do Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Colorado. O país que inventou as comidas e bebidas light, os diet food e os alimentos fat free, tem a maior quantidade de gordos do mundo. O consumidor exemplar desce do carro só para trabalhar e para assistir televisão. Sentado na frente da telinha, passa quatro horas por dia devorando comida plástica. Vence o lixo fantasiado de comida: essa indústria está conquistando os paladares do mundo e está demolindo as tradições da cozinha local. Os costumes do bom comer, que vêm de longe, contam, em alguns países, milhares de anos de refinamento e diversidade e constituem um patrimônio coletivo que, de algum modo, está nos fogões de todos e não apenas na mesa dos ricos. Essas tradições, esses sinais de identidade cultural, essas festas da vida, estão sendo esmagadas, de modo fulminante, pela imposição do saber químico e único: a globalização do hambúrguer, a ditadura do fast food. A plastificação da comida em escala mundial, obra do McDonald´s, do Burger King e de outras fábricas, viola com sucesso o direito à autodeterminação da cozinha: direito sagrado, porque na boca a alma tem uma das suas portas. A Copa do Mundo de futebol de 1998 confirmou para nós, entre outras coisas, que o cartão MasterCard tonifica os músculos, que a Coca-Cola proporciona eterna juventude e que o cardápio do McDonald´s não pode faltar na barriga de um bom atleta. O imenso exército do McDonald´s dispara hambúrgueres nas bocas das crianças e dos adultos no planeta inteiro. O duplo arco dessa M serviu como estandarte, durante a recente conquista dos países do Leste Europeu. As filas na frente do McDonald´s de Moscou, inaugurado em 1990 com bandas e fanfarras, simbolizaram a vitória do Ocidente com tanta eloqüência quanto a queda do Muro de Berlim. Um sinal dos tempos: essa empresa, que encarna as virtudes do mundo livre, nega aos seus empregados a liberdade de filiar-se a qualquer sindicato. O McDonald´s viola, assim, um direito legalmente consagrado nos muitos países onde opera. Em 1997, alguns trabalhadores, membros disso que a empresa chama de Macfamília, tentaram sindicalizar-se em um restaurante de Montreal, no Canadá: o restaurante fechou. Mas, em 98, outros empregados do McDonald´s, em uma pequena cidade próxima a Vancouver, conseguiram essa conquista, digna do Guinness. As massas consumidoras recebem ordens em um idioma universal: a publicidade conseguiu aquilo que o esperanto quis e não pôde. Qualquer um entende, em qualquer lugar, as mensagens que a televisão transmite.

No último quarto de século, os gastos em propaganda dobraram no mundo todo. Graças a isso, as crianças pobres bebem cada vez mais Coca-Cola e cada vez menos leite e o tempo de lazer vai se tornando tempo de consumo obrigatório.

Tempo livre, tempo prisioneiro: as casas muito pobres não têm cama, mas têm televisão, e a televisão está com a palavra. Comprado em prestações, esse animalzinho é uma prova da vocação democrática do progresso: não escuta ninguém, mas fala para todos. Pobres e ricos conhecem, assim, as qualidades dos automóveis do último modelo, e pobres e ricos ficam sabendo das vantajosas taxas de juros que tal ou qual banco oferece. Os especialistas sabem transformar as mercadorias em mágicos conjuntos contra a solidão. As coisas possuem atributos humanos: acariciam, fazem companhia, compreendem, ajudam, o perfume te beija e o carro é o amigo que nunca falha. A cultura do consumo fez da solidão o mais lucrativo dos mercados.

Os buracos no peito são preenchidos enchendo-os de coisas, ou sonhando com fazer isso. E as coisas não só podem abraçar: elas também podem ser símbolos de ascensão social, salvo-condutos para atravessar as alfândegas da sociedade de classes, chaves que abrem as portas proibidas. Quanto mais exclusivas, melhor: as coisas escolhem você e salvam você do anonimato das multidões.

A publicidade não informa sobre o produto que vende, ou faz isso muito raramente. Isso é o que menos importa. Sua função primordial consiste em compensar frustrações e alimentar fantasias. Comprando este creme de barbear, você quer se transformar em quem? O criminologista Anthony Platt observou que os delitos das ruas não são fruto somente da extrema pobreza.

Também são fruto da ética individualista. A obsessão social pelo sucesso, diz Platt, incide decisivamente sobre a apropriação ilegal das coisas. Eu sempre ouvi dizer que o dinheiro não trás felicidade; mas qualquer pobre que assista televisão tem motivos de sobra para acreditar que o dinheiro trás algo tão parecido que a diferença é assunto para especialistas.

Segundo o historiador Eric Hobsbawm, o século XX marcou o fim de sete mil anos de vida humana centrada na agricultura, desde que apareceram os primeiros cultivos, no final do paleolítico. A população mundial torna-se urbana, os camponeses tornam-se cidadãos. Na América Latina temos campos sem ninguém e enormes formigueiros urbanos: as maiores cidades do mundo, e as mais injustas. Expulsos pela agricultura moderna de exportação e pela erosão das suas terras, os camponeses invadem os subúrbios. Eles acreditam que Deus está em todas partes, mas por experiência própria sabem que atende nos grandes centros urbanos. As cidades prometem trabalho, prosperidade, um futuro para os filhos. Nos campos, os esperadores olham a vida passar, e morrem bocejando; nas cidades, a vida acontece e chama. Amontoados em cortiços, a primeira coisa que os recém chegados descobrem é que o trabalho falta e os braços sobram, que nada é de graça e que os artigos de luxo mais caros são o ar e o silêncio. Enquanto o século XIV nascia, o padre Giordano da Rivalto pronunciou, em Florença, um elogio das cidades. Disse que as cidades cresciam «porque as pessoas sentem gosto em juntar-se». Juntar-se, encontrar-se. Mas, quem encontra com quem? A esperança encontra-se com a realidade? O desejo, encontra-se com o mundo? E as pessoas, encontram-se com as pessoas? Se as relações humanas foram reduzidas a relações entre coisas, quanta gente encontra-se com as coisas? O mundo inteiro tende a transformar-se em uma grande tela de televisão, na qual as coisas se olham mas não se tocam. As mercadorias em oferta invadem e privatizam os espaços públicos. Os terminais de ônibus e as estações de trens, que até pouco tempo atrás eram espaços de encontro entre pessoas, estão se transformando, agora, em espaços de exibição comercial. O shopping center, o centro comercial, vitrine de todas as vitrines, impõe sua presença esmagadora. As multidões concorrem, em peregrinação, a esse templo maior das missas do consumo. A maioria dos devotos contempla, em êxtase, as coisas que seus bolsos não podem pagar, enquanto a minoria compradora é submetida ao bombardeio da oferta incessante e extenuante. A multidão, que sobe e desce pelas escadas mecânicas, viaja pelo mundo: os manequins vestem como em Milão ou Paris e as máquinas soam como em Chicago; e para ver e ouvir não é preciso pagar passagem. Os turistas vindos das cidades do interior, ou das cidades que ainda não mereceram estas benesses da felicidade moderna, posam para a foto, aos pés das marcas internacionais mais famosas, tal e como antes posavam aos pés da estátua do prócer na praça. Beatriz Solano observou que os habitantes dos bairros suburbanos vão ao center, ao shopping center, como antes iam até o centro. O tradicional passeio do fim-de-semana até o centro da cidade tende a ser substituído pela excursão até esses centros urbanos. De banho tomado, arrumados e penteados, vestidos com suas melhores galas, os visitantes vêm para uma festa à qual não foram convidados, mas podem olhar tudo. Famílias inteiras empreendem a viagem na cápsula espacial que percorre o universo do consumo, onde a estética do mercado desenhou uma paisagem alucinante de modelos, marcas e etiquetas. A cultura do consumo, cultura do efêmero, condena tudo à descartabilidade midiática. Tudo muda no ritmo vertiginoso da moda, colocada à serviço da necessidade de vender. As coisas envelhecem num piscar de olhos, para serem substituídas por outras coisas de vida fugaz. Hoje, quando o único que permanece é a segurança, as mercadorias, fabricadas para não durar, são tão voláteis quanto o capital que as financia e o trabalho que as gera. O dinheiro voa na velocidade da luz: ontem estava lá, hoje está aqui, amanhã quem sabe onde, e todo trabalhador é um desempregado em potencial. Paradoxalmente, os shoppings centers, reinos da fugacidade, oferecem a mais bem-sucedida ilusão de segurança. Eles resistem fora do tempo, sem idade e sem raiz, sem noite e sem dia e sem memória, e existem fora do espaço, além das turbulências da perigosa realidade do mundo. Os donos do mundo usam o mundo como se fosse descartável: uma mercadoria de vida efêmera, que se esgota assim como se esgotam, pouco depois de nascer, as imagens disparadas pela metralhadora da televisão e as modas e os ídolos que a publicidade lança, sem pausa, no mercado.

Mas, para qual outro mundo vamos nos mudar? Estamos todos obrigados a acreditar na historinha de que Deus vendeu o planeta para umas poucas empresas porque, estando de mau humor, decidiu privatizar o universo? A sociedade de consumo é uma armadilha para pegar bobos. Aqueles que comandam o jogo fazem de conta que não sabem disso, mas qualquer um que tenha olhos na cara pode ver que a grande maioria das pessoas consome pouco, pouquinho e nada, necessariamente, para garantir a existência da pouca natureza que nos resta. A injustiça social não é um erro por corrigir, nem um defeito por superar: é uma necessidade essencial.

Não existe natureza capaz de alimentar um shopping center do tamanho do planeta. Tradução: Verso Tradutores

Autor: Eduardo Galeano

29 de janeiro de 2011

Constatações sobre Extra-terrestres

 
Em nada me interessa a possibilidade da existência de vida extra-terrestre; o que me diz respeito é a possibilidade de existir com Vida Extra ao terrestre.

Nelson Jonas 

Imobilidade atuante

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Criar dentro do universo virtual é criar na imobilidade. O quanto desta aparente imobilidade pode interferir no real é o questionamento a se fazer; se a modificação de um fato distante noticiado está ao nosso alcance.

Eu afirmo: isso depende do quanto estamos em um estado de Unidade, o quanto estamos nos permitindo ser empaticamente solidários com o ocorrido. Isso não requer nenhuma ação concreta. É uma espécie de dinâmica interior. Qualquer ação concreta desprovida desta dinâmica interior é sem efeito. Pode até trazer alívio às necessidades primárias imediatas. E mais nada além...

Um exemplo está nas recentes doações às vítimas da tragédia pelas chuvas. Este é um típico fato distante noticiado, cuja modificação acreditamos estar fora do nosso alcance. Porém, todo o volume de doações e ajuda voluntária terão efeito fugaz. Claro que irão proporcionar alívio e amparo às necessidades imediatas, quando chegarem ao local da tragédia, mesmo se a logística contiver vícios de desvios e corrupção. Mas as condições sociais por trás de tal tragédia continuarão a existir.

Então, como eu, centenas de quilômetros dali, poderia alcançar aquelas pessoas que estão sem casa e sem comida? Como poderia aliviar o desespero e a dor delas?

A resposta é: compartilhando com elas aquela dor e aquele desespero – no exato lugar que estou e no exato momento em que tomo conhecimento delas.

Para muitos, isso está muito além da compreensão e da capacidade de suportar. Para suportar o compartilhamento de uma dor desta magnitude, onde sobreviventes ficam instantaneamente desprovidos de todos os alicerces da própria vida (sem todos os parentes, sem todos os pertences), somente o mais amoroso desapego de tudo que representa a vida comum pode ajudar deveras. A ajuda de que tanto necessitam está no campo psico-energético. Ou seja, está numa dimensão não mensurável, não racional, não científica, para além da excelência em logística, ou de qualquer formalidade corporativa empresarial, ou de qualquer estudo acadêmico. Está numa disponibilidade afável para com a dor alheia. E tal disponibilidade, tal afabilidade, tal poder de amparo no campo psico-energético, só existe de forma autêntica, legítima, em quem sabe vivenciar a própria dor em toda sua intensidade... em toda a sua mais profunda e intensa solidão... no mais absoluto abandono...no mais desesperador isolamento... próximo, muito próximo do auto-extermínio...do extermínio de toda vontade falsa do ego...

As maiores crueldades que uma tragédia desta proporção denunciam são as frivolidades que adotamos por representações da nossa própria vida trivial. São estas frivolidades; esta inabilidade de empatia, este não querer se aperceber e compartilhar da dor contida em si mesmo e, muito menos, da dor no outro; as verdadeiras responsáveis pela falta de providências que poderiam evitar tais tragédias. As responsáveis pela imensa gama de violências, de tragédias diárias, banalizadas de tão rotineiras.

E a que... ou a quem... devemos responsabilizar pelo predomínio destas frivolidades?

Quem, em última instância, prefere entretenimentos recreativos, distrações, consumismos e outras fugas, ao invés de depurar os males e as angústias, senão nós mesmos?

Liban Raach

Catarse virtual

Entre a dimensão real (fruto de nossas ações) e a ideal (fruto de nossas imaginações), passou a existir a virtual (intermediária e mediadora). Intermediária porque na dimensão virtual podemos pré-visualizar as nossas concepções mais mirabolantes, até mesmo em 3D, como os melhores projéteis de construção civil.

Mediadora porque, nessa dimensão virtual, podemos efetuar os aperfeiçoamentos necessários.

De frente para um computador, damos vazão a uma enxurrada de “pseudo-realizações”. Sim, “pseudo” porque não chegam a ser exatamente uma realização concreta, palpável; nem tampouco abstrata, pois não mais pertencem ao reino das idéias, ganharam a forma dentro do computador, sendo possível visualizá-las.

Isso representa um novo mecanismo de catarse. É um prazer solitário, comparável à masturbação.

De fato, nada é alterado no ambiente real, em um curto período de tempo, por causa das percepções individuais ou sociais registradas no ambiente virtual, ou mesmo registradas em livros, haja vista os vários exemplos de obras literárias e filosóficas do século passado denunciantes dos desacertos em nossa sociedade. Alguns trechos destas obras encontram-se publicados aqui mesmo neste blog.

O fato de escrever, aberta e livremente, sobre temas que poderiam contribuir ao aperfeiçoamento da sociedade e do indivíduo, na verdade, é resultado de um condicionamento muito bem implantado desde a mais tenra infância. Chego a acreditar, piamente, que estou sendo diferente ao agir dessa maneira; ou que, dessa maneira, eu consigo contribuir para a melhora de alguma coisa ou de alguém.

A dedicação à aprendizagem em instituições de ensino (o histórico escolar) convenceu-me de que existe satisfação, alegria e aprovação em tirar boas notas; e há nisso um sentimento de realização inegável; enquanto o mundo e as relações sociais permanecem com os mesmos padrões. Porém, é justamente isto que me inseriu no padrão do sistema vigente. É isto que tornou o sistema vigente tão entranhado em mim. Este mesmo sistema que abriga violências, guerras, preconceitos, injustiças, corrupção, corrosão de valores e toda sorte de incompatibilidades entre seres de uma mesma espécie...

Porque recebemos incentivos e estímulos ao uso de nossas exclusivas capacidades racionais em atividades individualistas como os estudos – aprender uma matéria escolar é um árido ato individual de exclusão -, ou como meros espectadores de qualquer obra artística, qual seja um filme, um quadro, uma escultura, exposições fotográficas, etc.

Só não ensinam a interagir plenamente com o que os olhos e os ouvidos percebem (talvez por desconhecerem este ensinamento).

É nesse interagir onde reside toda a graça e toda arte, todo o conhecimento e toda a beleza. Enquanto leitor e espectador, estou passivo. Entretanto, para interagir devo atuar de alguma forma. Neste atuar está contida a saída do meu estado de passividade. Torno-me atuante. Mesmo quando estou imóvel diante de uma fotografia, por exemplo, posso estar atuante, ao observar atentamente o que aquela fotografia suscita em mim... quais lembranças vêm à tona... quais emoções são despertadas. Portanto, nem todo movimento exterior significa atuação.

Ainda que idéias e ideais renovadores, revolucionários, permaneçam durante anos a fio enclausurados em ciberespaços, ou em livros empilhados nas prateleiras, a grande vantagem e diferença é que, antes, estas mesmas idéias e ideais apenas pairavam sobre seres denominados visionários, cujas percepções estavam além do seu tempo. E, hoje, elas se apoderaram de um meio mais rápido de propagação: o virtual.

É visionário enxergar a rota descendente de uma determinada tendência e querer, imediatamente, estar em outra tendência de rota ascendente. Pior é tentar transmitir tal percepção a outras pessoas, para obter delas ajuda e contribuição nessa mudança de rota, pois quase nada conseguimos realizar sozinhos. É bastante óbvio inferir disto que os poucos indivíduos com percepções semelhantes são tidos por alucinados, usuários de alucinógenos; ou lunáticos, freqüentadores assíduos do ‘mundo da lua’; principalmente se estas pessoas são reles anônimos, sem nenhuma posição de destaque no meio em que vivem.

Enquanto existirem visionários, alucinados e lunáticos a espécie humana estará ao abrigo de sua mais completa extinção...

Liban Raach

A Responsabilidade Social da Arte


Toda classe dominante que se sente ameaçada procura ocultar o conteúdo de classe de sua dominação e apresentar a sua luta como destinada a manter não uma determinada forma social, histórica, e sim algo “eterno”, concernente a todos os valores humanos.

A fim de salvar um conteúdo social superado, a classe dominante adota uma atitude de proteção às velhas formas, conquanto esteja sempre preparada para, em um momento crítico, abandonar essas velhas formas por uma ditadura sem disfarce.

Ao mesmo tempo, a classe dominante procura levantar suspeitas em relação às novas formas – que podem ainda não ter alcançado a sua plena maturidade – com a finalidade de combater o novo conteúdo social.

Com o tempo, foi se tornando cada vez mais difícil justificar ou glorificar o velho conteúdo social do capitalismo, dados os seus desastres; por isso, os paladinos do capitalismo, defendem agora “apenas” as suas formas de expressão políticas e sociais.

Essa tendência para subestimar o conteúdo e para encarar a forma como se ela fosse essencial, a única coisa realmente digna de atenção, é uma tendência que exerceu influência sobre amplos setores da inquieta intelectualidade do mundo capitalista.


Numa sociedade decadente, a arte, se for verdadeira deve também refletir decadência. E a menos que queira atraiçoar sua função social, a arte deve mostrar o mundo como mutável e ajudar a mudá-lo.

A arte pode levar o homem de um estado de fragmentação a um estado de ser íntegro, total. A arte capacita o homem para compreender a realidade e o ajuda não só a suportá-la, como a transformá-la, aumentando-lhe a determinação de torna-la mais humana e mais hospitaleira para a humanidade. A arte, ela própria, é uma realidade social. A sociedade precisa do artista, este supremo feiticeiro, e tem o direito de pedir-lhe que ele seja consciente de sua função social.

Ernst Fischer

Modaose: a patologia da Moda


A moda toma muitas formas, de roupas que as pessoas usam a ideologias que elas propagam. Para ilustrar o quão bem sucedido a indústria comercial se tornou em manipular os valores dos seres humanos para ganho próprio, muitas pessoas podem hoje serem vistas andando por aí vestindo certos artigos comerciais, apenas pelo propósito de expor a marca da companhia, projetando algum tipo de status social aparente ou "expressão estilizada" delas. 

A assinatura camisas "Tommy Hilfiger", a marca comercial de bolsas "Prada" e os reluzentes relógios "Rolex" são exemplos de produtos onde a utilidade ou função de um item perdeu a relevância completamente, sendo a importância agora originada do que o item "representa".

Infelizmente, o que essas pessoas não compreendem é que elas nada mais são do que propagandas ambulantes das respectivas companhias, tão-somente.

Entenda o Movimento Zeitgeist


Esperamos ajudar as pessoas a compreender o que tem nos mantido ocupado. Neste vídeo tentamos responder algumas das dúvidas mais comuns sobre o Movimento Zeitgeist.

Você pode sempre buscar por mais informação em nosso site oficial www.mzbr.com.br ou então, baixe o Guia de Orientação ao Ativista

O estágio do Câncer do Capitalismo

“Na verdade, os economistas nada têm de economistas. São, sim, propagandistas do valor do dinheiro. Este sistema desperdiça mais do que qualquer outro da história do planeta. Portanto, você não está lidando com um sistema econômico, mas sim, eu me atreveria a dizer, com um sistema antieconômico.”

Dr. John McMurty, autor do livro “The Cancer Stage of Capitalism

...

Finalmente a espera terminou! O time linguístico internacional do Movimento Zeitgeist acaba de colocar no canal do YouTube as legendas para mais 20 idiomas, incluindo Português-BR. Para todos que aguardavam ansiosamente para assistir o Zeitgeist: Moving Forward, a hora é agora.  Para ativar as legendas, clique no botão “CC”. Aparecerá uma lista de idiomas para escolher. Use a barra vermelha para rolar a janela e selecionar o Português-BR.

Os sonhos são desordem

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O bosque dormia; o serpenteante atalho que o atravessava estava escuro e não se percebia o mais leve movimento. O prolongado crepúsculo estava desaparecendo nesses instantes, e o silêncio da noite cobria a terra. A pequena correnteza, tão por um fio em seu gotejar durante o dia, ia cedendo à quietude da noite que se aproximava. Através das pequenas aberturas entre as folhas se divisavam as estrelas, brilhantes e muito próximas. A escuridão da noite é tão necessária como a luz do dia. As acolhedoras árvores, recolhidas agora em si mesmas, se mostravam distantes; se encontravam aí, rodeando a ele, porém afastadas e inacessíveis; dormiam e não havia que molestá-las. Nesta quieta escuridão, havia um crescer e um florescer que reunia forças para se enfrentar à vibrante vitalidade do dia.

À noite e o dia são essenciais, ambos dão vida e energia a todas as coisas vivas. Só o homem a dissipa. O dormir é muito importante; um dormir sem demasiado sono nem agitação. Enquanto dormimos ocorrem muitas coisas, tanto no organismo físico como no cérebro (a mente é o cérebro); ambos é uma só coisa, um movimento único. Para esta estrutura total, o dormir é absolutamente essencial. Durante o sono advém a ordem, o ajuste das funções e se originam percepções mais profundas; quanto mais quieto está o cérebro, tanto mais profundo é o discernimento. O cérebro necessita segurança e ordem para funcionar harmoniosamente, sem atrito algum. A noite se encarrega disso, e durante o dormir tranqüilo há movimentos, há estados que o pensamento jamais poderá alcançar. Os sonhos são desordem; deformam a percepção total. Enquanto dorme a mente se rejuvenesce a si mesma.

Porém, ao se dizer que os sonhos são necessários, que se não sonhar se pode enlouquecer, afirma-se que ajudam e são reveladores. Estão os sonhos superficiais, que não tem muito significado, estão os sonhos significativos e também existe o estado sem sonhos em absoluto. Os sonhos são em suas diferentes formas e símbolos a expressão de nossa vida cotidiana. Se não há harmonia, se não há ordem em nossa vida cotidiana de relação, então os sonhos são uma continuação dessa desordem. Enquanto dormimos, o cérebro trata de produzir essa ordem a partir desta confusa contradição. Nesta luta constante entre a ordem e a desordem, o cérebro se desgasta. Porém, ele deve ter segurança e ordem para poder funcionar, e assim é como chegam a serem necessárias as crenças, as ideologias e demais conceitos neuróticos. Converter a noite em dia é um desses hábitos neuróticos. A insensatez que se desenvolve no mundo moderno depois do anoitecer, é um escape da rotina e o tédio do dia.

A total percepção da desordem na relação tanto privada como pública, pessoal ou distante, o dar-se conta, sem opção alguma, do ‘que é’ durante as horas conscientes do dia, produz ordem onde imperava a desordem. Então o cérebro não necessita buscar por ordem enquanto dormimos. Os sonhos são só superficiais, sem significação. A ordem na totalidade da consciência, não só no nível ‘consciente’, se produz quando cessa completamente a divisão entre o observador e o observado. Transcende-se ‘o que é’ quando o observador que é o passado, que é tempo chega a seu fim. O presente ativo, ‘o que é’, não se acha escravo do tempo, como é o observador.

Só quando a mente o cérebro e o organismo tem esta ordem total durante o sono, que há uma percepção profunda desse estado inexpressável em palavras, desse movimento intemporal. Isto não é nenhum sonho fantástico, alguma válvula de escape. É a meditação em sua expressão máxima e completa. Tanto faz se o cérebro está ativo, desperto ou dormido, porém o constante conflito entre a ordem e a desordem, desgasta ao cérebro. A ordem é a mais alta forma de virtude, sensibilidade, inteligência. Quando existe esta grande beleza da ordem, da harmonia, o cérebro não está incessantemente ativo; certas partes se encarregam da memória, porém essa é uma parte muito pequena; o resto do cérebro se acha livre do ruído da experiência. Dessa liberdade é a ordem, a harmonia do silêncio. Esta liberdade e o ruído da memória se movem juntos; a ação deste movimento é inteligência. A meditação consiste em estar livre do conhecido e, não obstante, operar no campo do conhecido. Não há um ‘eu’ como operador. Esta meditação se desenvolve tanto no sonho como na vigília.

O atalho saía lentamente do bosque e, de horizonte a horizonte, o céu se encontrava repleto de estrelas. Nos campos nada se movia.

Krishnamurti - 10 de Outubro de 1973

Sacrifice

Tema do filme "O Informante"... Só para sensíveis...

28 de janeiro de 2011

Mergulhe fundo

Além da mente

Mergulhe fundo como eu mergulhei. Não se preocupe em entender. Viver ultrapassa todo o entendimento.

Clarice Lispector

A Mulher Selvagem

Quando as mulheres reafirmam seu relacionamento com a natureza selvagem, elas recebem o dom de dispor de uma observadora interna permanente, uma sábia, uma visionária, um oráculo, uma inspiradora, uma intuitiva, uma criadora, uma inventora e uma ouvinte que guia, sugere e estimula uma vida vibrante nos mundos interior e exterior. Quando as mulheres estão com a Mulher Selvagem, a realidade desse relacionamento transparece nelas. Não importa o que aconteça, essa instrutora, mãe e mentora selvagem dá sustentação às suas vidas interior e exterior.

Clarissa Pinkola Estés

Para navegar contra a corrente

Para navegar contra a corrente são necessárias condições raras: espírito de aventura, coragem, perseverança e paixão.

Nise da Silveira

O que é o ser humano?


Cada ser humano é uma resposta unica, irreptível, totalmente individual. Não existe modelo. Cada um tem de Ser-Si-mesmo, descobrir a sua criatividade. O que cabe só a ele pode-Ser.

Maria Flávia de Monsaraz.

A miséria de nossa educação


(Os locais de ensino) Não se contentam, ao contrário, com formar pessoas de bom senso; não visam, para dizer a verdade, a formar pessoas ouvindo a voz da razão. Compreender as coisas e os dados materiais, é preciso deter-se aí; ouvir a voz da razão não parece dizer respeito a todos. Assim também, querem nos dar o sentido do positivo, sob seu aspecto formal ou ao mesmo tempo sob seu aspecto material, o que nos acomoda no positivo. Em pedagogia, como em outros campos, a liberdade não pode expressar-se, nossa faculdade de oposição não pode exprimir-se; exigem apenas a submissão. O único objetivo é adestrar à forma e à matéria: do estábulo dos humanistas não saem senão letrados, do estábulo dos realistas, só cidadãos utilizáveis e, em ambos os casos, nada além de indivíduos submissos. Sufocam pela força nossa saudável tendência à indisciplina e impedem ao mesmo tempo o Saber de desenvolver-se em Vontade livre. A vida escolar só engendra filisteus. Adquirimos o hábito em nossa infância, de resignarmo-nos a tudo o que nos era imposto: mesmo modo, mais tarde, resignamo-nos e adaptamo-nos à vida positiva, adaptamo-nos à nossa época, tornamo-nos seus servidores, o que se convencionou chamar de bons cidadãos. No entanto, onde encorajam o espírito de oposição em vez do espírito de submissão nutrido até o presente momento? Onde se formam indivíduos que criam e não indivíduos que aprendem? Onde o mestre se transforma em companheiro de trabalho e reconhece que o Saber deve tornar-se Vontade? Onde está a instituição que se propõe por objetivo liberar o homem e não se limitar a cultivá-lo. Pois bem, ainda são poucos esses lugares, infelizmente! Mas se perceberá cada vez mais que a mais elevada missão do homem não é cultivar-se, civilizar-se, mas tender a seu próprio desenvolvimento. A cultura será, por isso, negligenciada? Não, assim como também não estamos dispostos a perder nossa liberdade de pensamento fazendo-a integrar-se e sublimar-se na liberdade de vontade. Tão logo o homem põe seu ponto de honra em sentir-se, conhecer-se, realizar-se — assim, então, no sentimento e na consciência de si e na liberdade — ele se esforça para pôr fim à sua ignorância, pois esta faz do objeto estranho e para ele incompreensível uma barreira, um obstáculo ao conhecimento de si. Se a idéia de liberdade desperta no homem, uma vez livre, ele não cessa de continuar a libertar-se; mas se ele é apenas culto, ele se adaptará às circunstâncias como pessoa altamente culta e refinada e não será mais do que um servidor de alma submissa. O que são, então, em sua maioria, nossas personagens ricas de espírito e de cultura? Mercadores de escravos com sorriso altivo, eles próprios escravos.

Os realistas podem fazer-se glória de uma superioridade: eles não formam pessoas apenas cultas, mas cidadãos dotados de entendimento e utilizáveis. De fato, seu princípio de base: "tudo o que se ensina deve reportar-se à vida prática", poderia até mesmo servir de divisa ao nosso tempo, se ao menos eles não entendessem por vida prática a acepção trivial do termo. A verdadeira prática não consiste a fazer seu caminho na vida, e o Saber vale mais do que o uso que dele se poderia fazer para alcançar por ele objetivos práticos. A prática mais elevada é aquela que permite a um homem livre revelar-se a si mesmo e o Saber que sabe morrer é a liberdade que dá a vida. A vida prática! 

...Essa preocupação de preparar à vida prática só forma homens de princípios que agem e pensam segundo máximas, mas não homens tendo seus princípios, ela forma espíritos respeitosos das leis e não espíritos livres. Os indivíduos cujos pensamentos e atos são animados de um movimento e de um rejuvenescimento perpétuos, são bem diferentes daqueles que permanecem fiéis a suas convicções. As próprias convicções permanecem impassíveis, a pulsação do coração que faz circular em nossas veias um sangue sempre renovado não as anima; elas cristalizam-se, tais como corpos solidificados, e mesmo que sejam adquiridas e não impostas à memória, elas são algo de positivo e, além do mais são tidas como sagradas. Assim, a educação realista pode muito bem formar caracteres fortes, sólidos e bem aguerridos, homens determinados, corações fiéis, e isso é um ganho inestimável para a nossa geração de lacaios. Mas os caracteres eternos, cuja firmeza é apenas o fluxo incansável de sua autocriação sempre renovada, que só são eternos porque eles se criam a si próprios a cada instante e porque o caráter temporal de cada uma de suas manifestações é fundado sobre o frescor e a atividade criativa, sempre jovens e nunca alteradas, de seu espírito eterno: tais caracteres não são o fruto dessa educação aí. Na melhor das hipóteses, dizer de um caráter que ele é saudável, é dizer apenas que ele é rígido. Se ele quiser buscar seu acabamento, será preciso que sofra, estremeça e palpite na paixão feliz de um rejuvenescimento e de um renascimento sem trégua.

Assim todas as educações convergem a uma fonte única: a personalidade. O Saber, quaisquer que sejam a sua erudição e sua profundidade, sua extensão e sua compreensibilidade, permanece um bem, uma posse enquanto não tiver desaparecido na fonte invisível de nosso Eu para tornar a brotar com uma força irresistível sob forma de Vontade de espírito escapando dos sentidos e do conhecimento. O Saber realiza essa transformação cessando de apegar-se unicamente aos objetos, tornando-se Saber de si mesmo, ou, se isso parece mais claro, Saber da idéia, autoconsciência do espírito. Então, por uma espécie de inversão, ele se torna impulso, instinto do espírito, saber sem consciência do qual cada um pode ao menos ter uma idéia comparando-o a esse sentimento simples nascido da sublimação das numerosas experiências do nosso Eu, e que se denomina apreciação intuitiva: todo o Saber ampliado que emana dessas experiências concentra-se num Saber instantâneo que permite ao homem decidir sobre seus atos num instante. Mas o Saber, para abrir um caminho até essa imaterialidade, deve sacrificar sua parte mortal e tornar-se imortal, tornar-se Vontade.

A miséria de nossa educação até os nossos dias reside em grande parte no fato de que o Saber não se sublimou para tornar-se Vontade, realização de si, prática pura. Os realistas sentiram essa necessidade e preencheram-na, mediocremente por sinal, formando "homens práticos" sem idéias e sem liberdade. A maioria dos futuros mestres é o exemplo vivo dessa triste orientação. Cortaram-lhes magnificamente as asas: agora é sua vez de cortar as dos outros! Foram adestrados, é sua vez de adestrar! Todavia, a educação deve ser pessoal, mestre do Saber e guardar constantemente no espírito esse caráter essencial do Saber: não ser em nenhum caso objeto de posse, mas ser o próprio Eu. Numa palavra, não se deve inculcar o Saber mas conduzir o indivíduo a seu pleno desenvolvimento; a pedagogia não pode mais  partir da idéia de civilizar mas da idéia de desenvolver pessoas livres, caracteres soberanos. É preciso, então, cessar de enfraquecer a Vontade, até o presente sempre tão brutalmente oprimida. E porquanto não se enfraquece o desejo de saber, por que enfraquecer o desejo de querer? Visto que um é nutrido, que o outro também o seja. A teimosia e a indisciplina da criança têm tantos direitos quanto seu desejo de saber. Estimulam deliberadamente este último; que também suscitem essa força natural da Vontade: a oposição. Se a criança não aprende a tomar consciência de si, é claro que ela não aprende o mais importante. Que não seja sufocado nem seu orgulho, nem sua franqueza natural. Minha própria liberdade permanece sempre ao abrigo de sua arrogância. Pois se o orgulho degenera em arrogância, a criança desejará usar de violência contra mim. Ora, eu que sou um ser livre tanto quanto a criança, não necessito suportar isso. Todavia, para defender-me, devo abrigar-me por trás da cômoda muralha da autoridade? Não, oponho-lhe a dureza de minha própria liberdade, e a arrogância dos pequenos se quebrará por si mesma. Aquele que é um homem completo não precisa ser uma autoridade. E se a franqueza natural da criança degenera em insolência, esta cederá à terna ascendência de uma verdadeira mulher, a seus cuidados maternais ou à firmeza de um homem. Muito fraco é aquele que precisa recorrer à autoridade e bem culpado aquele que crê corrigir o insolente fazendo-se temer! Exigir o temor e o respeito são princípios para a época ultrapassada do estilo rococó.

De que nós nos queixamos, enfim, ao exame dos defeitos da educação que a escola dispensa atualmente? Do fato de nossas escolas ainda repousarem sobre o velho princípio do Saber sem Vontade. O novo princípio é o do Querer, sublimação do Saber. Portanto, nada de "concordância entre a escola e a vida": queremos que a escola seja a vida, e que aí como alhures, o dever do indivíduo seja revelar-se a si mesmo. Á cultura geral dispensada pela escola deve ser uma educação para a liberdade e não para a submissão: a verdadeira vida, é sermos livres.

Uma olhada sobre a falta de vida do humanismo teria forçado os realistas a reconhecer isso. Mas se vissem a total incapacidade da educação humanista para a pretensa vida prática (do cidadão, não do indivíduo), retornariam, por oposição, a uma educação puramente formal, a uma educação material, pensando que, comunicando uma matéria utilizável nas relações sociais, não apenas ultrapassariam o formalismo, como também contentariam a mais elevada exigência. Todavia, a educação prática permanece longe da educação livre e pessoal: aquela ensina a arte de fazer habilmente seu caminho na vida, esta dá o poder de fazer brotar das profundezas do Eu a fagulha de vida; aquela prepara para estar consigo num dado mundo, esta a estar consigo em si mesmo. Não podemos exprimir toda a nossa personalidade quando nos comportamos como membros úteis da sociedade, mas podemos fazê-lo perfeitamente quando somos homens livres, autocriadores (que nós mesmos criamos).

Se a liberdade da vontade responde à idéia e ao desejo dos novos tempos, é preciso que a pedagogia tenha diante dos olhos, como ponto de partida e de chegada, a formação da livre personalidade! Humanistas e realistas ainda se limitam ao Saber: preocupam-se quando muito com a liberdade de pensar e fazem de nós pensadores livres, por uma liberação completamente teórica. No entanto, o Saber só torna livre interiormente (liberdade à qual nunca mais se deverá renunciar, por sinal), mas exteriormente, malgrado todas as liberdades de consciência e de opinião, podemos permanecer escravos, permanecer na sujeição. E, contudo, a liberdade exterior está precisamente para o Saber assim como está para a Vontade a verdadeira liberdade interior, a liberdade moral. Assim, é só na educação universal, e porque nela o mais humilde encontra no mesmo plano o mais bem posicionado, que encontramos a verdadeira igualdade de todos, a igualdade das pessoas livres: só a liberdade é igualdade.

... Se eu quiser, em conclusão, formular brevemente o objetivo para o qual deve dirigir-se nossa época, é nesses termos que resumirei a necessidade de declínio do Saber sem Vontade e a ascensão da Vontade consciente de si mesma cujo destino realiza-se ao sol resplandescente da livre personalidade: o Saber deve morrer para ressuscitar a Vontade e recriar-se a cada dia como livre personalidade.

Viagem

As viagens dão uma grande abertura à mente: saímos do círculo de preconceitos do próprio país e não nos sentimos dispostos a assumir aqueles dos estrangeiros.

Barão de Montesquieu

Por falar em viagem...

Vãos Costumes

Parece, Meu Caro ..., que as cabeças dos homens mais notáveis minguam quando se reúnem, e que onde há mais sábios, há também menos sabedoria.
Os grandes grupos, prendem-se tanto aos momentos e aos vãos costumes, que o essencial não vem senão depois.

Barão de Montesquieu

Feira livre

Teatro
Numa certa manhã de sol...
- Bom dia, freguês!
- Bom dia!
- É novo por aqui?
- Acabei de me instalar!
- Seja bem-vindo! Em que posso lhe servir?
- Uma máscara de respeitável pai de família.
- Um minuto, senhor... Aqui está. Quer aproveitar a máscara de respeitado trabalhador exemplar domesticado?
- Quanto está custando?
- Para o senhor que é novo, num custo especial que não chega a ser os olhos da cara; pode-ser?
- Coloca aí, vai!... Ah! Quero também uma máscara de um ativo crente filho de Deus. A que o senhor tem, acompanha terno, gravata e chapéu de Cowboy?
- Sim senhor, juntamente com um enorme anel imitando ouro. Se levar o kit completo, pode parcelar em até doze vezes, sem juros.
- Jura?
- Pelo sagrado sobrenome de minha família e o solo deste país!
- E quanto a forma de pagamento?
- Pode fazer no cartão de crédito ou num carnezinho abençoado.
- Não acredito!
- Pois pode crer!
- Ok! Então, vou levar!
- Mais alguma coisa, patrão?
- Deixe-me ver... Sinto que estou esquecendo algo...
- Contribuinte exemplar?
- Não, essa já tenho. Está um pouco antiga mas ainda dá para o gasto.
- Torcedor remido?
- Essa ganhei do meu avô!
- Não está pensando em trocar?
- Nada! Fiel até o fim da vida!... Deixe-me ver... Tenho certeza que estou esquecendo algo...
- Fique à vontade! Se eu puder lhe ajudar, basta fazer um sinal.
- Ok!... Ah! Lembrei!
- Pois, não!
- Quero uma de Filósofo Contemporâneo!
- Desculpe, patrão, mas essa, vou ficar devendo... É a primeira vez que me pedem nestes meus quarenta e quatro anos de feira livre! Mais alguma coisa?
- Não! Acho que por hoje é só! Por favor, a conta!
- Disse bem; por hoje é só! Nunca se sabe a máscara que estará em voga amanhã, não é mesmo?... Então, posso passar a régua?
- Desde que seja na justa medida, pode!
- Aqui está senhor!
- Tudo isso?...
- Sinto muito, senhor! Os tempos estão difíceis!
- Pois é: está cada vez mais caro pagar a conta de coisas que, para mim, em nada conta!

Nelson Jonas

O novo rebelde

O novo rebelde

O novo rebelde não irá se conformar com o sistema e os seus interesses. Ele está completamete despreocupado em relação à sua respeitabilidade, reputação, honra, adoração; ele não necessita dessas coisas. As pessoas que estão vazias por dentro é que necessitam todos esses adornos.

O novo rebelde é um ser iluminado - ele está realizado e profundamente satisfeito. Ele se mantém à parte e só, com uma clareza sobre tudo. Ele falará, e se isso for contra a sociedade, contra a herança, contra a antiga tradição, contra as escrituras, não importa.

Para o novo rebelde, a verdade é a única religião. Ele está pronto para ser condenado em nome da verdade; ele está disposto a ser cruxificado em nome da verdade.

O novo rebelde é um indivíduo absolutamente livre de todos os grilhões da multidão - mesmo que esses grilhões sejam de ouro. Ele é tão livre como um pássaro a voar. Ele não aceitará nenhuma gaiola, por mais preciosa que seja. A verdade é a sua religião, a liberdade é o seu caminho. E ser ele mesmo, totalmente ele mesmo, é o seu objetivo

Autor: Osho

Literatura Confrádica

O Único E A Sua Propriedade
Coleção: DIALÉTICA
Autor: MAX STIRNER
Tradutor: BARRENTO, JOÃO
Editora: MARTINS EDITORA
Assunto: FILOSOFIA
ISBN: 8599102907
ISBN-13: 9788599102909
Livro em português
Brochura
- 21 x 14 cm 1ª Edição - 2009
480 PÁGINAS

Em 'O único e a sua propriedade', Stirner insiste que tanto a língua como os argumentos devem servir aos fins individuais baseados na experiência de cada um. Ele apresenta três etapas da experiência humana - a realista (da infância até a descoberta da mente e a libertação das imposições, inclusive familiares), a idealista (da juventude, condicionada espiritualmente por outras forças) e a adulta ou egoísta (do indivíduo livre de forças internas e externas). O crescimento individual é análogo ao histórico, passando este pelas mesmas etapas - antiga, ou do mundo pré-cristão; moderna, ou do mundo cristão (a que Stirner mais desenvolve); e do mundo futuro.

O Egoísmo

O egoísmo vem à existência devido à tendência dos desejos de encontrarem satisfação na ação e na experiência. É nascido da ignorância fundamental a respeito de nossa natureza verdadeira. A consciência humana está obscurecida pelo acúmulo dos vários tipos de impressões depositadas pelo longo curso da evolução da consciência. Essas impressões expressam-se como desejos e o alcance de operação da consciência está estritamente limitado por esses desejos. Os Sanskaras, ou impressões, formam um invólucro em torno do possível campo da consciência. O círculo de sanskaras constitui aquela área limitada na qual a consciência individual pode ser focalizada.

Com alguns dos desejos a ação é apenas latente, mas outros podem realmente traduzirem-se em ação. A capacidade de um desejo de encontrar expressão no comportamento depende da intensidade e da quantidade de sanskaras ligados a ele. Usando uma metáfora geométrica, podemos dizer que quando um desejo passa para ação, ele percorre uma distância que é igual ao raio de um círculo que descreve o limite da sanskaras ligados a ele. Quando um desejo reúne força suficiente, ele projeta-se em ação a fim de obter satisfação. A extensão do egoísmo é igual à extensão dos desejos. Devido ao impedimento dos desejos múltiplos, torna-se impossível para a alma encontrar a expressão livre e plena de seu verdadeiro ser, e a vida se torna auto-centrada e estreita. A vida inteira do ego pessoal está constantemente sob o domínio do querer, ou seja, uma tentativa de buscar a satisfação dos desejos através de coisas que mudam e desaparecem. Mas não pode haver verdadeira satisfação através de coisas transitórias. A satisfação derivada de coisas passageiras da vida não é duradoura e as necessidades do homem continuam não atendidas. Há, portanto, um sentimento geral de insatisfação acompanhado de todos os tipos de preocupações.

As formas principais em que o ego frustrado encontra expressão são a cobiça, luxúria e a raiva. A luxúria é muito parecida com a cobiça em muitos aspectos, mas difere na forma de sua realização, que está diretamente relacionada à esfera grosseira. A luxúria encontra a sua expressão por meio do corpo físico e está preocupada com a carne. É uma forma de se enredar com a esfera grosseira.* A cobiça é um estado de inquietação do coração e consiste principalmente no desejo por poder e posses. Posses e poder são procurados para poderem satisfazer os desejos. O homem fica só parcialmente satisfeito em sua tentativa de ter a satisfação de seus desejos, e essa satisfação parcial ventila e aumenta a chama do desejo, em vez de extingui-la. Assim, a cobiça sempre encontra um campo infinito de conquista e deixa o indivíduo eternamente insatisfeito. As principais expressões da cobiça estão relacionadas com a parte emocional do homem. É uma forma de se enredar com a esfera sutil.

A raiva é a emanação de uma mente irritada. É causada pela frustração dos desejos. Ela alimenta o ego limitado e é utilizada para a dominação e a agressão. Destina-se a remover os obstáculos existentes na realização dos desejos. O frenesi da raiva alimenta o egoísmo e a vaidade, e é o maior benfeitor do ego limitado. A mente é a sede da raiva e suas manifestações são principalmente através das atividades da mente. A raiva é uma forma de se enredar com a esfera mental. Luxúria, ganância e raiva, respectivamente, tem o corpo, o coração e a mente como seus veículos de expressão. O homem experimenta desapontamento através da luxúria, da cobiça e da raiva; e o ego frustrado, por sua vez, busca a gratificação adicional através da luxúria, da cobiça e da raiva. A consciência é, assim, apanhada num círculo vicioso de decepção sem fim. A decepção vem à existência quando, ou a luxúria, ou a ganância ou a raiva são frustradas em sua expressão. É, portanto, uma reação geral de aprisionamento grosseiro, sutil e mental. É uma depressão causada pelo não satisfação da luxúria, da cobiça e da raiva, que, juntos, são co-extensivos com o egoísmo. O egoísmo, que é a base comum desses três vícios ingredientes, é, portanto, a causa final das decepções e preocupações. Ele derrota a si mesmo. Busca satisfação através de desejos, mas só consegue chegar numa insatisfação interminável.

O egoísmo leva inevitavelmente à insatisfação e à decepção, pois os desejos são infinitos. O problema da felicidade é, portanto, o problema de abandonar nossos desejos. Os desejos, porém, não podem ser efetivamente superados através da repressão mecânica. Eles podem ser aniquilados somente através do Conhecimento. Se você mergulhar profundamente no reino dos pensamentos e pensar seriamente por poucos minutos, você vai perceber o vazio dos desejos. Pense no que você tem desfrutado todos esses anos e o que você sofreu. Tudo que você desfrutou durante a vida é hoje nulo. Tudo o que você sofreu ao longo da vida também não é nada no presente. Tudo era ilusório. É o seu direito ser feliz, e ainda, você cria sua própria infelicidade por querer as coisas. Querer é a fonte da inquietação permanente. Se você não consegue a coisa que quer, você fica decepcionado. E se consegue, você quer mais e mais daquilo e se torna infeliz. Diga "eu não quero nada" e seja feliz. A realização contínua da futilidade dos desejos eventualmente o levará ao Conhecimento. Este Auto-conhecimento dará a você a liberdade dos desejos que leva ao caminho da felicidade permanente. Os desejos devem ser cuidadosamente distinguidos das necessidades. O orgulho e a ira, a cobiça e a luxúria, são todos diferentes das necessidades. Você pode pensar: "eu preciso de tudo que eu quero", mas isso é um erro. Se estiver com sede em um deserto, o que você precisa é de água de boa qualidade e não de limonada.

Enquanto a pessoa tiver um corpo, haverá algumas necessidades e é necessário atender essas necessidades. Mas os desejos são um resultado da imaginação apaixonada. Eles devem ser escrupulosamente mortos para poder haver alguma felicidade. Como a própria essência do egoísmo consiste de desejos, a renúncia dos desejos torna-se um processo de morte. Morrer no sentido comum significa romper com o corpo físico, mas morrer no verdadeiro sentido significa a renúncia dos desejos baixos. Os sacerdotes preparam as pessoas para a falsa morte pintando retratos sombrios do inferno e do céu, mas sua morte é ilusória, pois a vida é uma continuidade ininterrupta. A morte real consiste na cessação dos desejos e ela vem por etapas graduais. O alvorecer do amor facilita a morte do egoísmo. Ser é morrer através do amor. Se você não pode amar ao próximo, como poderá amar até mesmo quem lhe tortura? Os limites do egoísmo são criados pela ignorância. Quando uma pessoa percebe que pode ter a satisfação mais gloriosa alargando a esfera de seus interesses e atividades, ele se encaminha para uma vida de serviço. Nesta fase ela entretém muitos bons desejos. Quer fazer os outros felizes ao aliviar seu sofrimento e ao ajudá-los. E embora mesmo em tais bons desejos muitas vezes haja uma referência indireta e latente à própria pessoa, o egoísmo estreito não tem controle sobre as boas ações. Mesmo bons desejos podem, em certo sentido, serem considerados uma forma de egoísmo esclarecido e estendido, pois, como os desejos ruins, eles também se movem dentro do domínio da dualidade. Mas conforme a pessoa entretém bons desejos, seu egoísmo abraça uma concepção maior que eventualmente traz sua própria extinção. Em vez de apenas tentar ser ilustre, aprisionador e possessivo, ele aprende a ser útil aos outros.

Os desejos que entram na constituição do ego pessoal não são nem bons nem ruins. Os maus desejos são normalmente referidos como formas de egoísmo e bons desejos são referidos como formas de altruísmo.
No entanto, não há uma linha precisa dividindo o egoísmo do altruísmo. Ambos se movem no domínio da dualidade, e do ponto de vista final que transcende os opostos do bem e do mal, a distinção entre egoísmo e altruísmo é principalmente uma diferença de alcance. O egoísmo e o altruísmo são duas fases da vida do ego pessoal e essas duas fases são contínuas uma com a outra. O egoísmo surge quando todos os desejos estão centrados em torno da individualidade estreita. O altruísmo surge quando esta organização bruta dos desejos sofre uma desintegração criando uma dispersão geral dos desejos, com o resultado que eles abrangem um domínio muito mais amplo.

O egoísmo é o estreitamento dos interesses a um campo limitado; o altruísmo é a extensão de interesses ao longo de um vasto campo. Colocando paradoxalmente, o egoísmo é uma forma limitada de altruísmo e o altruísmo é a expansão do egoísmo em uma ampla esfera de atividade.

O egoísmo deve ser transmutado em altruísmo antes do domínio da dualidade poder ser completamente ultrapassado. O desempenho persistente e contínuo do de boas ações desgasta o egoísmo. O egoísmo expandido e expressado na forma de boas obras passa a ser o instrumento de sua própria destruição. O bom é o principal elo entre o egoísmo prósperar e morrer. O egoísmo, que no início é o pai de más tendências, torna-se através das boas ações, o herói de sua própria derrota. Quando as más tendências são completamente substituídas por boas tendências, o egoísmo é transformado em altruísmo, isto é, o egoísmo individual perde-se num interesse universal. Embora essa vida abnegada e boa esteja também vinculada aos opostos, a bondade é um passo necessário em direção à liberdade dos opostos. A bondade é o meio pelo qual a alma aniquila a sua própria ignorância. Do bom a alma passa para Deus. O altruísmo funde-se na individualidade universal, que é além do bem e do mal, da virtude e do vício e todos os outros aspectos duais de Maya (a ilusão ou a ignorância).

O cúme do altruísmo é o início do sentimento de unidade com todos. No estado de Libertação não há nem o egoísmo nem o altruísmo no sentido comum, mas ambos são tomados e fundiram-se na sensação do 'Sentido de Ser' (Selfness) por todos. A Realização da unidade de tudo é acompanhada de paz e de alegria insondável. Ela não leva de maneira alguma nem à estagnação espiritual ou à obliteração de valores relativos. Esse (Selfness) 'sentido de Ser' para com todos traz uma harmonia imperturbável sem perda de discriminação, e uma paz inabalável sem indiferença para com o meio que nos cerca. Este (Selfness) 'Sentido de Ser' para todos não é um resultado de mera síntese subjetiva. É resultado de uma real conquista da união com a Realidade última, que inclui tudo. Abra seu coração, desenraizando todos os desejos e abrigando um único anseio, o anseio pela união com a Realidade última.

A Realidade última não deve ser procurada nas coisas mutáveis do meio externo, mas no nosso próprio ser. Toda vez que sua alma tem a intenção de entrar no seu coração humano, ela encontra a porta fechada e o interior demasiadamente cheio de desejos. Não mantenham as portas dos seus corações fechadas. Em toda parte existe a fonte da felicidade duradoura e ainda assim, todos são infelizes por causa de desejos nascidos da ignorância. O objetivo da felicidade duradoura brilha plenamente apenas quando o ego limitado, com todos os seus desejos, encontra a sua extinção completa e definitiva.

A renúncia dos desejos não significa o ascetismo ou uma atitude meramente negativa para com a vida. Qualquer negação da vida desse tipo tornaria o homem desumano. A divindade não é desprovida de humanidade. A espiritualidade deve tornar o homem mais humano. É uma atitude positiva de liberar tudo que é bom, nobre e belo no homem. Também contribui para tudo o que é gracioso e amável no meio ambiente.

A espiritualidade não exige a renúncia externa das atividades mundanas ou o evitar de deveres e responsabilidades. É necessário apenas que, durante a realização das atividades mundanas ou o cumprimento das responsabilidades decorrentes do lugar específico e da posição do indivíduo, o espírito interior deve permanecer livre do fardo dos desejos.

A perfeição consiste em manter-se livre dos embaraços da dualidade. Essa liberdade dos embaraços é o requisito mais essencial da livre criatividade. Mas essa liberdade não pode ser alcançada ao fugirmos da vida por medo de nos embaraçarmos. Isso significaria a negação da vida. A perfeição não consiste na diminuição das expressões duais da natureza. A tentativa de escapar do emaranhamento implica medo da vida. A espiritualidade consiste em enfrentar a vida de forma adequada e plenamente, sem ser dominado por opostos. É preciso afirmar a sua soberania sobre todas as ilusões, não imposta o quão atraentas ou potentes. Sem evitar o contato com as diferentes formas de vida, um Homem Perfeito funciona com desprendimento completo no meio de intensa atividade.

Meher Baba
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